Cap VI

139 9 10
                                    


~Boa leitura~


Cinco anos depois


               As chamas faziam o melhor trabalho quando o assunto era destruir. Ela era sua amiga, mas isso ainda o assustava não importava quantas vezes visse acontecer. De seu lugar no carro do outro lado da rua encarava a luz alaranjada se alastrar pela casa antiga e, sinceramente, passando da hora de ser demolida. Quase podia sentir o calor se irradiando apesar da distância. Respirou fundo se abraçando para afastar o calafrio que percorreu sua espinha e endireitou a postura ao ver a figura escura atravessar a rua correndo com passos rápidos vindo dos fundos casa.

               Um sacolejo no automóvel e a porta se abriu com seu parceiro caindo no banco do passageiro com um suspiro. Mesmo sem olhar sabia que estava sorrindo. Ele sempre estava. Mesmo depois do que haviam acabado de fazer. Gostava de seu trabalho e acreditava estar fazendo a coisa certa.

               -Missão completa. – disse jogando uma caixa de fósforos no porta luvas e uma embalagem de plástico, antes cheio de gasolina, no banco de trás – Podemos passar naquele drive thru? – esfregou as mãos animado.

               -Não. – ligou o carro se concentrando na estrada e ignorando o bico gigante do outro sentado ao seu lado.

               -Por favor. – agarrou sua manga o fazendo suspirar – Hoje eu fiz tudo que precisava, não atrapalhei nada, não quebrei nada... – pareceu pensar – Nada desnecessário e fomos rápidos então ainda temos um tempo antes de voltar pra casa.

               -Já disse que não!

               -Por que você tem que ser o líder? Faço isso a mais tempo que você. – olhou pra ele – Ok. Tem o mesmo tempo, mas você saiu e eu continuei. Quando não estava por perto eu fiz muita coisa como líder.

               -Devia ter parado de me procurar então.

               -Por que tem que ser tão certinho? – começou a resmungar - Não é como se nunca tivesse cometido um erro na vida. Na verdade erros é o que mais já cometeu... – o freio sendo pressionado até seu final quase fez a testa do outro atingir o para-brisa. Uma praga saiu fácil dos lábios dele que se virou agora um pouco irritado – Qual é o seu problema?!

               -Sai do carro.

               -O que?

               -Sai do carro, agora. Quero ficar sozinho.

               -Eu não posso ficar aqui.

               -Por quê? Medo de ser pego pelo que acabou de fazer?

               O silêncio tomou conta do veículo enquanto sentia os olhos dele o queimando tanto quanto o fogo na casa algumas quadras atrás.

               -Foda-se. Foda-se você e tudo mais. – o carro voltou a chacoalhar quando ele saiu e a porta foi batida com força desnecessária.

               Mais uma vez sozinho pisou no acelerador agora fazendo o carro entrar em movimento e pressionando o pé cada vez mais até que tudo a sua volta não passasse de um borrão. Mais uma vez estava cansado de tudo e de todos, principalmente de si mesmo e não precisava que aquele idiota lhe jogasse na cara os erros que constantemente o assombrava dia após dia. Uma virada brusca fez os pneus cantarem e um mendigo gritar para que prestasse atenção. Ignorou tudo voltando a velocidade só reduzindo quando se aproximava do motel de quinta onde estava hospedado desde a noite anterior na beira de um rodovia.

MidnightOnde histórias criam vida. Descubra agora