Harry caminhou pela casa silenciosa como se o eco do vazio fosse de fato confortável, mas não era. Retirou suas botas no automático, sentindo o tapete felpudo contra as solas de seus pés, movendo os dedos com a sensação de liberdade. Taylor estava fechada em seu próprio quarto, e ele não sabia se estava no humor para ouvir sobre o novo trabalho dela.
Conviverem juntos era incrível, justamente porque sua amiga nunca lhe cobrava aquela presença assídua, eles tinham bastante espaço individual para lutar as próprias batalhas quando necessário.
Era uma das coisas que Harry sempre prezou dentro de suas amizades: o respeito. Ele sabia que não tinha o poder de curar todas as dores de seus amigos, e que nem sempre haveria necessidade de compartilhá-las.
Desfez os botões da camisa lentamente, deixando que o tecido macio escorresse pelos seus ombros juntos com a tensão de ter voltado à dar aula. Niall tinha dito que ainda não era seguro, mas Harry precisava manter o emprego então quase implorou que o fisioterapeuta o liberasse para seu ofício antes do final de seu atestado.
O pessoal do trabalho lhe tratava de maneira suspeita, e Harry sabia bem que o nome disso era peso na consciência. Ele evitava pensar no assunto, mas esse parecia um daqueles dias nos quais seria obrigado a lidar com todas as suas dores se não quisesse que elas lhe consumissem de dentro para fora.
Não queria ter que consolar os colegas por uma situação que foi sobre ele — porque mesmo que eles tenham ido embora mais cedo e o deixado sozinho, quem ficou paralisado à merce de um assediador tinha sido Harry, não eles.
Então ele também estava modulando esse distanciamento emocional deles, e acreditava que era o mais sensato considerando a situação. Harry apenas... todo esse silêncio as vezes era um pouco sufocante, e era apenas o primeiro dia de volta. Alongou o pescoço, os ombros doloridos de tanta tensão.
Nisso Harry poderia se considerar parecido com Louis, pelas tantas vezes que o homem tinha descido a escada com ombros elevados e aquela expressão carregada de quem pensava demais e hesitava demais também.
Não deveria pensar em Louis, que não fazia questão de vê-lo. Devia pensar em Karen, uma das mulheres por quem ele nutria mais admiração, e por quem ele quase estava disposto a quebrar a barreira de silêncio e distanciamento.
Karen, que era uma de suas colegas mais próximas, quase uma amiga se Harry não vivesse para os estudos e as crianças, era a que mais estava distante dele. A mulher com um sotaque forte da irlanda foi a primeira pessoa a conversar com ele quando ingressou como docente na escola, e estaria sendo mentiroso se não assumisse que sentia falta dos chás de ervas juntos.
Ela e os outros funcionários tinham presumido que estava tudo bem, que Harry tinha encontrado uma companhia para a noite. Não foi culpa de alguém, nada do que aconteceu. Mas Harry sabia que assim como ele, seus parceiros também precisavam digerir, até porque cada um ali tinha sua própria vida e sabe-se Deus o que eles estavam sentindo com tudo.
Os olhos cor de jade de Harry varreram o quarto vazio antes de focarem na janela, e na lua exuberante que reinava no céu lá fora. Estava postergando lidar com seus sentimentos, e estava bem ciente disso.
Somente quando a água quente do chuveiro chocou contra sua pele sensível, foi que se permitiu pensar melhor. Ou melhor, pensar em Louis. De novo, como se a figura do homem não lhe fosse um pensamento errante e traiçoeiro o tempo todo.
Quando conheceu Louis, Harry não se sentiu no direito de ficar triste pela rejeição porque até então eles eram apenas desconhecidos e, pelo menos em sua cabeça, as pessoas não deveriam ser obrigadas a se aproximar das outras por causa de um vínculo superestimado criado pelo universo e seus milhares de mistérios.
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Timer after time [lwt+hes]
Фанфик[EM ANDAMENTO] Do ventre do universo, surgiu tudo. Cada átomo, em sua partícula mais indivisível, tem um próposito no caminho das coisas - para os humanos, dois átomos de oxigênio representam vida, energia, comunicação. Bem como, em cada pedaço de s...