Cap 6 - Hugo

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6

Hugo

Já se tornou repetitivo dizer que meu dia começou uma merda, ou melhor, com uma merda, porque bem, aqui estou eu, ao acordar, enfiando meu pé em algo mole e fedido novamente, no entanto, não foi bem isso que me fez chegar a essa conclusão, mas sim a quantidade de vezes que meu celular já havia tocado antes mesmo que eu tivesse aberto meus olhos esta manhã.

Bianna está na minha sala e eu estou no quarto me vestindo o mais rápido que posso, pois tenho poucos minutos para chegar no estúdio e refazer um ensaio e ainda preciso pegar a câmera que Luke, meu melhor amigo e também fotógrafo, me emprestou novamente. Além disso, preciso estar impecável ao chegar lá, preciso parecer descente e responsável antes de explicar o que ocorreu com todas as centenas de fotos que ocupavam meu cartão de memória e que deveriam estar sendo editadas agora.

Tento afastar isso da minha mente enquanto visto minha roupa de trabalho e pego meus equipamentos. Bianna estar no cômodo ao lado enquanto puxo minha camisa para fora do corpo, faz com que eu tenha pensamento impróprios ao me lembrar de sua voz cantarolando como um gemido. Não posso evitar o sorriso sacana se se forma em meu rosto.

Se ela soubesse o quanto gozei da última vez enquanto pensava nela, sem dúvidas estaria com o celular em mãos digitando o número da polícia e me denunciando como um tarado depravado que vive no apartamento ao lado. Ela não estaria dizendo nenhuma mentira, no entanto.

Passo as mãos no rosto e tento me concentrar em uma coisa broxante, preciso me livrar da ereção que se formou apenas por pensar nela dentro do meu apartamento. Penso na franja curvada da minha tia, avô, Doralice, e isso resolve na hora. Que Deus a tenha. É impressionante como uma pessoa que já partiu dessa para melhor ainda pode ajudar você de alguma forma.

Me sinto tão ridículo por tentar falar com ela em espanhol que mal posso acreditar que isso realmente aconteceu. Sim, isso é algo que nunca, nunca será dito em voz alta na frente de ninguém. Se eu tivesse um egômetro, ele teria ido do cem ao zero em questão de segundos. É algo que terei de superar, eu apenas não sei quanto tempo irá passar até que eu possa realmente rir sobre isso.

Muitos longos anos eu aposto.

Encaro meu filho na cama, outra coisa impressionante é a forma como ele dorme. Duas coisas que nunca irei entender na minha vida. Uma, o fato de ter coco no meu chão quase todos os dias sendo que não tenho um animal de estimação, outra, é como alguém é capaz de dormir com os joelhos dobrados para cima. Eu não faço ideia, ninguém faz, é algo que realmente passo bons minutos olhando, incrédulo.

Ainda não sou capaz de acreditar que esse menino tem se esgueirado pelas escadas de incêndio rumo ao apartamento dela há semanas. Além de ser perigoso, é totalmente imprudente, só Deus sabe o que ele poderia encontrar indo até a janela de alguém. Apenas pensar sobre isso me deixa nervoso.

Depois de um longo sermão na noite passada, espero realmente que tenhamos ficado muito, muito entendidos, além disso, preciso me lembrar de comprar cadeados para trancar as janelas, apenas para o caso dele não ter aprendido a lição. Até nisso ele se parece comigo, preciso confessar que meu filho sabe ser tão teimoso quanto eu.

— Breno — eu o cutuco. — Filho?

Seus olhos se abrem com dificuldade e ele grunhe.

— Preciso ir para escola? — choraminga.

— Não, porque você está de férias, e porque é sábado.

Breno se vira de lado e puxa as cobertas até cobrirem sua cabeça por completo.

Doce VizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora