2008
Minha história começa em uma noite mais do que comum da minha vida, em uma chatice total e silenciosa. Estava sentada no piso gelado me forçando a ficar calma e concentrada pois nesses momentos aproveitava para meditar para a lua, mas naquele dia minha ansiedade não me permitia ficar centrada no meu objetivo.
Não havia nada de novo para fazer na pequena casa em que eu morava e minha "mãe" tinha acabado de ir dormir.
Todos os dias a pequena senhora que cuidava de mim me dava aulas de como me controlar ao usar meus dons, e nesse dia ela estava particularmente cansada depois de me ensinar novamente a não pôr fogo na casa toda por acidente enquanto brincava na lareira.
Como se eu - covarde da maneira que eu era - fosse capaz de matar qualquer alma viva, até mesmo as moscas riam de mim quando passavam por perto da minha cabeça.
Era como se falassem "Olha, é a menina que tentou matar a Formitrudes ontem, a Fermi ainda conseguiu dar uma picada ela, acredita?"
Eu era o ser mais patético da face da Terra, e olha que eu morava no mesmo planeta que as pessoas que se matavam com bombas no corpo para proteger o seu ideal do "Deus" que pedia para que o eles fizessem, mas isso não vem ao caso.
Cansada de não fazer nada me levantei do chão com as pernas formigando pela má circulação e fui para a sala na esperança de ter algo divertido para fazer na calada da noite. Olhei pela janela que dava para a rua e fiquei observando por um tempo todas as casas com as luzes apagadas. Meus olhos foram direto para o calendário entre a porta e a janela em que eu estava, quinta-feira, então soube que todos tinham ido para a tal reunião de bairro.
Minha mãe nunca ia pois para ela era "um desperdício de tempo em que poderia estar dormindo em paz".
Sempre fui curiosa, queria saber o que acontecia lá e participar de qualquer que fosse o motivo daquilo, mas ela nunca me contou e depois que ficou brava de tanto eu perguntar nunca mais toquei no assunto.
Ali era como um lugar que nunca evoluiu, a mais antiga França que já conheci, não tinha nada eletrônico e se entrasse qualquer coisa mais nova no local que não fosse um rádio velho eles jogavam fora, então acho que dá para entender em certo ponto.
Depois de ficar entediada também observando as casas e com meus próprios pensamentos, fui direto para a lareira e sentei-me em frente a mesma ajeitando meus cabelos ruivos como fogo em um coque no alto da cabeça. Lembrei do que a mais velha havia me falado de manhã, "é só ficar calma e abraçar a brasa dentro de você que tudo flui sem perigo".
Foi exatamente o que fiz, respirei fundo esticando a mão para as madeiras recém colocadas dentro da pequena caixa de tijolos e em alguns segundos senti um calor acolhedor na minha frente. Quando abri os olhos vi as madeiras pegando fogo, uma enorme vitória! America 1 x Fogo do mal 0.
Queria acordar a mamãe porém eu sabia que ela ia me mandar dormir já que tinha que acordar cedo para ir à escola, não entendia o motivo disso se aprendia de tudo em casa, mas se eu tinha de o fazer não contestaria, fiquei apenas em silencio mexendo minha destra na frente do fogo para que as labaredas do fogo dançassem no ar.
Algum tempo depois – não sei quanto pois parei de prestar atenção no relógio – ouvi batidas fortes na porta do cômodo, meu coração disparou e o fogo se apagou com o mesmo medo e ansiedade que eu estava sentindo quando engatinhei para trás do sofá.
Peguei uma das espadas que meu vizinho tinha me dado da sua coleção antiga pouco antes de ele falecer. Ele dizia que era abençoada pelos deuses, igual a mim, porem até eu aprender direito o que estava acontecendo comigo eu achava que era uma maldição que ele tinha me jogado.
Mais e mais e mais batidas vieram momentos depois, a cada parada que davam as batidas iam ficando mais fortes, minha mãe se levantou apenas de camisola e seus longos cabelos negros caídos nos ombros cansados, creio que nunca vou me esquecer daquela cena...
Quando ela abriu a porta aquela coisa grande e com armadura escura como a noite que estava na frente dela atravessou a mão pelo abdômen frágil da pequena senhora com um soco.
Ter a visto morta no chão me fez soltar o maior grito que já tinha dado em toda minha vida, minha espada brilhou em um vermelho alaranjado como o pôr do sol e foi ai juntei toda a coragem que tinha e corri até a coisa com a espada na mão, tive tempo apenas para cravar o objeto em seu peito para ganhar uma vantagem pra que eu conseguisse fugir de lá o mais rápido que podia em direção a floresta que eu conhecia bem por ter treinado lá também.
Tudo que eu conhecia tinha sumido em menos de um minuto, todas as pessoas que eu amava tinham morrido e eu não tinha mais para onde ir, mas não parei nem por um segundo entrando sem medo por meio das arvores. Não parei para pensar no que estava acontecendo, no que eu provavelmente faria dali pra frente, muito menos em como seguiria a vida sozinha aos 12 anos...
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America.
FantasíaNinguém acreditaria se eu não contasse, então é exatamente o que vou fazer. Essa é a história da minha vida contada por lembranças e histórias passadas para mim de minha família. Como toda boa história de vida não existe só o lado fácil e belo, e vo...