pt.3 da quebra [expectativa]

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Expectativa é uma palavra cujo significado deriva de uma espera baseada em probabilidade

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Expectativa é uma palavra cujo significado deriva de uma espera baseada em probabilidade. Ou seja, é a esperança de que o evento mais provável aconteça, e, quando os resultados não são de acordo com o esperado, há angústia, tristeza, medo, incertezas. Desde criança, Harry ouvia de Desmond que ele supria expectativas muito altas de um mundo tão errôneo e humano. Ele tinha essa alma de desbravador, de revolução, de querer mudar ambientes hostis e fazer crescer rosas onde só havia solo infértil.

Ele tinha essa paixão descontrolada pelo desconhecido, uma necessidade de conhecer um pouco de tudo. Não foram poucas as vezes em que seus pais lhe levaram para visitar alguém e acabaram envergonhados pela curiosidade de Harry em querer saber de tudo sobre a casa, sobre os animais, sobre as pessoas que moravam lá — ou então, mais sem vergonha ainda, tinha o hábito de pedir que lhe ensinassem algo novo, e uma fé irremediável em pessoas.

E Desmond sempre em plano de fundo, sendo o pai amável e preocupado demais com excesso de bravura em Harry. Ele não fazia por mal, mas alguém precisava apresentar àquela criança o que era o mundo de verdade, um mundo humano, no qual nem sempre o desconhecido e a verdade eram belos. Um mundo no qual as pessoas de verdade jamais parariam para confabular com um sonhador.A verdade era dolorosa, e Harry precisava nivelar suas expectativas com aquilo que ele de fato teria o poder de conquistar.

Conforme crescia, ele aprendeu que precisava suprimir algumas expectativas, mantê-las o mais baixo possível, e que essa era uma boa estratégia, porque infelizmente a vida tem mais quedas do que ascensões — Harry não era um pessimista afogado em Nietzsche ou algo do tipo, ele infelizmente precisou aprender por conta própria que sua fé inabalável por explorar nem sempre lhe trazia boas descobertas.

Dessa forma ele evitava dor, evitava se desgastar toda vez que saía de sua zona de conforto, porque ele voltava ferido e sozinho para lidar com os machucados gerados por ele mesmo ao vislumbrar coisas que não poderia ter. Desmond concordava com isso, não por ser um mau pai, mas porque ver o filho decepcionado com coisas que não estavam ao seu alcance parecia doloroso demais para incentivá-lo a continuar tentando levantar vôo em tempestades.

Uma das poucas expectativas que ele manteve consigo, ainda na adolescência, foi sobre o cronômetro. Quase todos os colegas de sua turma tinham encontrado seus pares e viviam seus romances de novela água com açúcar. Ele dizia para Anne, sua mãe, que não, mas se seu travesseiro tivesse capacidade de falar, com certeza entregaria todas as noites em que ele falou sozinho até dormir sobre como esperava a pessoa certa para poder, enfim, colocar expectativas em algo com a certeza absoluta de que aquele algo jamais seria capaz de quebrá-las, ou de quebrá-lo.

Então Harry descobriu que mesmo que existisse alguém lá fora, moldado diretamente pelas mãos de alguma divindade e destinado a ser sua alma gêmea, o caminho não era tão em linha reta assim. Durante a faculdade ele conheceu Taylor, uma garota com cabelos agraciados pelo sol e uma inteligência fora da curva de normalidade, e que precisava de um colega para dividir um casebre nos arredores da instituição. Noassoalho desgastado da sala, com vinho barato e maconha para dois, ela confessara baixinho, com palavras trêmulas e olhos envenenados, a verdade por trás de seu cronômetro, o que gerou muitas e muitas noites com eles dois bêbados e chapados, afogados em autopiedade.

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