C a p í t u l o U m

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Sinto meu coração palpitando forte em meu peito, que se encontra sujo e molhado de suor. Por mais que eu esteja cansada e ferida, não me permito parar de correr.

- Por favor! Me ajude! Não me deixe pra trás! - Exclamou a mulher que corria junto a mim, mas a poucos metros de distância.

O que eu deveria fazer? Ajudar a pessoa que literalmente cravou uma faca em meu ombro e me roubou ou correr para salvar minha vida e deixa-la sozinha, consequentemente sacrificando a dela?

- Eu lhe imploro, não me deixe aqui! - Sua voz ficou mais alta e eu pude notar seu choro escapando entre as palavras que saíam de sua boca.

Olhei para trás e percebi que o que nos perseguia não estava mais atrás de nós. E isso não me deixou nem um pouco mais tranquila. Onde ele estaria? Teríamos nós o despistado? Pouco provável. Desacelerei e olhei fixamente para a ladra, tentando pensar em algo.

- Vem, a gente consegue! Mais rápido! - Comecei a andar lentamente em direção da mulher.

- Eu não consigo... eu estou sangrando muito. Me ajude, por favor... - ela então caiu no chão. Seu choro de vez em quando era cortado por seus gemidos de dor. Ela me encarou fixamente, o desespero no olhar dela era algo gritante.

Eu estava perdendo tempo, estava ciente disso. Precisava tomar a decisão. Me aproximei ainda mais, me abaixei e a ajudei a se levantar. Passei seu braço ao redor do meu pescoço e o larguei em meu ombro, em cima da alça da mochila. Comecei a correr, mas ela não conseguiu me acompanhar e caiu logo em seguida.

Pude escutar barulhos de galhos quebrando, o que indicava que algo estava se aproximando. Pude sentir meu peito inteiro gelar e podia jurar que meu coração havia parado por alguns míseros segundos. Tinha que agir agora ou seria tarde demais pra ambas de nós.

- Me perdoe! Por favor, me perdoe! - disse enquanto começava a me afastar novamente dela.

- Não! Não! Por favor, volte! Socorro! Não me deixe! - Ela gritou apavorada enquanto eu me afastava lentamente. A mulher então começou a rastejar no chão usando seus cotovelos na tentativa de salvar sua vida.

Me virei, segurei forte o saco com o animal morto e voltei a correr, dessa vez mais rápido e com um grande aperto no coração. Poucos instantes depois um grito ensurdecedor e apavorado ecoou pela floresta, o que me fez acreditar que ele havia a encontrado. Era tarde demais para ela. Com lágrimas começando a escorrer pelo rosto, tentei me localizar novamente. Faltam pouco menos de um quilômetro até o acampamento. Eu estava ofegante e visivelmente cansada, mas teria que aguentar correr mais um pouco.

O que havia acabado de acontecer? Eu a vi rastejar pela vida e simplesmente fugi. Ela me apunhalou mais cedo com sua faca, mas eu a deixei ser capturada e sabe-se lá o que farão com ela antes de mata-la e devora-la, o que era bilhões de vezes pior.

Tentei pensar em outra coisa, mas era praticamente impossível. A culpa pesava mais do que qualquer outra coisa no momento e nada poderia me fazer sentir melhor. O rosto dela estampava pânico, seus olhos cheios d'água estavam gritando por socorro e eu não consegui salva-la. Imagino que ela deve estar apavorada neste momento enquanto é levada de volta para o vilarejo, para o lugar onde perdeu seu pai, sua casa e seu sossego.

Vejo uma claridade vindo de trás de mais alguns troncos de árvore. Avanço mais um pouco e posso ver uma fogueira e três homens de guarda ao redor dela. Um dos homens percebe minha presença e se põe em posição de ataque rapidamente e logo em seguida os outros dois fazem o mesmo.

- Quem está aí? - anunciou o homem mais alto, mirando seu arco e flecha em minha direção.

- Calma, minha retaguarda está segura! - respondi andando até eles.

O Vilarejo Dalinne Onde histórias criam vida. Descubra agora