Cap 4 - Hugo

840 133 87
                                    


4

Hugo

Se eu estivesse atuando em um episódio de Friends agora, esse seria o momento em que as risadas ecoariam. Encaro a mulher a minha frente, seus seios estão tão empinados que minhas mãos coçam de vontade de tocá-los, por isso as esfrego em meu rosto e respiro fundo.

Uma série de acontecimentos acabou resultando no segundo pior dia da minha vida. Sim, você leu certo, segundo, entre marido e mulher na frente de um juiz é algo que não recomendo a ninguém, mas isso não vem ao caso agora.

Encaro meu filho, depois ela, Bianna, isso é mesmo um nome? Nunca na vida fiz um papel tão ridículo como agora. Enfio meu celular no bolso de trás, nem consigo acreditar que o estava usando agora mesmo como tradutor. Ela me encara com seus olhos verdes arregalados, posso ver pela forma na qual muda constantemente o peso de perna, que está nervosa. Um cheiro delicioso sai de seu apartamento e meu estômago dói. Nem consigo lembrar da última refeição decente que fiz.

— Então você é brasileira. — sibilo.

Suas sobrancelhas se erguem. Sinto as mãos do meu filho tocarem minha perna.

— Sim — responde, mesmo que eu tenha feito uma afirmação e não uma pergunta para ela.

— Ótimo, então eu posso concluir também que você não tem nenhuma deficiência auditiva e é completamente capaz de compreender cada palavra que sai da minha boca?

— O quê? — pergunta ela ao colocar a mão no ouvido como se não estivesse me ouvindo direito.

— Há-há, muito engraçada — coloco as mãos na cintura. — Você quebrou minha câmera, tem noção do quão fodido foi o meu dia por causa disso?

— O meu dia também foi péssimo por causa do nosso "encontro" pela manhã, acredite — afirma ela segurando a porta que parece estar prestes a fechar na minha cara a qualquer momento.

— Tenho certeza que não chegou nem perto de como foi o meu — reafirmo.

— Vai querer competir? Quer que eu desenhe para compararmos? — pergunta ela colocando as mãos na cintura imitando meu moimento e me encarando de volta com tom de desafio no olhar. Provavelmente prestes a pegar uma caneta e um papel e literalmente desenhar em uma folha de papel o quão ruim foi seu dia para deixar bem claro. Isso se não me enfiar a caneta no meio dos olhos.

Que raiva. Como ela pode me deixar sentindo emoções tão contraditórias? Ao mesmo tempo em que quero sacudi-la pelos braços para que ela entenda que a culpa é dela sim e que ela precisa pagar minha câmera de volta, não consigo parar de reparar que há algo em sua bochecha, parece farinha, eu não sei, mas tudo o que quero fazer é lamber para provar.

Continuamos a nos olhar. Ela bate o pé impaciente no chão como se o corpo dela inteiro estivesse me dizendo "terminou?".

— Cinco mil e duzentos reais — digo, pausadamente. — Este é o valor que me deve.

Ela enche os pulmões de ar e me surpreende com uma gargalhada.

— Breno, tape seu ouvido, querido — pede sorrindo para meu filho que obedece.

— Tudo bem... pronto — fala ele.

Então ela me olha.

— Duas palavras para você. Teu. Cu.

Abro a minha boca, mas não sei o que dizer, porque essa mulher é totalmente sem noção. O que diabos se passa em sua cabeça? Não consigo me lembrar de um encontro descente que tivemos, porque em todas as vezes, ela acabou fazendo algum tipo de merda.

Doce VizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora