O MELHOR DE NÓS

Tutto o niente

Estacionamentos escuros me lembram filmes de terror, e eu odeio filmes de terror. Já foi um ou outro que me assustou. Filmes da vida reais acontecem diariamente, mas são muito piores, e muito mais perturbadores. O problema é que ninguém quer falar sobre, e a sociedade fecha os olhos perante muitas coisas, o que me leva acreditar que a maioria não tem salvação.

Talvez não seja o momento para refletir, já que tem uma festa que pode acarretar na capa de várias revistas, o que nos proporciona cada vez mais dinheiro, mas é que o que tem lá dentro é nojento.

Essa noite eu terei que ser uma atriz, fingir sorrisos, escutar cantadas baratas, propostas para dormir com alguns deles e principalmente ouvir coisas machistas e nojentas da boca de velhos imundos e homens midados que acham que dinheiro define caráter. Só de pensar automaticamente fico frustrada.

Inspiro o ar frio que vêm do ar-condionado do meu carro, deixando o ambiente totalmente quase congelante. É agora. Impulsiono a trava, e abro a porta, me estico pegando minha bolsa no banco ao lado. Tudo escuro. Desligo o carro e ligo a lanterna do meu celular. Que droga. Tenho pavor de escuridão.

Passos rápidos se aproximam do meu corpo. É nesse momento que eu praticamente corro para onde pode ter um fio de luz.

Saltos de merda

Uma mão forte agarra minha cintura, dou uma cotovelada no estômago da pessoa. Ouço um urro de dor.

Adrenalina se mistura com sangue em minhas veias. Olho para trás e me arrependo amargamente de ter dado a cotovelada.

Mesmo que eu não goste muito de Lion, ele não merecia apanhar por todo o rabo preso que eu tenho.

— Cazzo — Essa é a primeira palavra que vem na mente — Você pediu para apanhar. Onde já se viu correr atrás de uma pessoa em um estacionamento escuro? Vem, deixa eu te ajudar.

Mesmo que ele tenha no mínimo 1,93 e eu 1,65 consigo passar seus braços atrás de meus ombros. Homem pesado. O levo até um banco de frente para a empresa, Lion está tentando recuperar o ar que lhe foi tirado pela cotovelada.

Ainda com toda essa situação eu ainda consigo reparar que ele está um gato. Terno preto, uma gravata azul, os cabelos para trás e uma rosa brega no bolso do blazer. Arrumado como de costume.

— Fala comigo por favor, eu não quero ser acusada de assassinato — Estremeci com a hipótese novamente. Lion aponta para a boca, como se pedisse que eu fizesse uma "respiração boca a boca" — Não, isso não vai acontecer, vou chamar algum dos seguranças para te ajudar.

Do nada ele se levanta e pigarreia — Olha estou bem melhor — Tossiu falsamente — Foi apenas um susto. E alias onde você aprendeu a dar uma cotovelada dessas? Caralho, minhas costelas ainda estão doendo.

— Eu deveria ter arremessado minha perna nas suas bolas. Que merda você fazia no estacionamento sozinho?

— Estava te esperando. "Não se atrase, teremos que entrar juntos.". Foi isso que você decretou, lembra? — O feitiço virou contra a feiticeira.