Segunda-feira – cinco dias
Piper tinha se esforçado ao máximo para não pensar naquilo, mas era impossível. Faltavam dois dias para o seu aniversário, e já tinha se passado quase um ano, mas ela sabia que nunca iria superar.
A garota tinha descendência indígena, e por isso sempre fora alvo de piadas maldosas por parte de seus colegas de escola. Isso fez com que seus únicos amigos fossem seus pais e seu avô. Piper amava o vovô Tom. Ele também tinha descendência indígena, e vivia dessa maneira, até mesmo morava em uma floresta. Até o ano retrasado, Piper achava o máximo o fato de seu avô morar numa floresta, mas no ano seguinte isso se tornou um pesadelo, quando um incêndio florestal aconteceu. Seu avô não conseguiu sobreviver.
A mãe de Piper era uma modelo famosa, e por isso fazia constantes viagens de avião, e foi numa dessas viagens que o vôo desabou e ela faleceu. O pai de Piper estava horrivelmente devastado. A dor tinha o cegado tanto que ele não percebeu quando alguns funcionários da sua empresa armaram um golpe contra ele. Assim, em menos de cinco meses, Piper perdeu o avô, a mãe, o pai — a depressão vinha matando sua alma — e todo o dinheiro e conforto que tinha. Seus aniversários sempre foram comemorados com os três, e ela não estava pronta para comemorar seu décimo sétimo aniversário sozinha.
De manhã cedo, foi para a escola; precisava ocupar a mente com alguma coisa. Apesar de tentar se animar, Piper passou o dia inteiro se arrastando. Nem mesmo as trapalhadas de Frank ou as palavras gentis de Hazel a ajudaram. Muito pelo contrário, apenas pioraram a situação. Quanto mais tempo ficava naquela escola, mais Piper se sentia apegada a eles, e percebia que eles também estavam se apegando a ela. Isso não podia acontecer.
Quando a aula acabou, ela não queria ir para casa. Já tinha ouvido que a mente vazia era a oficina do diabo, e não que acreditasse na existência dele, mas sabia que a sua mente vazia não iria fazer algo bom. Tentou ler, assistir algum filme, correr pelas ruas de Beverly Hills, mas nada conseguia lhe distrair. Ela parou em frente uma boate, e pensou que se não conseguia limpar sua mente, podia deixá-la ainda mais embaçada. Entrou na boate mesmo sem identidade – nada que um sorriso malicioso num rosto inocêncente não resolvesse – e passou horas a fio sentada no bar. Não gostava do que fazia, mas tinha sido a única válvula de escape que tinha encontrado no meio daquela confusão.
Apesar de sempre fazer as clássicas coisas vergonhosas de bêbado, Piper se recusava a vomitar em qualquer lugar desconhecido. Quando sentiu que o estômago estava começando a embrulhar, pediu um copo para viagem. O garçom riu e perguntou:
— Você está querendo dizer que quer comprar uma garrafa?
— É, é, deve ser isso – falou ela esfregando os olhos. Abriu a bolsa com dificuldade e teve ainda mais dificuldade na hora de contar o dinheiro para pagar a conta.
— Você vai precisar de um táxi? – perguntou o garçom, vendo a carteira vazia depois de toda aquela bebedeira.
— Eu não tenho mais dinheiro – resmungou ela. – Me empresta uns trocados? Eu juro de dedinho que vou voltar aqui em breve.
— Não precisa voltar – falou o garçom, lhe entregando uma nota de vinte. – Não venha mais aqui, procure um psicólogo.
— Uma garrafa de licor é mais barata que uma psicóloga — falou ela, apontando o dedo para ele como se tivesse o pego fazendo algo de errado. – Adeus, querido. Tenha um bom Natal com a sua família.
O garçom riu; já estava acostumado com situações como aquela. Piper se levantou cambaleante e saiu do bar. Conseguiu pegar um táxi rapidamente e logo estava em casa. Como se seu enjoo tivesse um timer, a garota apenas teve tempo de correr para o banheiro e vomitar. Quando terminou, olhou-se no espelho e, se estivesse sóbria, teria sentido pena de si mesma. O rosto estava inchado de tanto chorar, os olhos vermelhos e marejados. Deitou-se na cama e pegou a garrafa de bebida que tinha comprado. Se já estava ruim, por que não piorar? Piper deixou boa parte da bebida para o dia seguinte, pois sabia que não iria querer estar sóbria na quarta-feira, dia do seu aniversário, e que também não tinha mais dinheiro para ficar gastando à toa. O pouco que bebeu foi suficiente para lhe fazer pegar o celular, abriu o grupo dos amigos da Half-Blood e mandar um áudio.
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A Cesta Perfeita
FanfictionVencer aquele campeonato de basquete era a melhor - e única - salvação para a Half-Blood School. Mas, faltando poucos dias para a final, uma maré de azar se instala na escola, e não há outra saída senão usar a persuasão de uma das alunas de lá. Pip...