Urgência

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Dawn - Janeiro de 2018

Estremeço, mas não sou nem mesmo capaz de responder a qualquer pergunta que Sam faz, porque o choque me cobriu com uma camada tão densa que começo a ver as outras pessoas como o lado de fora.

Tudo aquilo estava fora da minha cabeça por muito tempo e, não importa a maneira como é dito, mas as rosas voltam para minha mente, assim como o sangue escorrendo pelo braço de Luke, e a maneira como eu só queria esquecer tudo aquilo e abraça-lo, mas sabia que não podíamos ficar juntos.

— Nada educado, Luke — Ashton tenta fazer uma piada com a saída repentina dele, mas há uma tensão pairando sobre o cômodo.

Sinto-me exposta. Todas essas pessoas nessa sala, pessoas que eu não conheço, sabem sobre Luke e eu, numa versão que eu só conheci agora. A noite em que nos vimos pela última vez foi cantada para nós, como se, repentinamente, o mundo tivesse ganhado o direito de saber de tudo.

Só que eu não posso julgá-lo. Eu vendo trezentas páginas de um romance que conta uma versão bem sucedida de nós. Uma versão que deu certo enquanto podia, enquanto ainda éramos adolescentes. Uma versão em que Luke não tinha uma banda, éramos apenas melhores amigos apaixonados. E eu posso alterar fatos ou trocar o nome dos personagens, mas continuo lucrando com a nossa história, e não posso julgá-lo por fazer o mesmo de uma maneira mais bonita. Mais poética.

Só que, ainda assim, dói.

— Você quer ir embora? — Sam sussurra para mim. — Posso falar com Calum e pedir as chaves do apartamento.

— Eu vou falar com ele.

— Não precisa, eu posso fazer isso.

Olho para Sam e obrigo meus pulmões a trabalharem da maneira correta. Inspiro. Expiro.

— Não estou falando do Calum.

Sam pisca algumas vezes e balança a cabeça negativamente.

— Não vou deixar você conversar com ele. Não hoje. Não seja impulsiva.

Ponho-me de pé ao perceber que todos os demais convidados já se levantaram e estão espalhados, alcançando os meninos para parabeniza-los  da maneira que podem.

Encolho os ombros enquanto atravesso a sala, e tento não esbarrar em ninguém até alcançar Ashton, pois ele é a opinião sensata que quero ouvir agora.

Ashton está conversando com uma garota e ela sorri para ele, dando leves tapinhas em suas costas.

— Dawn! — Ashton sorri ao me ver, mas seus olhos não escondem o que está pensando. — Essa aqui é a Sierra — ele me apresenta à garota ao seu lado.

Ela tem um sorriso largo e eu percebo que a conheço. Sierra Deaton. Por que todas as pessoas famosas precisam andar juntas?

— Prazer — dou um sorriso amarelo. — Posso falar com você?

Ashton troca olhares rápidos com Sierra, que balança a cabeça. — Vou procurar Luke — ela diz.

— Não! — só percebo que as palavras escaparam quando Sierra e Ashton me encaram assustados.

— Desculpa? — ela pisca algumas vezes. Tenho certeza de que ela entendeu, mas é educada demais para me fazer sentir constrangida sobre o que aconteceu.

— Nada — balanço a cabeça.

— Sierra, por que não pede para o Michael ir? — Ashton sugere com um sorriso sutil.

Sierra assente e se afasta.

— Quero falar com ele — digo.

Ashton encara-me como se uma segunda cabeça estivesse nascendo em meu pescoço.

— Não acho que seja... uma boa ideia? — ele franze o cenho.

— Não vamos brigar. Eu só preciso vê-lo. Quero dizer... — procuro as palavras.

Não faço ideia do que quero dizer ao Luke. Não sei se está tudo bem. Eu devia dizer a ele que é passado e que precisamos deixar isso tudo morrer, depois de um ano, porque eu quero meus amigos de volta, mas não sei se podemos fazer isso. Não quando os sentimentos ainda nos arrebatam desta maneira apenas por ouvir uma música.

— Amanhã? — ele sugere.

Respiro fundo, sentindo meu interior tremer pela ansiedade. Quero vê-lo agora, mas sei que meus amigos têm ótimos motivos para me impedir e acho que devo ouvi-los.

— Vou pra casa — declaro.

Ashton assente, mesmo parecendo contrariado, e puxa-me para um abraço forte. — Vá calma, Dawn — ele diz. — Faça com que tudo dê certo.

Afasto-me dele com suas palavras pesando no meu peito.

Eu não sei se ele está falando sobre Luke e eu, ou só sobre mim. Eu não sei de muitas coisas e nem sei o que pensar a respeito delas. Só sei que tenho pouco tempo para consertar o resto da minha vida.

Daylight || Luke HemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora