Uma Consequência - Capítulo 12.

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(Geórgia)

- Acorda! - olho para o lado e me deparo com April com a pele terrivelmente queimada. Levo um pequeno susto e percebo que já estou projetada para fora do meu corpo físico. - Você me deixou morrer naquela maldita cabana! Acha mesmo que vai conseguir salvar a Molly? - ela estende os braços mostrando seus pulsos amarrados, analiso-os, olho para o restante de seu corpo desfigurado e vejo que suas canelas também estão amarradas da mesma forma que eu a deixei quando a sequestrei - Você não salva pessoas, você as mata! - abro a boca para dar uma resposta para o ser, mas ele desaparece de repente, como uma fumaça. Duarte passa por ele fazendo que sua estrutura evapore. O policial aposentado anda de um lado para o outro, visivelmente nervoso e ansioso, conferindo o cronômetro a todo instante. Respiro fundo antes de me desconectar completamente do meu corpo inerte, já acostumada com as sensações, desde a paralisia do sono, até o despregamento gradual, ao fio de prata que me liga a minha matéria e a liberdade plena sem as limitações que o físico necessita.

Levanto segurando o lenço na mão com grande euforia num misto de esperança enfraquecida com medo alimentando. Aquela não pode ser a April! Ou será? Ela não reencarnou como Vicky como eu achava esse tempo todo? Estou confusa, mas isso não é hora de pensar nisso. Meu tempo é curto e preciso focar no que tenho que fazer. Ignoro Duarte e atravesso a parede como se eu fosse um fantasma, por falar em fantasma... Ali está ela de novo. April me encarando com raiva no final do corredor. Esta merda é um pesadelo ou o quê? Dessa vez ela está pegando fogo, literalmente. Me desespero.

- April... Eu sinto muito... – me aproximo com a mão estendida desejando tocá-la e apagar as labaredas que eu mesma criei.

- Agora é tarde para lamentações! Você me deixou morrer! Me deixou queimar viva. Isto não tem perdão.

Ela começa a correr atrás de mim. E num impulso faço o mesmo para escapar de sua fúria. Estou assustada. Eu nunca a vi assim antes. Mesmo que eu ache que ela ainda guarda mágoa de mim, nunca imaginei vê-la expressando-a. Quando chego na parede onde o prédio termina, ela consegue me alcançar e me empurra. As chamas engolem minha roupa. Minhas costas queimam e eu caio gritando exasperada. Fecho os olhos com a nítida impressão de que vou bater no chão, no meio dos carros que passam, mas sou tragada para outro ambiente. Examino tudo ao meu redor. Estou no apartamento de Diana. Minha irmã está sentada com as pernas abertas, porém, pela sua feição, deduzo que ela não está nada confortável embebedando-se de uísque, bastante pensativa.

- Você destruiu a vida até da sua própria irmã! – April surge ao meu lado e dou um passo para trás apavorada. Agora ela está com a silhueta toda suja de cinzas. – Eu amava a Diana e você nos separou! Você não vai conseguir salvar a Molly, Geórgia! Você vai ficar aqui comigo para sempre! – ela pega no meu pulso direito e quando olho estou acorrentada. Merda! Isso de novo não! Fecho os olhos mentalizando que isso é apenas um lixo mental e que eu devo me livrar dele para ir atrás de Molly antes que seja tarde. Isso não é real! Isso não é real! Repito várias vezes para fixar e ganhar força e ouço uma risada diabólica. – Você não está sonhando! Sou eu mesma, e estou aqui para te dizer que eu te odeio com todas as minhas forças! – ela faz um comando mental com as mãos e eu não consigo mais controlar meu corpo astral. Fico de joelhos diante dela. Escuto um ranger de porta se abrindo e tento olhar para trás para ver quem entrou, mas não posso mover o pescoço. April olha e seus olhos se arregalam de automático.

- Você? Você não podia estar aqui! – aponta embasbacada e temerosa dando um passo para trás, como se a entidade que aparecera seja superior e não possa desobedecê-la. Alguém está me protegendo? E quando me dou conta ela some diante dos meus olhos. As correntes também desaparecem e eu olho para os lados. Estou livre de novo. Me recomponho e fito Diana. Ela está se levantando e indo em direção da porta. Onde ela vai com tanta pressa e ainda mais por cima, bêbada?

Presa a TiOnde histórias criam vida. Descubra agora