Te fazer ser minha

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Raquel
Eu concordo com a cabeça e adentro a casa da Alicia em sequência. A sala é ampla e possui bons móveis, além de uma televisão que faz jus a enorme coleção de filmes da Sandra Bullock em uma estante do lado direito, perto de uma janela fechada e com uma tela. Suponho que já estava aqui quando Alicia e sua esposa compraram a casa, considerando que elas não tem nenhum animal ou criança.
Alicia me guia até a cozinha. O ambiente segue o mesmo padrão da sala, amplo por mais que não seja muito grande e com uma decoração simples. Eu me sento em uma bancada de mármore. Alicia me serve uma taça de vinho e eu aceito relutante:
-Já tomou esse? -ela me indaga sobre o vinho português-
-Não. Parece bom.
-É o meu favorito -observo o lacre no lixo. Ela abriu essa garrafa hoje e já está quase acabando, penso- não é só você que está na merda.
-Esse não é o melhor consolo -eu fico em silêncio por alguns minutos. Dou uma golada no vinho tinto e falo em sequência- você não quer falar sobre o que aconteceu?
-Não foi a gente que acabou com o meu casamento. Você sabe, eu sei e a Nádia sabe. Relacionamentos são como plantas, precisam ser cuidados diariamente, senão, apenas morrem.
-Claro.
-E a sua filha? -Alicia foge do assunto da separação com maestria-
-A Paula só tem 2 anos. Não vai lembrar de merda nenhuma. E nunca mais vai ver aquele filho da puta -sinto minhas veias saltarem só de lembrar do Alberto-
-Veio aqui para me convencer de um segundo round? -Alicia se aproxima e se senta no banco ao meu lado. Ela apoia sua taça de vinho pela metade na bancada enquanto fala continuamente, de forma sarcástica- imagino que depois de provar do bom, você quer mais. Tem outras lésbicas na cidade. Bissexuais e Pan também.
-Pan? -eu preciso me integrar mais no mundo LGBT-
-Pansexual é quando você tem atração sexual ou romântica por qualquer sexo ou identidade de gênero -a forma que ela me explicou tal assunto estranhamente me excitou. Me questiono se esse sentimento é recíproco- acha que eu seria uma boa professora? -Alicia se aproxima, ficando a centímetros do meu rosto. Posso sentir o cheiro do vinho e do seu perfume se misturando e me deixando ainda mais excitada. Resisto ao impulso de beijá-la-
-Claro.
-Então deixa eu te ensinar uma coisa -Alicia me beija intensamente. Não ouso recuar, apenas aproveito os melhores e mais intensos segundos do meu dia- sábado as 20:00. Você me liga e a gente vai jantar. O que você acha?
-Marcado.

Alicia
O meu jantar com a Raquel foi perfeito. A comida estava ótima, e o sexo que nós fizemos depois na minha casa -aonde eu posso transitar tranquilamente desde a saída da Nádia a alguns dias- foi esclarecedor. Nós duas estamos passando por uma avalanche de desgraças consecutivas, e sinto que nossos poucos encontros são como um refúgio. Sempre me questiono se esse sentimento é mútuo.
Marcamos de nos encontrar novamente para almoçar hoje, em um shopping no centro de Madrid. Eu e Raquel escolhemos o Subway, aonde montamos nossos sanduíches e nos sentamos em uma mesa para dois nos fundos da loja. Raquel limpa seus lábios antes maquiados com um guardanapo e fala em sequência:
-Como você está em relação a separação?
-Bem -mal, me contradigo em pensamento-
-Eu gosto de sair com você. É diferente -então o sentimento é mútuo, concluo felizmente- você não acha?
-Não sei. Talvez -um silêncio ensurdecedor toma conta do nosso almoço-
-Posso te pedir uma coisa? -Raquel quebra o silêncio com seu pedido quase inconveniente- você pode ir na audiência do divórcio comigo? Eu não quero olhar o Alberto sozinha. Eu vou ficar -Raquel engasga nas suas próprias palavras. Observo que sua respiração fica ofegante aos poucos enquanto suas mãos soam nervosas. Relembro da minha pouca prática em consolação e desisto de tentar, apenas assinto concordando em acompanhá-la- insegura -ela completa a frase demoradamente-
-E a polícia? Não tenho te visto no meu departamento -eu início uma conversa aleatória com o intuito de fugir do assunto da audiência do divórcio-
-Eu não estou na homicídios. Estou trabalhando para me tornar inspetora.
-Ótimo -eu respondo sucinta-
-Você tem problemas com o Carlos? -Raquel me questiona e eu sinto anciãs de vômito ao ouvir o nome do meu chefe. Me lembro das passadas de mão na minha perna e nos comentários recorrentes sobre a minha sexualidade e de que ele me "curaria"  em apenas uma transa. Não existe cura para o que não é doença, penso-
-Ele é um filho da puta nojento.
-Já ouvi falar em casos de assédio.
-Todos são verdade. E ele vai pagar -eu sorrio ao me lembrar do que planejo fazer com ele depois da minha promoção-

Nos despedimos e marcamos um novo encontro na minha casa em alguns dias.

[musica tema do capítulo]
Make You Mine
-Public

Ela *finalizada* 2020Onde histórias criam vida. Descubra agora