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Luke - Janeiro de 2018

— Ela te deu um número de telefone?

Posso ver nos olhos da Dawn o quão transtornada ela está. É mais do que ela pode aguentar, eu sei, mas ela permanece firme. Seu lábio inferior está tremendo levemente com o nervosismo. Ela aperta as palmas das mãos uma contra a outra, como se fosse quase impossível impedir o próprio corpo de explodir.

Sei que não posso impedi-la de ligar para o próprio pai. Pelo amor de Deus, até eu quero que ligue. Mas tenho receio do quanto ela pode aguentar.

— Sim — confirmo.

— Vamos ligar — ela se aproxima.

Seguro os dois telefones contra o peito, o meu e o dela. Dawn está em cima de mim, quase me envolvendo em um abraço de tão perto. Posso ver na sua cara que está se segurando para não pegar os dois telefones da minha mão. E me chutar.

— Você não acha melhor ir com calma? Não foi coisa demais para um dia só?

— Vai se foder — ela diz sem nenhuma hesitação. — Eu vou com calma assim que eu falar com o meu pai. Talvez ele tenha um bom motivo para ter me abandonado, diferente de você.

Eu pisco algumas vezes, absorvendo as palavras dela. Ela não se abala com o que disse, e eu preciso me lembrar de respirar. Já faz tanto tempo que nem mesmo falamos sobre isso. Já faz tanto tempo que tê-la deixado quando éramos adolescentes é o menor dos nossos problemas.

Mas eu sei que não foi isso o que Dawn quis dizer, no fundo. Ela não está com raiva de mim. Para falar a verdade, há tempos não me sinto tão próximo dela... Desde que éramos adolescentes, antes de eu partir. Dawn e eu funcionávamos assim, como se fôssemos uma só pessoa. Foi assim por muito tempo, e sinto isso agora. Sei exatamente as coisas que se passam pela cabeça dela, as coisas que está sentindo.

No final das contas, Dawn só quer ter a oportunidade de se convencer de que não foi abandonada pelo seu pai. Sei o quanto se culpa por isso, por tudo. Ter que me ver ir embora, seu melhor amigo, foi doloroso o suficiente. Mas isso... Matthew? Deixou um buraco em seu peito que nunca poderia ser preenchido. Ser abandonada é um problema. Ser abandonada duas vezes? Dawn se convenceu de que ela é o problema. E não importa o que eu diga, ou faça. Nem mesmo se tivéssemos ficado juntos, jamais calaria essa vozinha na cabeça dela dizendo que ela é a razão de tudo. Dizendo que as pessoas nunca vão ficar, não ao lado dela.

Não posso mudar as coisas que aconteceram. Eu sei que não posso mudar o mundo, mas talvez eu possa fazê-la mudar de ideia*. Essa é a primeira vez que ela tem uma oportunidade de ouvir uma nova versão da própria história, uma chance de tirar a culpa dos próprios ombros, e eu não quero tirar isso dela. Mas... Quanto disso ela pode aguentar num só dia?

— Tem certeza? — insisto.

Ela captura meu telefone da minha mão, e eu não faço qualquer objeção. Ela olha para ele como se fosse a coisa mais valiosa que já tocou, e nem se importa de ligar do próprio telefone. Liga direto do meu. Leva o aparelho até a orelha e começa a andar pelo quarto de Calum, em um passo nervoso.

Tudo demora bastante. Estou me preparando para o pior, pensando no que dizer a ela caso esse telefone não seja mais o de seu pai. Amy não me disse há quanto tempo não tem contato com o ex-marido. E se ela tem um número antigo, que ele nem mesmo usa mais?

Estou quase perdendo as esperanças e tomando Dawn em um abraço quando ouço sua voz, trêmula.

— Alô?

Ela para, bem no meio do quarto. Olha para mim, como se eu pudesse fazer alguma coisa por ela. Decido não me aproximar. Dawn leva o dedo indicador aos lábios, pedindo silêncio, e coloca a chamada no viva-voz. Meu coração aquece ao saber que ela quer dividir esse momento comigo, mas talvez só queira que eu esteja ouvindo caso tudo dê errado.

Daylight || Luke HemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora