O veneno de Deus

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- Eu não lembro muita coisa do passado, pra ser sincero lembro apenas o que mais marcou. A dor. Isso mesmo, a dor. Essa sempre deixa a sua marca. Fui criado com uma língua felina, minha mente astuta era rápida e direta.

- E você sabia lutar?

- Claro que sim. Nós fomos criados como protetores, mas assim como cada um de nós tem um proposito eu tinha o meu. Gabriel era o Anjo da Morte, Miguel o Anjo da guerra. Eu não era exatamente o anjo de alguma coisa, mas meu nome tinha um significado que descrevia exatamente a minha função. Eu era o veneno de Deus. Minha missão era enredar e convencer, era um diplomata e também um enganador.

- Mas espera ai. Esta me dizendo que você foi criado pra enganar? Isso não existe no céu.

- Fui criado com um proposito, e nos não podemos fugir disso. Mas bem, como eu dizia. Fui criado como um guerreiro e minha função era ser o guardião, respondia apenas a um general e esse era Helel, hoje vocês o conhecem como Lúcifer. Algum tempo depois de minha criação percebi que meu general tinha se tornado triste e cabisbaixo. Helel sempre transmitia felicidade por onde passava, era poderoso, mas sempre foi humilde e por isso muitos estranharam a sua revolução. Acreditávamos que o Céu era um lugar agradável, o amor de Demiurgo nos bastava pra dar força e fé, e nós acreditávamos que nosso amor era o bastante.

- E não era?

- Hoje acredito que não. Ele chamou apenas alguns de nós, príncipes e nos contou que criaria um ser semelhante a ele, e que esse ser herdaria o reino que ele estava disposto a criar. Foi uma comoção geral. O Anjo da Verdade e o Anjo da Fé foram os primeiros a questionar. Eles exclamavam sem medo que a ideia não era boa e que tínhamos direito de herdar o que era de Demiurgo, éramos seus primeiros seres. Mas o clamor deles foi sessado. Quando Helel me procurou ele disse que ia se rebelar, que não aceitava a ideia de um ser que foi feito de barro estar acima de nós. Ele me contou que já havia conversado com o Anjo da Verdade e o da Fé e que eles haviam se aliado a ele. Perguntou-me se eu me dispunha ajudar. Então me coloquei a seu dispor, contanto que ele me contasse a verdade. Eu sabia que ele não era orgulhoso a esse ponto e também ele foi junto com seu irmão os primogênitos, ele não se rebelaria contra o pai.

- E ele contou?

- Sim. E por isso aceitei o fardo. Eu tinha que cumprir minha parte e ela começou assim que fui chamado pra guardar a arvore do conhecimento. Em forma de serpente, esperei até o momento oportuno. Convenci Eva de que se ela comesse do fruto ela e Adão seriam como Deus. E que filho não quer ser como o Pai.

- Mas por que mentiu? Que eu me lembre anjos não podem mentir.

- E não menti. A humanidade é como Deus. Eles criam seres o tempo todo. Modificam o mundo ao seu bel prazer. Nós construímos cada parte desse planeta sabia? Cada rio, cada nuvem. Até Adão, ele foi nossa obra mais perfeita. Mas eles nos traíram. Sempre nos traem. Mas voltemos a historia. A partir da queda, comecei a acompanhar a humanidade e ver o seu progresso. A primeira mentira, já que o Anjo da Verdade já estava morto, nada podia impedi-los de mentir. A primeira traição e o primeiro assassinato. Não concordava com o que via, não podia aceitar isso tudo. Helel havia me falado de rebelião e me dispus a ajudar, não por que era meu general, mas sim por que vi que ele estava certo. A humanidade munida do poder da Fé começou a criar. E suas criações passaram a existir. Criaram fadas e monstros. Mas sua criação mais terrível foi Satan. Um ser oposto a Demiurgo e que tinha seu próprio exercito de demônios para que enfrentássemos, transformando tudo em uma grande algazarra.  Fui mandado junto com Samyaza e Azazel, além de alguns outros para servirmos como guardiões dos homens. Foi quando eu a conheci.

- Fala de Betânia não é?

- Sim, a primeira pessoa que me mostrou um amor diferente do que eu sentia pela humanidade e por Demiurgo. Ela me mostrou o amor dos homens. E foi assim que me apaixonei, e não só eu, como também Samyaza e Azazel. E então começaram o tempo das atrocidades. Tivemos filhos, todos nos. Porem as crianças refletem o interior de seus pais. Nem todos os humanos eram inocentes. Nem todos os anjos eram bons. E desses seres cruéis nasceram os gigantes, enquanto de nos que tínhamos bom coração nasciam os Nephalins. E assim era o meu filho, um garoto, um Nephalin. Éramos felizes. Mas Demiurgo se desagradou dos homens e decidiu que ia destruir todos. Com medo de perder minha família subi ao Céu. Me disfarcei de demônio e assumi o nome de Mastemas. Convenci o Criador a poupar um terço dos demônios e o direito de estar a bordo da arca que salvaria um de seus justos. Mas quando voltei já era tarde.

- Sua família havia sido morta.

- Isso mesmo. O Criador ordenou a morte de todos os Nephalins e a prisão no deserto de Dudael aos anjos que foram progenitores desses híbridos. Minha família foi atacada enquanto eu estava fora. Betânia não era uma guerreira e meu filho era apenas uma criança. Não tinham como sobreviver. Disfarçado de serpente mais uma vez, escondi-me na arca e esperei o fim do Diluvio, para resgatar os meus irmãos.

- E conseguiu?

- Bem, comecei a formar alianças com as criações dos homens. Vampiros, lobisomens, fadas e aparições. Fui a cada um deles e ofereci os meus serviços. Assim ganhei os mais fortes aliados. Primeiro firmei aliança com Cain, o primeiro imortal. Esse mesmo, que assassinou seu próprio irmão. Foi amaldiçoado por Demiurgo a vagar eternamente, ele o primeiro vampiro teve de mim 100 de servidão para se aliar aos anjos caídos. Depois fui até os lupinos, o primeiro havia sido criado pelo sangue que foi derramado por Cain, e seu nome era Fenrrir. Ao ver mais força em minha jornada procurei Abel, no mundo dos mortos e encontrei sua alma lamentosa a questionar seu fim. Em troca de sua ajuda ofereci descanso e ele aceitou, assim tinha ao meu lado as aparições.  Por fim fui ate Titânia, A rainha das fadas e fiz minha proposta, encontrei-a ela estava na forma da jovem, em seu ventre estava para nascer aquela que seria sua filha com um humano. Porém era época de guerras entre o Sonhar e o Reino dos Pesadelos, além da perseguição incessante dos anjos, eu  ofereci minha força na guerra, porem ao ter aquela criança nos braços percebi que tinha algo ainda mais forte do que qualquer aliança. Era algo que havia sentido apenas por Betânia, pois ao tocar aquela criança vi o futuro e um novo motivo.

- O que esta querendo me dizer?

- Calma a historia esta quase no fim. Titânia e os outros sobrenaturais me ajudaram no resgate dos meus irmãos. Assim que fomos bem sucedidos foi firmada uma aliança poderosa conhecida como Irmandade Mitológica. Em recompensa a Titânia, abri um portal aleatório e sua filha encontrou um corpo humano assim como o seu.

- Então estamos indo até ela reavivar a Aliança.

- Não dessa vez meu jovem Gênese.

Samael caminhou com calma até a jovem que estava caminhando a seu lado. Dentro de seu amago se sentia mais leve por ter contado uma parte da sua historia a seu novo irmão.

A garota de pele alva sorriu sem graça quando ele esticou sua mão e disse:

- Olá princesa. Meu nome e Samael.

- Não sou princesa  disse ela corando com suas palavras  Mas me chamo Rizziely.

- Bem Rizziely, pra mim será sempre uma princesa. Agora me responda uma pergunta sim?

- Claro.

- Você acredita em amor a primeira vista?

Crônicas do Céu e o InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora