⚠️⚠️⚠️⚠️⚠️⚠️ Gatilho, cuidado! ⚠️⚠️⚠️⚠️⚠️⚠️
1739
Estava na pequena sala de música em minha casa, o lugar favorito de minha pessoa e da minha esposa onde costumávamos passar todo o tempo livre que tínhamos juntos. Eu tomando um copo de Whisky do mais caro e forte e ela tocando suavemente uma melodia que vinha diretamente de seu coração. Pelas notas eu sabia qual era seu humor, pois ela transmitia tudo para o piano negro que ficava encostado no canto do local.
Não sou do tipo que acredita em histórias, mas se realmente existe essa coisa de "alma gêmea" tenho certeza de que éramos isso, sem sombra de dúvidas.
Eu olhava aquele maldito piano e mesmo que minha visão estivesse totalmente embaçada pela garrafa que eu já havia consumido quase inteira eu sabia que não tinha ninguém o tocando, sabia que nunca mais alguém iria tocá-lo e aquilo me enfurecia. Mais uma vez senti as lágrimas que insistiam a ficar escorrendo por horas e horas dos meus olhos e eu não tentei as deter por nenhum momento daquela vez.
Mas... Esse não é o começo da história.
Horas antes.
Eu me encontrava andando de um lado para o outro igual louco em frente a porta do nosso quarto.
Estava estressado, com medo, ansioso, nervoso e com muitos outros sentimentos que não consegui listar na hora, pois nem mesmo sabia que era possível um ser humano sentir tantas coisas ao mesmo tempo, deveria ter imaginado antes que sim, então talvez não houvesse passado tamanha agonia.
Mas devo dizer que talvez nunca teria coragem de passar pelo o que minha esposa estava sentindo dentro do local. Eu conseguia ouvir perfeitamente todos os seus gritos de dor durante o difícil trabalho de parto da nossa filha. Soubemos desde o início que seria uma gravidez de risco pelas condições em que o nosso país se encontrava, mesmo quem tinha dinheiro como nós não estava a salvo e tudo que a gente menos queria era...
Esses meus pensamentos ruins não me levaram ao bom caminho.
Algumas horas depois toda a casa ficou extremamente silenciosa fazendo com que um fio de suor frio escorresse pela minha espinha com a antecipação do momento. Uma das escravas que estavam lá dentro a ajudando a parteira abriu a porta de cabeça baixa com uma feição triste.
Não sou do tipo que machuca as pessoas por nada, principalmente mulheres, mas minha reação foi praticamente automática.Empurrei a jovem mulher de frente da entrada do cômodo apenas para poder ver acena mais triste de toda a minha vida. Meus olhos se arregalaram um segundo após perceber que nem minha esposa e muito menos minha filha se mexiam, choravam ou respiravam.
Fui ao lado da cama e cai de joelhos no chão tão gelado quanto a mão das duas pessoas mais importantes da minha vida que agora não tinham vida nenhuma igualmente como meu coração. Dispensei todos que estavam trabalhando em casa para os aposentos que as eles foram resignados.
Eu não conseguiria viver... muito menos ali... sabendo que tudo que eu mais amava estava, naquele exato momento, morto na minha cama. Meus sonhos, minha felicidade, minhas esperanças, meus desejos... Tudo fora perdido em menos de seis horas...
Não dava para ficar assim, existir em um mundo assim.
Me levantei devagar e aí sim, fui para a sala de música.
Dois dias depois do enterro de sua filha e sua esposa.
Eu estava no mesmo lugar...
Sentado...
Olhando o piano desgraçado que eu ouvia tocar na minha mente a melodia mais triste de toda a minha vida, se ela ao menos estivesse viva provavelmente estaria tocando a música da minha mente. Na minha canhota estava com outra garrafa do meu estoque de Whisky, já não me importava mais as consequências que aquilo traria para minha vida, nada fazia mais sentido.
E foi com esse pensamento que segurei com firmeza minha arma na destra, estava decidido acabar com o meu desespero e minha tristeza imensurável.
Eu a apontava na cabeça, depois no peito, na barriga...
Não conseguia achar um lugar que eu achasse digno de morrer por elas terem ido em vez de mim. Então em um momento de coragem me levantei indo diretamente ao piano, mal conseguia sentir o chão aos meus pés pelo efeito da bebida e talvez fosse ela que me levou até aquele momento inevitável.
Sentia algo perto de mim assim que encostei no objeto com o meu corpo pesado. Essa coisa era como um toque macio e delicado, repeti milhões de vezes a palavra desculpa antes de destravar a arma. O toque macio virou um aperto aconchegante me levando para a imensa escuridão quando eu enfim apertei o gatilho.
1998
Era hora. A minha hora de voltar para a Terra.
Deus finalmente havia "me perdoado" pelo o grande pecado que eu havia cometido. Antes de poder estar vivo em outra vida, eu cuidava de algumas crianças como um anjo da guarda – para os que acreditam, mas para quem não acredita, eu era o "amigo imaginário".
Era ótimo poder ficar perto delas, cuidar e brincar. A parte ruim era quando elas cresciam que eu tinha de me afastar, mas agora eu tinha a esperança de poder brincar com muitas crianças, mesmo que não lembre desses pensamentos quando voltar ao mundo.
Eu sentia a felicidade de minha mãe por me ter ali e o quanto ela ficava brava comigo – não de verdade, carinhosamente dizendo – por eu chutá-la, mas acabava sendo engraçado, o que mais eu poderia fazer dentro do útero dela? Meu pai não gostava de mim... eu tinha certeza disso, então eu dormi para não incomodar os dois.
Então você me pergunta, como sabe o que fazia lá? Então...
Depois de minutos após cair no sono, senti muito frio e algo molhado e logo algo me sufocando, quando percebi... estava de novo no céu... olhando para a alma da linda mulher que ia ser minha mãe, ela me observava antes de estar inconsciente...
Às vezes eu sinto falta dela mesmo sem a conhecer propriamente, porém, é só olhar para a America que consigo ver a mulher linda e incrível que ela era...
Amy sente a falta dela literalmente todos, mesmo sem a conhecer também. eu diria que a ligação delas é muito além da coisa carnal de ser a mãe dela. Agora eu cuido da America daqui de cima, esperando o dia que poderemos – finalmente – estar todos juntos.
Esse é o meu maior sonho...
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America.
FantasyNinguém acreditaria se eu não contasse, então é exatamente o que vou fazer. Essa é a história da minha vida contada por lembranças e histórias passadas para mim de minha família. Como toda boa história de vida não existe só o lado fácil e belo, e vo...