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passado e festas de saudade

"muita gente partindo
e partindo muita gente"
- Davi Melo

"muita gente partindoe partindo muita gente" - Davi Melo

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Catarina

Eu tive uma infância boa, extremamente boa. Meus pais sempre trabalharam, mas também sempre arrumaram tempo para ficar comigo. E eu também nunca fui uma criança solitária, quando mais nova eu passava os dias na creche e depois na escolinha o dia inteiro, seja brincando com outras crianças ou ajudando os professores e as crianças mais novas, já que eu era uma das poucas que passava o dia inteiro lá. Mas eu não tenho reclamações nenhuma quanto a isso, eu adorava fingir que era professora e perambular de um lado para o outro. Acho que foi daí que surgiu minha paixão por ensinar.

Meus pais sempre me deram o melhor que podiam, Augusto e Andréia passavam o fim de semana inteiro comigo na piscina do condomínio, e eu sempre me senti acolhida e amada por eles, então não me entenda mal quando eu digo que não quero tantas visitas no tempo em que estou na faculdade, porque apesar de amar meus pais, as vezes eles me sufocam um pouco, ainda mais depois dos acontecimentos dos últimos anos.

Minha mãe sempre teve um senso de proteção muito grande, e quase quis tirar uma licença do trabalho quando tudo aconteceu, óbvio que não a deixei fazer isso, minhas ações não poderiam impactar a vida dela de forma tão negativa assim, e esse foi na verdade um dos meus maiores incentivos para mudar e não repetir meus atos. Quando minha mãe soube que eu iria mesmo me mudar para a faculdade, ela ficou um pouco triste e preocupada demais, mas fizemos alguns acordos e com isso ela e meu pai me deixaram me mudar e ajudaram com tudo. Só que agora que eu já estava acomodada no novo apartamento, queria mudar uma dessas condições e estava criando coragem para dizer isso a eles.

— Mãe, pai, eu quero conversar algo importante com vocês. — falei me virando no sofá para os dois que estavam na outra ponto do mesmo.

Eles apenas viraram para mim e meu pai silenciou a televisão, que passava o jornal a esse horário da noite, esperando que eu falasse.

— Eu sei que a gente combinou... mas eu não acho que preciso continuar a ir na psicóloga. — falei nervosa e encarando suas feições.

— Cat, você sabe que essa não era uma das, mas praticamente a única condição para você se mudar, não é? — meu pai disse, calmo e sério, perdendo o ar de engraçado que tinha a minutos atrás enquanto jantávamos.

— Eu sei, mas...

— Não Catarina, ou você continua as seções ou não vai ficar aqui sozinha. — minha mãe disse firme, percebi que ela não queria dizer aquelas palavras tão duras, mas era isso, eu não tinha outra escolha.

— Tudo bem. — suspirei — Então você encontra uma e marca a uma consulta para mim?

Minha mãe fez que sim com a cabeça e meu pai tirou o modo mudo a televisão, e eu sabia que tinha perdido. Não tinha a mínima chance de meus pais mudarem de ideia, e eu até entendia o lado deles, mas queria que acreditassem em mim quando eu dizia que estava melhor. Mesmo que eu não tivesse tanta certeza assim.

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