Quando Você Se Foi...

CAPÍTULO 1

SUMMER WESTMORE:

Apoiei minhas mãos sobre a porcelana da pia, e senti um arrepio tomar conta da minha pele ao tocar aquela superfície fria. Observei meu reflexo no enorme espelho á minha frente, e soltei uma risada sombria e amargurada, mesmo não achando graça alguma.

Otária! Meu inconsciente gritou.

Definitivamente, aquela madrugada não tinha como ficar pior.
Encarei meu rosto cansado e só consegui pensar no quão patética fui capaz de ser. Era óbvio que seria inútil me declarar de uma vez, era óbvio que aquela decisão seria a mais idiota possível, porém, como uma masoquista inconsequente, resolvi ignorar o bom senso e a razão, e acabei me deixando levar pelas vozes da minha cabeça, que não iriam me deixar em paz até que eu finalmente pudesse abrir meu coração.

Infelizmente, minha vida não era como o enredo de um dos meus livros de romance empoeirados, esquecidos na estante branca do meu antigo quarto da infância. Aquela era minha realidade, e ela me mostrava a cada dia mais, o quanto era monstruosa e cruel.
Nada tinha valido a pena. Nem mesmo as horas que havia passado escolhendo o melhor vestido, ou ensaiando o que iria falar em frente o espelho. Na vida dele, eu fazia parte do time reserva, que só servia nas horas vagas. Ele nunca me olharia daquele jeito, e nem mesmo me beijaria daquele jeito. Do jeito que beijou Gillian, na minha frente.

Tinha sido uma péssima idéia escolher justo aquela boate para revelar meus sentimentos ao Luke. Ele obviamente fingiria estar bêbado, não daria a mínima para qualquer coisa que eu dissesse, e me daria um fora. O que tecnicamente, foi exatamente o que ele fez. Mas havia uma vantagem, eu poderia beber e também fingir ter esquecido de tudo o que rolou no outro dia. Só precisava manter esse disfarce muito bem, mas isso, eu não tinha certeza que conseguiria.

Mas era impossível esquecê-lo tão rápido. Mesmo negando o sentimento que nutria por ele, ainda era difícil superá-lo. Eu sabia o quanto ele tinha sido um babaca, mas mesmo assim, não era tão fácil apagá-lo de uma vez por todas.

Luke Hiddleston era um enigma. Seu olhar era misterioso, e não costumava falar muito sobre si, ou sobre seus sentimentos. Ele exalava confiança, mas por conhecê-lo muito bem, só eu sabia das suas inseguranças, e o medo que tinha de que elas o consumissem por inteiro e destruíssem sua vida.

O seu estilo de roupa refletia em sua personalidade, vestia sempre jaquetas de couro sintético preto por cima da camiseta básica também preta, e jeans com correntes pequenas de enfeites, que faziam barulho quando ele se movimentava.
Seu tom de voz demonstrava frieza imponente que congelava tudo ao redor, e revelava seu caráter manipulador e persuasivo.
Seu livro preferido era Êxtase da tranformação, ele curtia o som do Paramore, e mesmo sendo um dos garotos mais desejados, era inseguro quanto á tudo.
 
E por mais que tentasse, eu não conseguia de maneira alguma, afastar aquele imbecil dos meus pensamentos. Á todo momento, aquelas malditas lembranças "boas" permeiavam a minha mente, como se quisessem me torturar.
Como era possível? Como era possível eu me sentir tão presa á esse sentimento confuso, que nem eu mesma sabia qual era? Era um sentimento novo, que me fazia ter ódio de Luke, mas ao mesmo tempo, querer tê-lo em minha mente e gostar de relembrar tudo que aconteceu. Qual era o problema daquele cara, como ele conseguia mexer tanto assim comigo em tão pouco tempo?
E principalmente, qual era o meu problema?

Em gestos lentos e arrastados, esfreguei os olhos com uma das mãos, e vi todo o lápis de olho borrar e manchar meu rosto. Bufei irritada. Eu já estava bêbada o suficiente para não conseguir retocar a maquiagem sozinha, então apenas liguei a torneira e molhei o rosto inteiro, tirando os resquícios que ainda haviam sobrado.

Tirei um lenço de dentro da bolsa, e comecei a enxugar a parte debaixo do vestido. Mais cedo, um indivíduo qualquer esbarrou em mim enquanto eu tentava andar pela multidão, e acabou derramando bebida na minha roupa, para completar a maravilhosa noite que eu estava tendo. Respirei fundo ao perceber que esfregar um lenço fino umedecido não ajudaria em muita coisa, e resolvi deixar quieto. Ninguém iria reparar naquilo, afinal, não repararam em mim a noite inteira.