Às vezes, Trix e papai me perguntam por que eu continuo fazendo isso comigo mesmo, me perdendo no meio "dessas" pessoas, para amenizar a dor da mente. Eu nunca consigo responder.
Estacionei de qualquer jeito, em qualquer vaga e saí do carro. Era uma boate num bairro de classe média, luzes de led roxa piscavam na fachada, formando a palavra "Delírio". Entrei, indo direto para o bar e pedindo um Sex On The Beach.
Não é como se eu viesse aqui toda noite e enchesse a cara, meu pai é médico, seria ridículo desenvolver um problema no fígado ou ter uma overdose, eu tenho que honrar o nome dos McRae, afinal. Puff! Venho aqui às vezes, bebo até me anestesiar do mundo lá fora, como entrar em modo avião. Venho, toda vez, com a esperança de que a bebida vai me dar a coragem que eu tanto preciso para, enfim, deixar de existir, mas eu sou covarde demais, até pra' isso.- Oi, Trevor, tá servido? - Balançou o saquinho que continha alguma droga que eu, realmente, não estou interessado em idêntificar.
- Nah, Vic. - Ela deu de ombros e sentou do meu lado.
- Você não sabe o que tá perdendo. Mas e aí, fazia um tempão que eu não te via por aqui, o que te trouxe?
- Eu não sei. Eu tô sendo consumido pela pólvora, e sinto que se ficar mais um minuto lá fora alguém vai riscar o fósforo e eu vou explodir. Tá tudo tão errado e eu estou tão cansado.
- A vida é toda errada, McRae. Pelo menos, você pode colocar um ponto final em toda essa história.
- Antes fosse, Vic, antes fosse...
- Se dói tanto, por que você não acaba logo com isso? - Riu amarga. - Que papo sombrio! Vem, nós vamos beber até esquecer quem somos. - Me puxou até a pista.
E essa foi minha noite, como todas as outras. Bebidas, bocas desconhecidas, risadas sem um pingo de verdade. Desesperado para sentir meu coração bater mais rápido por qualquer uma daquelas coisas, sem êxito nenhum...
Depois da anestesia vem o choque de realidade, e com ele, a dor.
Jogado no banheiro sujo da boate, sentindo a respiração me faltar, o aperto no peito tão familiar, a garganta secando e a sensação de diminuir a cada lufada de ar que eu tomo, e é assim, o meu fim de festa. As pessoas que pulavam e riam comigo há algumas horas já não existem mais. Conforme a noite caía e um novo dia chegava, todos iam, um por um, porque ninguém permanece na platéia após as cortinas do teatro se fecharem..
- Trevor? - A voz meio robotizada do meu pai soava do outro lado da linha.
- Pai, eu sinto muito...Por favor. - Meu corpo tremia, à ponto de eu mal conseguir segurar o celular.
- Você está chorando? Trevor, onde você está?
- Eu sinto muito por tudo, eu não queria, eu juro, eu não queria, e-eu...
Acho que sempre tive a resposta.
Ali, no meio de todas aquelas pessoas vazias e deixando de existir, eu era só mais um entre muitos. Qualquer um. Mas em casa, papai e Trix me tratavam com esmero, como um boneco de vidro muito frágil. Lá eu sou preciso, necessário. Isso é tudo que eu não quero ser. Porque a sensação de ser preciso e necessário me faz sentir que devo ficar, e, tudo que eu menos quero agora, é ficar.- Está tudo bem agora, papai vai estar aí com você...
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Razões Para Dizer Adeus
Любовные романыOnde Trevor acha que não há mais chances para ele, e que deve parar de existir. Com esse pensamento, escreve cartas, que num futuro próximo seriam direcionadas aos possíveis receptores de seus órgãos, no intuito de os induzir a viverem a vida que el...