Cap 5 - Bianna

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5

Bianna

Hoje já é o segundo dia em que a culpa por não ter meu sono completo é do meu vizinho. Mas desta vez não por ele me acordar gritando, mas sim porque perdi o sono pensando na maldita câmera. De onde eu iria tirar dinheiro? Eu não faço ideia. Impossível. Nem dinheiro para comprar uma bolsinha para rodar na esquina eu tenho!

Depois de muito meditar, rolar de um lado para o outro na cama, brincar com o safado do macaco, — que em uma determinada hora da madrugada resolveu dar as caras — cheguei à conclusão de que a culpa era cinquenta por cento minha. Merda. Minha consciência não me deixaria dormir em paz nunca mais se eu não desse um jeito nesta história com Hugo.

Hugo.

Então este é seu nome. Sempre que esbarrava com ele pensava em que nome combinava mais com ele, no entanto, Hugo nunca tinha me passado pela cabeça. E que loucura pensar que Breno é filho dele! Eu converso com aquele pestinha há semanas e ele nem para me contar este pequeno detalhe.

Inclusive, espere! Se Breno é filho dele, ele tem que ter uma mãe, não é mesmo? Será que ele é casado? Oh, não, lembro dele falando algo sobre serem divorciados. Além disso, nunca vi a mesma mulher saindo do apartamento dele pela manhã. Elas são sempre diferentes e dos tipos mais variados, por isso, nunca pude descobrir de que estilo de mulher ele gostava justamente por causa disso.

Hugo pode não ter reparado que uma pessoa da mesma nacionalidade que ele mora na porta ao lado, mas eu com certeza reparei que um brasileiro morava colado comigo. E é mesmo impossível não reparar, uma vez que minha cozinha e seu quarto são divididos pela mesma parede.

Justamente o cômodo no qual passo a maior parte do tempo, ou seja, escuto absolutamente tudo o que se passa lá dentro. Sabe aquele papo de, "entre quatro paredes você pode fazer o que quiser", então, Hugo leva isso ao pé da letra e com isso escuto muitos Oh, sim, goza pra mim e foi exatamente assim que eu descobri.

Reviro na cama de novo, bufando ao constar novamente que meu vizinho tem uma vida sexual incrivelmente ativa, enquanto eu por outro lado, estou aqui subindo pelas paredes, cheia de tesão e sim, com muita inveja, inveja das mulheres que gritam de prazer a plenos pulmões como se estivessem com um Deus. Será que ele realmente é? Por que eu sinto vontade de saber?

E eu sei que se quisesse fazer sexo isso não seria um problema, que eu poderia simplesmente ir a um barzinho ou uma balada e voltar para casa com um alguém para passar a noite, mas estou tão focada em ganhar a vaga no final do meu curso que sequer consigo considerar a possibilidade de me arrumar e sair para conhecer alguém. Gasto todo o meu tempo e minhas energias cozinhando.

No entanto, são em momentos como esse que percebo que também preciso relaxar um pouco, me desligar de tudo, ter uma boa noite de sexo. O problema? Bem, é que eu só consigo pensar em uma pessoa capaz de fazer isso. Estou há tempo demais pensando em Hugo e não sei se é porque falei com ele pela primeira vez e agora sei que sabe que eu existo ou porque tenho uma dívida com ele.

Meia dívida.

E é claro que o infeliz tinha que ser fotógrafo e quebrar o seu principal meio de ganha pão e agora minha consciência não iria mais me deixar paz. De um jeito ou de outro, tenho que arrumar essa bagunça que fiz, ou melhor, que fizemos. Porque uma pessoa não se esbarra sozinha. Quer dizer, eu até consigo esta façanha de tão desastrada que sou, mas não iria admitir isso para ele para que jogasse ainda mais a culpa em cima de mim.

O sol já apareceu na janela, olho no relógio, são sete e meia da manhã de sábado. Hora de levantar. Coloco uma calça de ginástica, uma blusinha de academia, um agasalho, meus tênis e faço um rabo de cavalo bem alto depois que decido sair para correr alguns quilômetros. Quem sabe assim, quando deitar na cama de noite meu corpo esteja tão cansado que eu não fique pensando tanto.

Doce VizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora