Mãe

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Jonh Lozert

Acordei com uma goteira pingando em meu rosto "Droga!, vou ter que arrumar isso de novo". Se bem que, já passavam das 8 horas e eu tinha muito trabalho a fazer...

Morar num sótão não era tão ruim quanto parecia, tirando as goteiras e os pombos visitantes, eu tinha privacidade. E também não era assediado pelos demais do orfanato.

Vir pra cá foi uma decisão da Srta. Annie, segundo ela, para o meu próprio bem e dos outros moradores da casa. E cabia a mim aceitar.

Minha rotina era simples, acordava após os outros meninos irem para o colégio, arrumava a mesa do café e terminava de limpar a casa.

O motivo de eu não ir a escola?

Você não é inteligente o bastante para a escola, se sai bem melhor como empregado e...pelo menos tem um teto - Era o que me diziam.

Mas nem tudo era tão ruim quanto parecia.

Eu tinha uma pessoa, uma mulher chamada Marta. Ela foi o mais perto de uma mãe que eu tive, sempre aos fins de tarde ia me visitar e passava horas lendo comigo, todas as vezes eu contava meus sonhos ou pesadelos e ela me acalmava com suas canções mais belas.

Aquele dia ainda estava nublado da chuva de madrugada quando as crianças voltaram mais cedo da escola, pegando de surpresa a Srta. Annie. Ao todo eram 8 meninos, abriram o porta rapidamente e um grupo foi diretamente ao escritório e os outros subiram ao quarto falando bem alto.

Eles falavam que tinham sido liberados devido a uma ameaça de bombardeio, outros disseram que um trem descarrilhou antes de chegar a estação, matando dois professores da escola.

"Marta era professora", pensei naquele instante

A ansiedade e o medo tomou conta de mim, aquela sensação de aperto no estômago ficava mais forte a cada minuto que passava.

Terminei as atividades do dia e voltei para o sótão. Arrumei meus livros e a esperei pela janela.

O tempo passou e nada...

A noite caiu sobre a cidade e o seu horário já havia passado, as luzes no céu ficavam formosas e aviões rodeavam as nuvens. Certamente eu não me importava com isso, só queria saber onde ela estava.

Em 10 anos nunca havia se atrasado um dia sequer.

Então o carro que sempre a deixava na porta do orfanato parou, meu coração se encheu de alegria e eu voltei a sorrir. Até que um homem de terno branco saiu do banco do passageiro.

Minha feição mudou.

Ele estava aparentemente abalado e trazia consigo uma pasta de papel e um lenço.

Entrou rapidamente pela porta da frente e foi até o escritório de Annie.

A vantagem de morar em um sótão é que as tubulações passam por lá, tornando aquele ambiente o ouvido da casa, indo nos locais e canos específicos você descobre uma boa conversa e fica sabendo de tudo que acontecer no orfanato.

Fui até um pequeno cano que ecoava atrás da porta e escutei:

- Sinto muito pela sua perda, Sr. Lawrence.

Ora, Lawrence? Eu sabia que era o sobrenome da Marta, mas e aquele homem? Quem era? Irmão, marido? Ou filho!

Se bem que ele era muito velho pra ser filho dela.

- Ela estava indo buscar a mãe em outra cidade para comemorar amanhã a noi...- a voz do Sr. Lawrence foi novamente cortada pelo ranger metálico do cano, mas ele continuou - Essa aqui é a papelada da adoção dele, era um dos maiores desejos dela...

Meu coração estava entristecido com a partida inesperada de Marta, ela foi a mãe que eu nunca tive, e apesar de tudo o que aconteceu, ela me amava.

- Sinto muito Sr. mas a adoção dele é num tanto dificultosa, e você sabe disso - Era a voz de Annie-

- Sim, eu sei que dificultei muita coisa pra ela e o garoto, mas entenda que algumas coisas devem ficar no passado- Indagou Lawrence com um tom de pesar. - Aliás, na idade dele ninguém vai querer o adotar, e em breve o governo virá remover o garoto!

Eu não entendia o que significava "o governo irá me remover" mas confesso que senti medo; Osilêncio da noite passou e os canos começaram novamente a ranger.

Puxei o cano para baixo de modo que a audição melhorasse, mas ele se partiu em dois.

A pressão fez com que os outros canos rangessem mais alto como se estivessem pedindo socorro. E quanto mais barulho eles faziam, mais tremiam fazendo o sótão vibrar como se eu estivesse dentro de uma caixa de sapatos.

Então uma sirene distante tocou.

Estávamos sendo bombardeados!

Fui até a janela e vi Lawrence correndo até seu carro,mal sabia que aquela seria a última vez que o via.

A luz dos postes tinha sido cortada. E seu carro mergulhou na escuridão

 E seu carro mergulhou na escuridão

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Marta e seu primeiro filho, 1926

Jonh Lozert e O Herdeiro de GólgotaOnde histórias criam vida. Descubra agora