Apenas uma menina

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2012

Alicia
Enquanto a Nádia desesperadamente joga todas as suas roupas em uma das nossas malas de viagem bruscamente, eu tento convencê-la a ficar. Todos os meus argumentos são em vão considerando sua fúria descomunal ao saber da minha infidelidade:
-Por favor, tenta me ouvir -eu me aproximo da minha esposa, que se afasta grosseiramente-
-Eu vou embora, Alicia. Agora você pode focar na sua carreira e na sua amante -Nádia fecha a mala e desce as escadas apressadamente. Eu a sigo tremula-
-Meu amor -com a mão na maçaneta da porta de entrada da casa, Nádia recua com o meu chamado. Seu olhar decepcionado me surra- por favor, não vai. Eu te amo muito.
-Eu também -ela suspira fundo. Suponho que a minha esposa vai se esvair em lágrimas e rezo para que ela volte a trás- meu advogado vai te enviar os papéis do divórcio.
-Não -Nádia fecha a porta. Sinto o chão tremer e minhas pernas falharem. Começo a chorar ao sentir o vazio de vê-la ir embora. De ver a minha esposa ir embora-

Uma semana antes
Entro apressada na delegacia da defesa da mulher. Atrás de uma bancada comprida, a recepcionista atende um telefone contragosto. Ela me lança um olhar de desprezo quando me aproximo:
-Boa noite. Eu sou a Inspetora Sierra e quero o relatório da denúncia da Maria Flores. Ela fez uma denúncia a cinco semanas -falo continuamente. A recepcionista assente e se dirige a outro cómodo a procura dos arquivos de má vontade. A forma que ela exala infelicidade é singular. Depois de poucos minutos de espera, o telefone toca. Nenhum funcionário se aproxima, então, sem escolha, eu atendo- boa noite, delegacia de defesa da mulher.
-Oi -uma voz feminina e familiar clama abafada- estou sofrendo violência doméstica por parte do meu marido. Moro na rua Leopoldo, prédio 54 apartamento 302.

Ouvir a Raquel clamar daquela forma me preocupa. Assustada e enraivecida, eu saio da delegacia a caminho da sua residência.
Chego no seu prédio em poucos minutos, e a viatura da polícia, instantes depois.
Ver a Raquel tão fragilizada e vulnerável me sensibiliza. Ao me ver adentrar sua casa, ela me abraça a procura de amparo. Violento e quase indomável, Alberto se aproxima e é parado apenas por um tiro de ameaça que eu disparo na parede.

Eu acompanho Raquel no corpo delito e na hora de prestar queixa. Durante todo o processo noto que ela me lança olhares gratos constantemente. Nunca fui de me sensibilizar dessa forma, e ajudá-la como eu estou fazendo hoje não é do meu feitio.
A sua filha, Paula, por sorte foi passar o final de semana na casa da avó.
Sem rumo e ainda abalada, eu convidei Raquel para jantar em um restaurante próximo à delegacia comigo. Sentada do outro extremo da mesa, ela me observa enquanto se delícia comendo um hambúrguer:
-Você está bem?
-Obrigada pro tudo que você fez. Não imaginaria algo assim vindo de você -eu suspiro fundo ao me deparar novamente com o estereótipo da mulher fria e inabalável que insistem em me colocar, e que muitas vezes eu mesma me coloco-
-Só fiz por você o que faria por qualquer outra mulher na sua situação -Raquel assente- foi a primeira vez?
-Não. E não seria a última.
-Imagino.
-Eu não gosto de homens. Eu só estava tentando explicar isso para ele.
-Eu sei como é difícil -eu coloco minha mão sobre a de Raquel. Ela me lança um olhar cúmplice- você já transou com uma mulher?
-Não. Mas eu sinto atração por elas -porque não fazê-la um convite? Eu me pergunto-

10 minutos depois e eu me vejo em um hotel transando com a Raquel. A sua falta de prática não afetou tanto assim o nosso momento íntimo. A 6 anos eu só fico com a Nádia. Beijar o pescoço da Raquel cuidadosamente desviando do curativo me deixou ainda mais excitada.

[música tema do capítulo]
Only a Girl
-Gia

Ela *finalizada* 2020Onde histórias criam vida. Descubra agora