O Acidente

214 19 10
                                    

POV Lauren

Pra trigêmeas, eu e minhas irmãs somos bem diferentes, tanto na parte física, quanto no comportamento.

Dinah é alta, loira, pele caramelo, olhos castanhos e é a comediante da família. Seu humor só se compara a sua lealdade com todos que ela ama.

Ally é baixinha, pele bronzeada de sol, cabelos e olhos castanhos. É a mais centrada, equilibrada e confiante de nós. Ela é séria quando se conhece, mas nos trás sorrisos sinceros e é um amor.

Eu sou mais alta que Ally, mais baixa que Dinah, meu cabelo é preto, minha pele branca demais e meus olhos são verdes. Eu sou mais fechada, meu humor é mais negro.

Existe apenas uma coisa que é igual entre eu e minhas irmãs, nós amamos umas as outras mais do que tudo nessa vida.

É claro que a gente esquece isso quando a nossa irmã rouba a porcaria da torrada.

-Eu ia comer Dinah. - Digo brava olhando pra ela.

-Não ia não. Você nunca come a última torrada, só tá falando que ia porque eu peguei.

-Você já comeu as suas, não tem porque pegar a minha.

-Chega gente. - Diz Ally conciliadora. - É só uma torrada Laur, e você nunca come.

Fico emburrada, mas não respondo. Ally é fofa demais pra brigar com ela, apesar de Dinah não ligar pra isso.

-Dinah, você arrumou seu quarto? - Pergunta nossa mãe, Milika.

-Claro que não. - Respondo por ela. - Ainda tá uma zona.

-Ela perguntou pra mim. - Diz minha querida irmã.

-Eu respondi por você.

-Eu não preciso que responda por mim.

-Desisto. - Diz Ally levantando da mesa .

-É o seguinte. - Diz nossa mãe. - Você tá prometendo arrumar desde o dia da festa de aniversário de vocês. Então você só sai dessa casa depois que arrumar. Agora vamos, vou deixar vocês na escola no caminho pro trabalho.

Pegamos nossas bolsas e saímos. Corri pro carro pra poder sentar no banco da frente e graças a Deus, nenhuma das meninas reclamou.

Minha mãe ligou o carro e saímos, Ally e Dinah conversavam sobre o dever de inglês no banco de trás.

-O pai de vocês ligou. - Diz dona Milika.

Ally levanta a cabeça.

-Sério? - Pergunta com um sorriso.

-Sério. Ele quer que vocês passem as férias lá.

-Eu não vou. - Digo logo.

-Para de ser estraga prazeres branquela. - Diz Dinah.

-Não sou. Só que eu não vou pra casa do Mike.

-Ele é seu pai Lauren. - Diz minha mãe.

-A gente não vê ele a sete anos.

-Tem a chance de ver agora.

-Eu não vou.

-Pois eu vou. - Diz Dinah.

-Eu não vou. - Repito.

-E você Ally? - Pergunta minha mãe.

-Eu sinto falta do papai.

Reviro os olhos e ligo o rádio.

Minha mãe desliga e me olha.

-Você devia ir.

Volto a ligar o rádio e minha mãe torna a desligar.

-Lauren, para de fugir dos seus sentimentos.

-Eu não tô fugindo de nada.

-Você também sente falta dele.

-Ele nem lembra que a gente existe.

-Não fala assim Laur. - Pede Ally.

-É a verdade. Eu não vou e pronto.

Ligo outra vez o rádio e minha mãe o desliga de novo.

-Chega Lauren, essa sua rebeldia tá passando dos limites.

-Não tô sendo rebelde...

-Você tá sim e abaixa o tom de voz. Você...

-CUIDADO MÃE. - Grita Dinah.

Eu e minha mãe nos viramos pra frente, apenas o tempo de ver o caminhão invadindo a contra-mão.

Minha mãe tentou desviar mas foi tarde demais.

Antes do carro parar de capotar eu tinha apagado.

-**-

Eu via luzes brancas passando acima de mim. Meu corpo todo doía.

Eu queria saber da minha mãe, das minhas irmãs. Tentei virar o pescoço, mas algo me impedia.

Dentre todas as dores senti uma picada leve no meu braço e logo apaguei de novo.

-**-

Abri os olhos num quarto branco. Meu corpo parecia se recusar a acordar.

Uma moça me olhou.

-Oi. Você tá me ouvindo?

-Sim.

-Que bom.

Ela sorriu e começou a mexer em vários aparelhos.

-Cadê minhas irmãs? Minha mãe.

-Suas irmãs estão bem. Apenas alguns arranhões, já já elas vem te ver.

Ela terminou de conferir tudo e saiu.

Alguns minutos depois Ally e Dinah entraram no quarto.

Ally tinha o braço engessado e Dinah um curativo na cabeça. Os rostos das duas estavam arranhados e eu tinha até medo de perguntar minha aparência.

As duas tinham os olhos vermelhos, parece que choraram.

-Oi. - Digo pra elas.

-Que bom que você acordou Laur. - Diz Ally pegando na minha mão.

-É, a gente tava preocupada branquela.

-Eu tô bem. - Digo olhando as duas. - Cadê a mãe?

Elas se olham e alguma coisa em mim parece desabar.

A notícia vai ser ruim, eu posso sentir antes que elas voltem a me olhar.

-Laur... A mamãe... A mamãe... - Os olhos de Ally se enchem de água.

-O quê? Fala Ally. - Exijo em um tom brusco.

Ally começa a chorar e Dinah a abraça. A maior tenta demonstrar força, mas posso ver as lágrimas caindo dos seus olhos também.

Então a ficha cai.

-Não. - Digo num sussurro audível.

Dinah me olha e faz que sim com a cabeça.

Meu mundo parece ruir, desmoronar.

As lágrimas chegam sem que eu perceba.

Minhas irmãs seguram minhas mãos, ainda abraçadas e choramos.

A dor é quase insuportável e a única coisa que eu sei é que preciso ter forças pra cuidar das duas pessoas que seguram minhas mãos.

Um em trêsOnde histórias criam vida. Descubra agora