Prólogo

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               O feiticeiro corre através da densa floresta o mais rápido que a vegetação lhe permite e mais do que havia corrido em toda a sua existência

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               O feiticeiro corre através da densa floresta o mais rápido que a vegetação lhe permite e mais do que havia corrido em toda a sua existência. Os inimigos em seu encalço vêm de sua distante e congelada terra natal e estão dispostos a tudo para tomar-lhe o frágil pacote que está em seus braços, mesmo que para isso seja preciso aniquilar todos os que estiverem em seu caminho, assim como fizeram com quase duas centenas de formidáveis guerreiros hyperianos, que se mostraram incapazes de detê-los e nem tiveram a chance de uma luta justa, sendo facilmente chacinados para, em seguida, serem revividos com magia negra e postos a lutar contra os ex-companheiros.

               Seus perseguidores, assim como ele próprio, são necromantes. Cruéis, sem medo, sem escrúpulos, desprovidos de sentimentos, movidos meramente pelo desejo de poder.

                Os frustrou quando lhes subtraiu a presa e, agora, vieram reclamá-la. E ele acelera o passo além do que acreditava ser humanamente possível, embora tenha deixado de ser humano há mais de um milênio. Bem diferente da carga em seus braços, que ainda não completou uma hora de vida, mas que se trata do fardo mais precioso que já carregou em todos os séculos pelos quais passou.

                Uma névoa púrpura, aparentemente dotada de vontade própria o persegue de perto. Por onde ela passa, deixa terra devastada. As árvores secam e algumas viram pó. Os animais fogem desesperados. Os que são atingidos pela bruma morrem e imediatamente se transformam em zumbis, ávidos para destroçar o bruxo. Todavia, o feiticeiro não está indefeso. Quando um dos mortos-vivos surge à frente dele, ele passa a segurar a delicada trouxa apenas com seu braço esquerdo e transmuta o direito numa massa negra e brilhante que vibra de energia. A garra mística dilacera o infeliz desmorto em segundos. E o bruxo prossegue em sua corrida desenfreada.

                Os zumbis são lentos demais para alcançá-lo, mas não são os únicos, além de seus compatriotas, a persegui-lo. Ele ouve as ruidosas passadas aproximando-se de suas costas. A peluda aberração, de quatro metros de altura, está em seu encalço. Continuar correndo será inútil, pois esse inimigo fatalmente o alcançará. É possível sentir até o hálito fedorento da bocarra escancarada, vertendo a pegajosa saliva que cai por entre as desgrenhadas fileiras de dentes pontiagudos.

               O feiticeiro para antes que a feroz besta chegue perto o suficiente para atacar. Cuidadoso, deposita a trouxa numa reentrância sob um tronco providencialmente caído e volta-se para o titânico adversário.

               Mas, nesse movimento, a criatura já o atinge com poderosas unhas medindo quarenta centímetros de comprimento. Conjurador fenomenal, ele consegue invocar proteção milésimos de segundos antes das garras mortais penetrarem sua carne e a gigantesca pata é destruída por uma descarga energética elemental. O bicho mal tem tempo de emitir lancinante urro de dor, pois, no momento seguinte, o feiticeiro salta sobre ele utilizando o próprio joelho do monstro como trampolim e, com as negras garras místicas, retalha o abdômen da fera, expondo as vísceras e o coração, o qual esmaga em sua mão assassina.

Crônicas de Luthera GellianOnde histórias criam vida. Descubra agora