Já é noite e eu ainda me encontro deitada pensando sobre as coisas que descobri desde que Jason se foi. Esta casa é tão silenciosa, na maior parte do tempo. As vezes as portas se batem sem vento algum, objetos caem sem explicação lógica, choros e gemidos ecoam nos corredores, assim como o som de passos, e sombras estranhas se projetam nas paredes. Esta casa põe a prova a sanidade mental de qualquer um, mas ainda sim, no fim, o que mais me perturba é a solidão e o silêncio, como se já não bastasse o vazio que sinto dentro de mim, parece que eu estou sozinha aqui, presa nesse vazio. É extremamente entediante também, sempre procuro algo para me distrair e não enlouquecer... Não completamente, pois louca eu já estou.
Não há mais nada para limpar, coisas para organizar, já fiz a faxina do quarto varias e varias vezes como distração, então, decido explorar a casa. Fazer igual eu fazia quando pequena. Sair para “explorar” lugares.
Já tenho um primeiro lugar para conhecer em mente, uma vez vi Jeff entrar em uma sala com uma porta diferenciada tingida por um tom desgastado da cor vinho. Torço para que ele não esteja lá.
Vou até o local que se encontrava no andar de cima e entro sem hesitar, me deparo com um cômodo empoeirado e iluminado a luz de velas, as paredes estavam gastas e o papel de parede com desenhos estranhos estava descolando. Uma escrivaninha me chama atenção, papéis grossos e amarelados estavam empilhados ao lado de um tinteiro como se alguém frequentemente escrevesse ali, começo a reparar nos outros móveis de madeira do local. Um baú, uma estante com livros, e um armário com um grande cadeado impedindo que o mesmo fosse aberto. Havia também uma varanda. As portas que davam acesso a ela eram de vidro, vidraças delicadas e coloridas, o muro era de pedra, e escorado naquele parapeito, estava a figura pálida de Jeff, não havia percebido sua presença, e aparentemente, nem ele a minha. Parecia absorto em seus pensamentos, seu rosto transmitia certa amargura, seja lá qual fosse seus pensamentos, não eram bons... Ele parece solitário, solitário de mais... Sempre quieto e solitário.
Vou até a varanda e me escoro no parapeito, olho para a mesma direção que ele, e me deparo com uma incrível lua cheia, a lua parece maior aqui, o céu é estrelado... E as estrelas tem um brilho diferente, estrelas azuis, rosas... Amarelas. Fascinante. Ele não desvia o olhar do céu nem por um instante, já percebeu minha presença, mas fica em silêncio. O silêncio não era desconfortável nem nada... Apenas o silêncio causado por essa bela vista que nos mantinha encantados de mais para falar.
Alguns minutos se passam, e o silêncio finalmente é quebrado.
— Por que é tão xereta? Não devia estar aqui.
—invadi sua privacidade... Me desculpe.
— Se lembra do que eu lhe disse sobre desculpas? Só peça se não for fazer mais, e mude.
— Não sei se não vou fazer mais... Posso acabar fazendo sem querer, afinal, eu não pensei que estaria aqui..
—Então não peça desculpas.
O silêncio se estende novamente...
—Você é solitário...
— Sou?
—É?— É... Sou.
— Li muito sobre você em quanto estava na terra... Você é muito diferente
do que imaginei que seria.— Como sou lá?
— Na maioria das vezes você é arrogante, imaturo, meio burro, não raciocina muito só pensa em matar e matar, e não raciocina para fazer isso da melhor forma. É alcólatra e na maioria das histórias você se apaixona por uma de suas vitimas sequestradas...— Que vergonha....
Rio com sua resposta e expressão de desgosto.
— Como sabe que não sou assim?
—É visível.
Ele sorri.
— Quer ser meu amigo? — Pergunto sem pensar, e depois, me envergonho
do que disse.— Ah meu deus... quantos anos você tem?
Sinto minhas bochechas corarem, odeio quando acontece, torço para que ele não perceba e comente como a maioria das pessoas fazem.
— Sabe que eu poderia te matar... Não sabe?
— Não vai me matar...
Precisa de mim.— ainda posso te torturar... Olha, não sei se é corajosa de mais ou só uma boba atrevida.
— Me sinto morta de mais para me importar com essas coisas ou o que possa me acontecer. Não é coragem ou atrevimento, apenas não me importo.
— Agora faz sentido.
— Já teve amigos?
— Não... Ninguém nunca quis ser. Não importa como eu agisse.. Ninguém nunca quis.— Não importa como agisse... Talvez deveria ser sempre você mesmo.
— é alguns já me disseram que eu deveria ser quem realmente era, disseram-me que as pessoas deveriam gostar de mim por ser eu mesmo. Então eu tentei... Me julgaram, zombaram de mim antes mesmo de me conhecer, me bateram e acharam engraçado. Me humilharam. Esgotaram a saúde mental que eu já nem tinha, e em seguida alguns ainda questionaram o porque de eu ser tão inseguro... Tão assustado, tão fechado.
Me surpreendo com o que escuto... É como se ele estivesse prestes a se abrir.
— A verdade é que eu nunca fui tão peculiar como diziam, apenas não me encachava no padrão de meninos da sociedade, mas isso não me fazia "estranho" eu ainda era humano, ainda tinha sentimentos, ainda era... Normal.
Sabe... Pessoas que fazem esse tipo de coisa com os outros, por serem diferentes, ainda me dão muito ódio. São tão atrasaladas que não tem a capacidade de entender que ser diferente de você ou da maioria não é algo ruim. Elas criam um pré-conceito sobre você e te excluem, te zoam, até que você deixe de ser você mesmo, até que comece a perder sua identidade e se torne como os demais, mas caso isso não aconteça, você continua a sofrer. Você sofre por ser você mesmo... Por ser o que é. Algo que nunca escolheu. pessoas que praticam preconceito, racismo, ou qualquer tipo de segregação, tem problemas em aceitar o “diferente” porque viver em um padrão lhes parece mais confortável, já que o diferente muitas vezes é estranho, (lembrando que estranho é na verdade um termo usado para definir algo desconhecido) e para algo deixar de ser estranho, ele precisa ser conhecido, e muitos não querem ter o trabalho de desconstrução mental que conhecer o desconhecido pode lhe proporcionar. Não importa o quanto a tecnologia humana tenha evoluído, o quanto a medicina tem se aperfeiçoado, nós ainda não somos evoluídos, não somos... A raça humana tem melhorado, sim, mas ainda há muitas mentes para se desconstruir. Sociologicamente... Somos um caos.Não consigo dizer uma palavra se quer... Não esperava ouvir algo assim de “alguém como ele”
— Boa noite, Hannah. Já falei de mais... Falar me esgota.
Ele se vira, e sai da sala me deixando sozinha com meus pensamentos.
Acho que... Você não é mesmo nada do que pensei Jeff. E há muito para se conhecer aí.
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Portal Creppypasta
HorreurQueria não ter participado daquele ritualzinho barato da Jenny, Achei que era só mais uma brincadeira como sempre. nunca acreditei que daria certo! eu não queria vê-los realmente. não aguento mais ficar aqui... Seria muita loucura da minha parte...