. . .Taylor sabia, no fundo de seu coração, que não conseguiria ficar no mesmo ambiente que Louis. E não era falta de amor pelo namorado, ou falta de lastro com a história que eles tinham construído, era apenas questão de reconhecer os próprios limites — saber que o cronômetro tatuado no pulso de Louis representava uma parte dela que ela jamais gostaria de relembrar. Era uma das dores que ela tinha enterrado junto com peças de seu passado. Ela era um quebra-cabeças com peças faltando.
Eles tinham se deitado para dormir na mesma cama, primeiro porque estavam fisicamente esgotados demais e, segundo, porque continuavam sendo pessoas adultas e com boa capacidade de discernimento. Louis não estava errado, afinal, mas mesmo assim era uma situação que mexia com coisas dentro dela que despertavam uma sensação de angústia em seu grau mais aflorado. De bruços, com a cabeça sobre o antebraço, encarava o corpo adormecido de Louis como se as feições igualmente tensas do namorado fossem capazes de lhe fornecer alguma calma. Suspirou com pesar diante da constatação de que nem ele conseguia acalmar os próprios nervos.
O sol já tinha nascido há algum tempo e eles tinham esquecido de fechar as persianas. Então ela assistiu, aos poucos, como os raios cobriram a estante de livros de Louis — lembrando-se das várias discussões sobre mudar o móvel de posição porque senão ia estragar os exemplares. Essas eram coisas simples do cotidiano dos dois, coisas que Taylor começou a enumerar dentro de sua própria mente como forma de manter-se sã. Odiava sentir os traços de ansiedade aparecendo na superfície. Infelizmente, ainda acompanhando a trajetória do sol, viu quando a luz cobriu o relógio sem bateria de Louis. Como se tivesse tomado um choque, imediatamente procurou o cronômetro no punho do namorado que, por sorte, estava debaixo do travesseiro.
Tic-Tac, pensou.
Era muito irônico o paradoxo representado por aqueles números. Para algumas pessoas poderia ser uma contagem regressiva para descobrir o amor enquanto para outras, conforme os números regrediam para o zero absoluto, a contagem poderia significar perda. E Deus, como Taylor entendia de perdas. Ela virou de barriga para cima, ciente de que não conseguiria render-se ao sono tão cedo, mas ainda disposta a contrariar sua ansiedade à impulsividade de sair correndo na direção oposta.
Quando estudou para fazer o exame da polícia, havia aquela seção de dilemas éticos e crimes passionais. Em algumas pessoas, o efeito do Destino era tão forte que imediatamente se tornavam imunes à atração e laços românticos com quaisquer outras. Ao longo da História, o cronômetro deixou sua marca através de uma série de pessoas que acabaram internadas em manicômios porque o poder se infiltrava de tal maneira que aos poucos elas perdiam a capacidade de pensarem por si só, submetendo-se ao amor de forma que o consciente delas apagava tudo. Essa época ficou conhecida como Idade das Trevas nos livros, porque o lado submisso começou a ser explorado pela sua "outra metade", servindo de servos para serviço doméstico, braçal e sexual até que o corpo, devido à rejeição e aos abusos, cedesse à morte.
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Timer after time [lwt+hes]
Fanfiction[EM ANDAMENTO] Do ventre do universo, surgiu tudo. Cada átomo, em sua partícula mais indivisível, tem um próposito no caminho das coisas - para os humanos, dois átomos de oxigênio representam vida, energia, comunicação. Bem como, em cada pedaço de s...