"Jamais, em todo o mundo, o ódio acabou com o ódio, o que acaba com o ódio é o amor.
- Buda
****
- Luna, olha só o seu dedo! NÃO PARA DE SANGRAR! - eu só sabia rir de sua cara que era de puro horror.
- Chel, foi só um cortezinho... O que eu não consigo entender é como um policial não aguenta ver sangue. - digo em um tom de negação enquanto lavava o dedo na pia.
- Não é isso... - o olho desconfiada - eu só acho que sangue não estava na receita. Por que você tinha que inventar de bancar a cozinheira logo cedo? - ele falava esbaforido.
- Não tive culpa, a faca simplesmente escorregou. - falo procurando um band-aid nas gavetas - está branco ainda - solto mais uma gargalhada quando o olho novamente - que molenga! - digo em um sussurro.
- o que? - ele lançou um olhar mortal em minha direção. O vejo se levantar sorrateiramente da cadeira me fazendo arregalar os olhos e quando ele ameaçou vir em minha direção sai correndo.
- Luna Klein, volte aqui! - ele gritou enquanto corria atrás de mim.
- Nem morta! Eu tenho medo de você! - Quando ia abrir a porta do quarto ele me alcança me prendendo em seus braços.
- E agora senhorita, o que eu faço com você? deixe-me pensar... - eu estava com os olhos arregalados, realmente tinha medo dele. - Ahaaa, já sei! - antes que pudesse raciocinar fui colocada em suas costas, comecei a me debater tentando a todo custo me soltar, sem sucesso é claro. Só tive tempo de dar uma golfada de ar antes de ser engolida por um monte de água. Ele realmente me jogou na piscina?
- você não fez isso - disse entredentes quando voltei a superfície. Agora quem se acabava de rir era ele. - Michael Galvão, EU VOU TE MATAR - antes que eu pudesse sair da piscina o interfone tocou. - Salvo pelo gongo! - bato as mãos na água.
- peixinho, eu vou indo... Hoje vou correr na praia com o pessoal da academia de Polícia. Até mais tarde, tenha um ótimo dia. - disse me dando as costas com um sorrisinho na cara. Não pude evitar sorrir, era impossível ficar brava com ele. Eram essas pequenas coisas que deixavam meus dias diferentes, um diferente maravilhoso.
Michael tinha agora 22 anos, se passaram dois anos desde o dia em que nos conhecemos, depois daquele dia minha vida tomou outro rumo. Ele, apesar de não me conhecer quis me ajudar, foi e é agora o meu abrigo. Esses dois anos que se passaram não foram fáceis, enfrento meus demônios até hoje.
Agora com meus 20 anos, estava em uma nova etapa em minha vida, uma etapa em que eu estava feliz.
Não esqueci o passado e nem devo, querendo ou não ele faz parte de mim. Eu apenas aprendi com ele, aprendi a lidar e o principal: aprendi a perdoar. Me lembro muito bem de como me senti depois da dolorosa notícia, me lembro do meu pai, me lembro da solidão, me lembro de tudo...
Hoje eu sei que somente os verdadeiros solitários compreendem a solidão e toda a dor e escuridão que ela carrega.
Sei que ela está escondida dentro de nós, esperando a hora de sair, sendo ativada por um gatilho que surge principalmente na tristeza. A escuridão vem daí, uma hipótese é claro, um mero pensamento. Ninguém está imune e nunca estará, quando menos esperarmos ela pode atacar.
Por tempos tive diversos pensamentos turbulentos e em muitos momentos só desejava o mal a ele, ao meu "pai". Pensei que ele teria mais utilidade morto e no quanto que eu adoraria que ele trocasse de lugar com minha mãe. Mas eu aprendi que suportar a pressão desse mundo não é para todos, os fenômenos deste mundo são cruéis e o que nos define é como lidamos com eles. Eu não precisava de mais ódio e por isso o perdoei, perdoei não por ele e sim por mim, pela a minha sanidade.
Me orgulho por conseguir voltar a pensar no futuro e apreciar o presente. Já dizia um sábio: "o único que pode acabar com o ódio é o amor", e hoje, eu tinha certeza que sim.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Luz Luna
Romance"Porque você se foi mamãe ? papai precisava de você aqui. Eu precisava..." Luna se vê perdida sem ter em quem se apoiar após a morte de sua mãe, seu pai que era o seu porto seguro, passou a ser o seu abismo. Seus dias passaram a ser escuros, dias...