Capítulo 3

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"O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer."

- Albert Einstein.

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Depois daquele fatídico dia, os abusos passaram a ser frequentes. A noite passou a ser meu pior pesadelo. Não importava se trancasse a porta, não importava se me escondia, não importava gritar... tudo era em vão.

Depois de um tempo comecei achar que a culpa era minha, que em algum momento eu mereci aquilo. Que sim... eu havia dado motivos. Não conseguia mais achar outra linha de raciocínio. Ele reforçava tanto isso que passou a ser a minha verdade.

Foi um ano... um ano morrendo mais e mais por dentro. Eu já não me reconhecia mais, estava totalmente sem vida. Cabelos secos, pele sem cor, extremamente magra e com milhares de ematomas pelo corpo. Sabe o pior? ninguém parecia notar e se notavam... pareciam não se importar.

O mal do mundo é a falta de empatia.


Flashback
31 de julho de 2016


Acordo com dores em todo meu corpo. Eu já não aguentava mais, minha garganta estava seca de tanto gritar, meus olhos inchados de tanto chorar... a vida é tão injusta.

Levanto da cama com dificuldade e caminho em direção ao banheiro. Necessitava de um banho, eu me sentia suja, nojenta, imunda até a alma.

As hora debaixo do chuveiro não pareciam fazer diferença. No banho sempre estava eu e meus pensamentos e nas lágrimas silenciosas todos os meus sentimentos.

Saio do banho e coloco um vestido larguinho. Não estava com vontade de comer por mais que me sentisse fraca. Vou em direção a cama e me deito puxando minhas pernas em direção ao meu peito, as abraçando. Logo sinto mais uma vez as lágrimas descendo pelo meu rosto - meu Deus, por quê? - digo soluçando e colocando minhas mãos em meu rosto. Todo o meu corpo tremia. Minha dor me corróia a alma.

Depois de longos minutos chorando, caio no sono. Quando finalmente abro os olhos, percebo que já esta escuro novamente. Estava virando algo comum perder dias... eu não me importava mais. Não havia mais vida em mim.

Saio de meus devaneios quando escuto a porta da sala sendo aberta. Meu pesadelo havia chegado.

- Querida? - Ouço seus passos na escada e logo a porta de meu quarto é aberta. Me encolho na cama - estava chorando? Por que, meu amor? Hm? - ele vem em minha direção e se senta na cama. - está cheirosa! - diz pegando uma mecha de meu cabelo e levando ao nariz. Me encolho ainda mais - se preparando para mim? Hm? RESPONDE! - ele grita e aperta o meu rosto. Sobressalto e arregalo meus olhos, que logo se enchem d'água.

- por favor... - minhas lágrimas descem grossas em minha pele. Ele me olha nos olhos por mais alguns segundos e se levanta indo em direção a porta, por um momento penso que ele iria embora... Mas ele apenas a tranca e se vira em minha direção novamente começando a retirar suas roupas. Começo a soluçar alto e negar com a cabeça.

- cala a boca - ele diz com raiva, se jogando em cima de mim - seu choro está me irritando - apenas choro ainda mais. Isso o tira do sério de vez, o fazendo levar uma de suas mãos para a minha boca. Quando ele a aperta eu o mordo com força.

- vagabunda! Vai aprender a nunca mais fazer isto! - começo a me debater em seus braços, mas ele me força contra a cama levando suas mãos ao meu pescoço o apertando. Começo a me debater mais e mais. Acabo desferindo tapas e chutes nele e isso só o faz colocar mais força.

Eu estava ficando sem ar.

Meus olhos se enchem d'água a medida que ele mais aperta. Então era isso... A morte por alguns instantes me pareceu a melhor saída. Era ela a minha salvação, minha liberdade.

Em determinado momento meu chute o atinge em suas partes baixas e com isso ele cai para o lado gemendo. Viro para o lado contrário, começando a tossir levando minha mão ao meu pescoço, eu puxava o ar com tanta força que minha garganta queimava.

- vagabunda - ele rosnava no chão - eu vou te matar - diz se levantando em um salto e vindo em minha direção como um leão. Naquele momento meus instintos gritaram, toda a minha fraqueza foi substituída, eu sentia a adrenalina correndo em minhas veias.

Em um movimento rápido peguei o primeiro objeto que minhas mãos alcançará e com toda a minha força taquei em sua cabeça. De imediato ele caiu na cama e vi o sangue saindo de sua cabeça. O abajur de minha escrivaninha estava totalmente em pedaços em sua cabeça.

Minha respiração estava descompassada, estava em choque! Mas em minha mente um pensamento se repetia em loop: Eu precisava sair dali.

Continua...

Luz LunaOnde histórias criam vida. Descubra agora