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2020
Raquel
O barulho do despertador me acorda pela manhã. Sinto o seu som penetrar pelas minhas entranhas insistentemente. Ao meu lado, Alicia mexe no seu celular vagamente acordada. Ela me lança um olhar carinhoso ao ver me ver acordar. Rapidamente, Paula adentra nosso quarto e se joga na cama.  Aos 10 anos, minha filha vê a Alicia também como sua mãe, considerando a ausência do pai. No meio de nós duas, Paula fala animada:
-Eu tenho escola em 1 hora. Eu tentei fazer o café da manhã hoje mas acho que não sou muito boa na cozinha. Quebrei os ovos errado, as cascas se despedaçaram e não consegui mexer no fogão -ela fala meramente envergonhada-
-Tudo bem, querida -Alicia passa a sua mão delicadamente pelos cabelos castanhos e lisos da Paula- a gente te ensina.
-Mas por hoje eu faço o café enquanto vocês se arrumam.

Eu preparo uma omelete para a Paula e separo as nozes da Alicia enquanto as duas se arrumam juntas no andar de cima. Suponho que a minha esposa ja tenha colocado a roupa que escolheu ontem a noite -a Alicia sempre escolhe suas roupas no dia anterior. De acordo com ela, é apenas por ser mais prático, mas eu sei da sua obsessão por parecer perfeitamente intocável sempre-
Paula desce as escadas correndo e Alicia vem atrás. Diante do fogão fritando os ovos, eu sinto a aproximação da minha esposa. Ela beija suavemente meu pescoço. Eu me viro e a beijo rapidamente. Alicia ameaça se afastar, indo na direção oposta da cozinha, supostamente para se sentar na mesa ao lado de Paula. Eu seguro seu braço e a faço recuar:
-Você está bem? -eu a questiono sucinta. Alicia sabe do que se trata-
-Sim.
-Hoje nós contamos para ela? -eu lanço um olhar ela Paula. Alicia assente-
-Ali? -Paula chama a Alicia- quem vai me levar na escola hoje?
-Nós duas. Temos um compromisso depois.
-Que bom!

Alicia
Eu e Raquel deixamos a Paula na escola, e em seguida fomos ao consultório. Não gosto das consultas. Odeio a forma que elas me colocam em um lugar de vulnerabilidade. A obstetra gosta de destacar o fato de eu ser velha demais pra estar grávida. Eu não deveria estar. Eu fiz isso pela Raquel. Muito mais por ela.
-Entramos na 18º semana -a obstetra afirma e me lança um olhar alegre-
-Já podemos contar para a nossa filha? -eu a indago-
-Claro -ela afirma surpresa- achei que já tinham contado.
-A Paula tem dez anos, quando souber vai fazer um estardalhaço. Vai adorar contar para cada colega. Só queríamos ter certeza se esta tudo bem. Com os dois -minha esposa coloca sua mão sobre a minha. Eu sorrio-
-Fiquem tranquilas, está tudo bem.

Saímos do consultório.

Ela *finalizada* 2020Onde histórias criam vida. Descubra agora