Outono sempre significou período de interiorizar, fortalecer raizes, para superar o inverno.
Neste caso refiro-me ao outono da natureza.
Já o outono da vida era tido como um período rico, um período de usufruir da sua aposentadoria, onde os dias todos seriam de fim de semana, com a possibilidade de passeios, viagens, fazer o que você não teve tempo de fazer quando esteve na sua vida produtiva. Sim viria o envelhecimento, mas estaria longe de ser a decadência, pois seria o início ou adolescência da terceira idade, como já o apelidei um dia.
Hoje a situação mudou. Estamos tendo que ver o início real do envelhecimento.
Até os pequenos estão amadurecendo sem perceber. Ao não ir à escola, não brincar com os colegas estamos tirando a inocência e trocando por medo.
Ultrapassaremos, diz minha mente consciente. Quando? Eu pergunto pelas crianças.
Para quê? Eu pergunto por mim.
Hoje minha mente está fatalista.
Mas minha função aqui com vocês, é analisar, tirar o véu, transfigurar a realidade para melhor, se possível.
Já imaginei o outono da vida como se você tivesse subido a montanha lentamente durante os anos e agora está sentado lá no topo olhando e curtindo a sua trajetória e usufruindo das suas conquistas.
Naquela época era real esse cenário imaginado. Mas os anos passam e os cenários mudam.
Aí quando acontece algo inimaginado como o que está ocorrendo neste momento, um vírus assassino, que sequer é uma célula completa, um arremedo de célula que se apropriou do nosso universo e se expande de forma exponencial causando a morte de milhares de pessoas por todas as partes do mundo, um coronavírus que causa uma doença a que se chamou COVID-19 então, aquela perspectiva anterior muda. E muda muito!
Mas o outono, estação do ano, não mudou e continua lindo, ainda bem!
As folhas amareladas, o tapete de flores das árvores como paineiras ou jacarandás, o vento frio no começo e fim do dia são os sinais da natureza de que é outono.
Os parques estão fechados e aqueles que são abertos e convidativos, se tornam um perigo para o contágio do vírus, com o acúmulo de pessoas andando a menos de dois metros de distância um do outro e sem máscaras.
Qual vai ser o novo normal? Quando vai acabar o isolamento ou distanciamento social? Já não nos basta o outono da vida, o envelhecimento progressivo?
Temos que aprender que não temos mais o livre direito de caminharmos em grupo ou em duplas de amigos, se não formos da mesma bolha. (moradores da mesma casa).
Calma, digo a mim mesma. Procure e achará algo bom nesse outono.
Então vamos lá.
Vou rememorar fatos ou contar histórias que é a minha proposta.
Vou buscar inspiração na vida, no que eu vi, ouvi ou vivi. Essa é minha função atual.
Vou falar de comidas. Já perceberam que no inverno a comida tem uma função muito familiar? É muito diferente do churrasco de verão. No churrasco de verão, vem os amigos dos filhos, as amigas da mãe que geralmente são esposas dos amigos do pai, vem o amigo adolescente vizinho de outro adolescente, de tal forma que não é um evento intimista.
No inverno ou no caso, no outono quase inverno, as pessoas tendem a fazer programas em casa e saem os caldos, os fondues, os chocolates quentes, os bolos com café, os sopões. E geralmente em família. Ninguém faz essas delícias só para si.
Por isso pensar no outono/inverno já me traz saudades.
Na época dos meus pais nos juntávamos na cozinha, porque lá era quentinho, o fogão de lenha crepitando, as labaredas lindas e nós ali todos em volta, contando histórias, falando "abobrinhas", esperando o jantar.
Que seria um "pucheiro", comida típica paraguaia, ou um "vori-vori", ou dependendo das condições seria só um biju com chá mate, com o tempinho frio de pano de fundo.
Tinha também um prato delicioso, feito com carne moída, caldo de feijão, macarrão cabelo de anjo, e por último quebrava-se uns ovos. Nossa, esse era muito bom e tem um nome difícil, que não vou saber escrever. As delícias do povo paraguaio eram feitas para dar "sustância"!
No finzinho de outono e no inverno todo, o senso familiar era bem intenso.
E eu levei isso para a minha própria família. E meus filhos levaram para as famílias que criaram.
Hoje, as condições são outras, as crianças só conhecem fogão à lenha de algum passeio típico, mas mesmo assim tenho certeza se sentem cuidados, quando a mãe ou o pai ajeitam melhor os cobertores e edredons, quando tem a sopa no jantar, as comidas preferidas, os pães de queijos, os bolinhos de chuva, os chocolates quentes, todas essas guloseimas do inverno voltam à mesa.
Mesmo que em nosso país, o Brasil, não tenhamos tanto frio existem regiões que os ventos predominam trazendo o frio de outros países, como no sul do país, e há lugares que são um forno no verão e no inverno um frio de cortar, provenientes das montanhas, como uma cidade aqui do Mato Grosso do Sul chamada Corumbá.
De todo modo somos um povo abençoado se considerarmos os países onde o inverno é praticamente o ano todo.
O sol está aquecendo esta manhã de outono na qual eu espero ter alegrado um pouco vocês, com minhas histórias!
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Contos da Quarentena 1- A pandemia
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