08 - 10 Coisas que eu odeio em você

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   Dei três batidas na porta do quarto 717, recebendo um "pode entrar" como resposta. Entrei em silêncio, e me sentei na poltrona, ao lado da cama, onde Nia estava sentada, em posição de lotus.

- Você quer conversar sobre o que te trouxe aqui? - Balancei a cabeça em negação. - Então, você quer ver um filme? Eu tenho "10 Coisas que eu odeio em você" em DVD.

- Eu odeio esse filme.

- Isso foi um trocadilho?

- Não.

- Você deve ter assistido errado, eu me recuso a aceitar isso. Você vai assistir e vai gostar, é questão de honra agora. - Dei de ombros e ela levantou para pôr o filme no aparelho de DVD.

O filme começou a ser reproduzido, e a garota ao meu lado parecia se divertir muito com a comédia romântica, na qual eu tentava prestar atenção na maior parte do tempo, mas, meu pensamento sempre acabava voando até o acontecido de um tempo atrás.

E foi com esses pensamentos que meus olhos se encheram de lágrimas, como se eu estivesse saindo de um transe, que entrei desde que saí de casa. E, bom, Nia pareceu perceber isso.

- Pode chorar. Não vou falar para ninguém que você chorou vendo o poema da Kat. - Disse Nia, mesmo sabendo que o motivo das minhas lágrimas, que ameaçam sair, ia muito além de sua compressão.

- Eu não quero. - Falei, sentindo a queimação nos olhos aumentar.

- Chorar não faz de você menos forte.

- Prefiro acreditar que faz. - Eu disse, fraco.

Ela suspirou e colocou a mão sobre o meu ombro, e pareceu se assustar com algo. Depois, colocou as costas da mão na minha testa, e da mesma forma, agora um pouco acanhada, no meu pescoço.

- Trevor, você está queimando de febre! Está se sentindo mal? - Segurou meus ombros e me olhou atenta.

- Acho que estou sentindo mais frio que o normal. - Respondi.

- Por Deus! Vou pedir para a enfermeira chamar algum médico para você. - Se levantou depressa, já calçando as pantufas que estavam ao lado da cama.

- Não precisa! Deve ser só um resfriado, está tudo bem. - Segurei seu pulso, a impedindo de ir.

- Diz isso para sua temperatura!

- É sério, não precisa chamar nenhum médico. - Ela ponderou um pouco, antes de concordar.

- Sendo assim, eu mesma vou cuidar de você. Vou baixar sua febre com os métodos da minha mãe. - A olhei confuso.

- Pega. - Me entregou uma toalha. - Vai no banheiro e toma um banho gelado.

- O que?

- Vai logo e para de questionar! - Empurrou-me até o cubículo dentro do próprio quarto.

Tirei as roupas e entrei debaixo da água gelada, só aí percebi que meu corpo também doía. Me sequei com a toalha e vesti as roupas novamente. Saí do banheiro, a poltrona agora está reclinada, e Nia segura um cobertor grosso e um pano nas mãos.

- Deita e se cobre. Se você transpirar, significa que sua febre está baixando. - Resolvi não questionar dessa vez, e o fiz. - Põe isso na sua testa também. - Peguei o pano molhado de suas mãos e pus no lugar indicado.

O quarto foi tomado pelo silêncio, mas, depois de ver toda a sua preocupação comigo, eu me senti estranhamente confortável para contar a Nia o que me afligia, mas não o fiz por completo.

- Minha mãe morreu. - Disse, quebrando o silêncio. Nia deixou o queixo cair e me olhou com tristeza.

- Ai meu Deus, eu sinto muito! Por isso você... - Ela se afobou, mas logo eu consertei minha fala.

- Já faz bastante tempo, eu só... sinto falta dela. - A garota de cabelos ondulados deitou na cama e fitou o teto branco.

- Minha avó costuma dizer que, quando sentimos falta de alguém que já se foi, devemos pensar nos momentos bons que passamos com eles, e não no momento em que foram embora. Ela diz que a dor da perda diminui o brilho de uma grande jornada.

   Naquela noite, eu me recordei de quando eu invadia o estúdio de mamãe e nós acabávamos em uma guerra de tinta, de quando ficávamos ela, papai e eu no sofá da sala, assistindo desenhos até dormirmos. Me lembrei de quando ela me dava um beijinho na ponta do nariz, na porta da escola, todos os dias, de quando eu acordava no meio da noite e sentia um abraço apertado, junto de vários "eu amo você". Também lembrei de quando corríamos, nós dois, até o parque perto da nossa casa para sentarmos no nosso banco preferido e observar o pôr do sol, e só voltávamos para casa depois de dizer "olá" à lua.

Naquela noite eu não dormi, mas meu coração descansou em paz, depois de muito tempo.

Razões Para Dizer AdeusOnde histórias criam vida. Descubra agora