— Meus deuses, é só o quarto dia aqui e esse lugar já se tornou um verdadeiro saco, se eu soubesse disso antes não teria nem cogitado em me mudar pra cá! — Revirei os olhos resmungando enquanto andava segurando meu material pelos corredores do "colégio" indo em direção da secretaria para deixar uns papéis.
Eu tinha me mudado a pouco tempo para lá, para ver se tinha uma vida melhor do que a qual eu tinha antes solta pelo mundo, mas tudo que eu fazia era estudar, estudar e estuda. O que não era ruim, porem parando para pensar, que mais eu poderia fazer morando em uma escola? Infelizmente eu sentia falta da ação e da diversão que eu tinha.
Deixei toda a papelada que me pediram no balcão ao lado de um rapaz alto que estava de costas para ele. Ele me segurou pelo braço quando estava indo embora do local, respirou fundo e olhando diretamente nos meus olhos disse:
— Me desculpa interromper o que quer que estava indo fazer, mas poderia nos ajudar a encontrar nossos quartos? — Mesmo tendo a maior calma do mundo para falar comigo dava para ver raiva e decepção no seu rosto, provavelmente por não ter sido atendido por ninguém ali do mesmo jeito que a maioria dos alunos, inclusive eu.
O garoto tinha um estilo meio emo, mas diferente da maioria os meninos que se vestiam assim no campus ele não parecia fingir não ter alma para chamar atenção das meninas. Era alto e pouco musculoso, sua calça jeans era colada nas coxas e carregava algumas correntes que combinava com sua jaqueta de couro com spikes no ombro. Nos pés estava com uma bota que parecia tão pesada que eu provavelmente teria problema de andar com elas, porem ele não parecia nem um pouco abalado.
Ao lado dele tinha uma garota de cabelos castanhos que pareciam ouro nas partes em que a luz tocava, ela muito mais baixa que o menino e pouco até mesmo de mim. Desde que ele me parou a menina não tirou o sorriso do rosto, suas bochechas estavam avermelhadas e ela parecia muito feliz apesar da situação chata. A pequena ajeitou seu casaquinho cor creme nos braços e nos ombros apenas para pegar sua mochila do chão e posicionar no local.
Como já estava a caminho do dormitório fingi ser legal uma vez na vida, assenti algumas vezes com a cabeça antes de apontar o lado pelo qual ia seguir, apenas um convite para que viessem junto, então voltei a andar em silencio. Eu não era muito sociável, porém não custava fazer algo que já tinham feito por mim, não é?
O lado de fora que tinha um trajeto direto para o prédio estava batendo uma brisa leve, porem gelada o suficiente para que me fizesse tremer e arrepiar na hora por estar usando apenas uma regata preta e uma legging da mesma cor.
A menina de cabelos de ouro tirou sua mochila do ombro e praticamente jogou para o mais alto que segurou com uma expressão confusa. Sua reação sumiu assim que ele viu a mais baixa tirar seu casaquinho e jogar em cima dos meus ombros. Dei um sorriso verdadeiro para a garota que me olhava satisfeita.
— Então, qual é o nome de vocês? — Perguntei alto o suficiente para que o emo saísse de seus pensamentos e focasse na conversa para ao menos responder.
— Muito prazer, eu sou Ally. Apenas, Ally. — Ela estendeu a mão na minha direção com um sorriso de orelha a orelha e eu a apertei sorrindo contagiada pela presença calorosa dela — e o seu?
— America, alguns me chamam de Amy. É um prazer te conhecer também. — Ela bateu palminhas dizendo que achou meu nome lindo. Logo a felicidade e empolgação toda acabou quando me virei para o menino ao meu lado com uma sobrancelha arqueada esperando sua resposta.
— Fernando. Poderia me explicar sobre as coisas daqui? Como funciona tudo e essas coisas chatas. — A pergunta dele me fez suspirar por ter que lembrar de tudo que eu havia escutado tanto dos superiores quanto dos alunos, também conhecido como fofoca.
Eu expliquei tudo pelo caminho até os quartos que eram separados por um andar meninos e um meninas. Por sorte Ally ficou no mesmo andar que eu, depois que deixei tanto Fernando quanto ela em seus respectivos quartos fui direto ao meu onde joguei meu material em qualquer canto e me deitei no sofá.
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Os dias foram se passando e nós nos víamos todos os dias no meu quarto/clubinho dos mortos de fome onde comíamos doritos com milk-shake rindo de baboseiras do nosso passado totalmente ruim ou constrangedor. Das fofocas do colégio e dos possíveis crushs que surgiam por lá que nunca iriamos falar com os mesmos por vergonha.
Não tinha percebido o quão rápido tinha ficado próxima deles, principalmente de Fernando que geralmente ficava mais tempo no meu quarto para ficar conversando, jogando vídeo game ou apenas estudando em silencio.
Mas um certo dia Fernando decidiu ficar até mais tarde alegando querer conversar comigo em particular. Tudo corria bem, ficamos falando de coisas aleatórias como teorias do universo e coisas que gostávamos que não eram comuns para os outros, mas a gente se entendia de uma maneira indescritível.
Por puro costume peguei meu caderno de desenho e um lápis de dentro da minha bolsa enquanto o mais alto que estava deitado no sofá falava e ria de uma situação de vergonha que tinha passado. Meu sorriso foi aumentando conforme a história ia sendo contada, até umas risadinhas nasaladas saiam no auge da lembrança, porem eu estava muito concentrada no esboço que estava fazendo.
Fernando deixou seu copo vazio na mesinha de centro que tinha em frente ao sofá no mesmo tempo que me levantei para deixar o caderno perto da porta do meu quarto, onde havia vários outros por preguiça minha de arrumar tudo por data. Quando fui passar pelo garoto, ele segurou meu pulso me impedindo de sair do local.
Eu não sei quanto tempo a gente passou se olhando, creio que isso nem importa pois o que veio a seguir mudou toda minha vida.
O garoto se sentou no sofá e me puxou pela cintura pra cima de si para que eu me sentasse no seu colo. Seus dedos foram para a minha nuca entrando lentamente nos meus cabelos onde ele puxou levemente. Em questão de segundos seus lábios macios estavam nos meus e mesmo o beijo sendo lento era tão intenso que mandava arrepios por todo meu corpo.
Aquele dia foi incrível, aconteceram muitas coisas boas, mas isso é história para outro dia.
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America.
FantasyNinguém acreditaria se eu não contasse, então é exatamente o que vou fazer. Essa é a história da minha vida contada por lembranças e histórias passadas para mim de minha família. Como toda boa história de vida não existe só o lado fácil e belo, e vo...