Dias atuais.
Acordo ofegante e assustada. Olho para a direita e logo em seguida para a esquerda e vejo que tudo está calmo. Mais um pesadelo, era o terceiro só essa semana. Mas como eu iria evitar? Não ter sonhos ruins em um cenário caótico como esse em que vivo é praticamente impossível. Desta vez sonhei que aquelas criaturas invadiam o acampamento, terminando o serviço e matando o resto de nós.
Suspiro fundo e me concentro em me acalmar controlando minha respiração. Puxo o ar estufando a barriga durante três segundos, logo depois prendo-o por mais três segundos e então o solto, contando até seis. Repito isso mais algumas vezes e sinto então um pouco de calmaria preencher meu ser.
Me levanto e vejo que meu pai e meus irmãos ainda dormem. Pego minha manta e a coloco sobre meu ombro, pois estava frio. Deixo a barraca e olho ao redor. Alguns guardas estavam sentados em volta da fogueira, mas Davi não estava entre eles. Ainda não tinha amanhecido. Olho para o céu e vejo as incontáveis estrelas que dão brilho à tonalidade escura do céu. Uma pequena nuvem cobria parte da lua crescente.
Caminho até os guardas lentamente, coçando meus olhos durante o caminho. Me sento perto do fogo e sinto o calor reconfortante amenizar minha ansiedade e agir sobre meus ossos, cessando a tremedeira.
- Davi já se deitou? - Pronuncio, deixando um bocejo sonolento escapar.
- Ele foi tomar um banho já faz algum tempo. Já deve estar voltando. - O guarda mais alto respondeu, com sua voz grossa e rouca.
Fiquei em silêncio. Nunca fui boa em manter uma conversa, mas não por falta de interesse ou antipatia, apenas não conseguia agir diante a desconhecidos ou pessoas que não tenho muita intimidade.
Lembro-me de quando fiquei amiga de Davi. No começo eu o detestava, pois ele sempre foi mais falante, inventando diversas brincadeiras e conversas e eu apenas queria ficar quieta. Até que um dia, George, um dos grandes babacas mirins do vilarejo decidiu implicar comigo. Davi foi o único que me defendeu. Ele literalmente levou um soco ao fazer isso, então eu cuidei do pequeno ferimento dele e assim nasceu uma linda amizade.
Hoje em dia consigo me defender muito bem sozinha, mas é sempre bom saber que há alguém contigo, pronto para lutar ao seu lado quando for preciso.
Mais alguns minutos se passaram e eu permaneci sentada, esperando por Davi. Passou-se cinco, dez, quinze, vinte minutos e nada dele. Comecei então a ficar preocupada.
- Acho que vou atrás dele. - Anunciei, levantando-me e dando passos largos em direção à cachoeira.
A cada passo que eu dava meu coração batia mais forte. Tentei controlar minha respiração, pois nervosismo não iria melhorar as coisas.
Após cerca de três minutos andando bastante rápido enfim eu estava na cachoeira. A calmaria desse lugar me preenche e o agradável som da água caindo me traz paz.
Olho para os lados, na tentativa de achar meu melhor amigo. Caminho sobre as pedras que beiravam a cachoeira, me equilibrando.
Chego mais perto da queda d'água e vejo algumas roupas no chão. Me aproximo e me abaixo, observando-as.
São as roupas que Davi usava quando cheguei no acampamento mais cedo. Olho novamente para água e a vejo vazia. Minha respiração voltou a ficar pesada e senti meu peito queimar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Vilarejo Dalinne
Mystery / ThrillerAssassinos canibais e cruéis devastaram o Vilarejo Dalinne, obrigando todos os sobreviventes a fugirem e encontrarem um novo lar. Três anos depois, Dália, uma das sobreviventes, se vê obrigada a procurar comida em lugares mais afastados e se depara...