*Não revisado*

A brisa forte arranhava com força os meus pelos, adorava a sensação de liberdade quando cavalgava pelos campos de Bronvar todos os dias ao raiar do sol, pois sempre podia admirar a beleza das minhas terras e idealizar todos os projetos que fervilhavam em minha mente para aplicar no meu país, eu era a próxima herdeira de Rooiland, se não tivesse nascido mulher, o que para mim não significava inferioridade pois o valor de alguém transcende o sexo e está verdadeiramente ligado ao caráter. Os costumes da minha grande nação ainda eram arcaicos e não considerava a linhagem feminina por julgar os homens exclusivamente bons para tal cargo, havia sido assim desde muitas eras, sabia que não seria fácil conquistar meu lugar de direito. Lutava fortemente contra a ideia de Me submeter a esse veredito, porém com exímia inteligência e diplomacia, havia sido instruída desde meus primeiros anos de vida  para ser uma governante sábia, todo o conhecimento que possuía era graças ao meu pai que não media esforços para me dar todas as ferramentas necessárias para exigir meu trono, no momento oportuno.
Contudo, eu estava ciente que para demonstrar meu valor e conseguir ser ouvida pelo Conselho deveria me destacar também nas artes militares, uma exigência de todo rei de Rooiland. Para ser considerado digno da coroa era necessário um teste de poder e bravura, uma gloriosa arena de lutas, onde o herdeiro poderia ser desafiado por algum guerreiro, normalmente filhos dos líderes tribais disputavam esse embate.
Mas o meu pai, Rei Kasi, só possuía uma herdeira. Desde quando nasci os  líderes tribais julgavam ter finalmente alcançado uma chance de ganhar o trono e ansiavam o dia em que poderiam disputar pela oportunidade.
Seria cômico encarar a expressão de surpresa nos rostos quando eu vencesse cada guerreiro, um por um. Não tinha dúvidas que conseguiria, pois eu havia me empenhado muito ao longo dos anos, e ao analisar os meus adversários poderia contar com a vitória.

Senti o sol esquentar sobre minha crina, era a hora de voltar. Em um galope ágil acelerei retornando para o meu lar, cada transformação que aprendia era doloroso de início mas logo tornava-se libertador, aos cinco anos tive a minha primeira metamorfose, meu pai me chamada de prodígio, com pouca idade já dominava várias transformações.
Ao me aproximar da entrada de Lança Solar, contorci meu corpo e em um segundo voltei a ser humana novamente.

- Vossa alteza, a senhora está atrasada para o café da manhã com a família do chefe tribal do Sul, sua mãe está lhe procurando.- Os olhos da dama de companhia cintilavam de medo.
- Não se preocupe Zir, só me empolguei um pouco hoje, me arrumarei rápido, eles já chegaram? - Sabia o que aquela visita significava, um acordo matrimonial.

No caminho para os meus aposentos imaginava quais seriam os argumentos que Nabor iria usar para convencer meu pai que um casamento com seu filho seria vantajoso para o reino e uma alternativa de manter sua descendência na realeza. Aquilo era cansativo e odioso, ver vários homens tentarem me desposar por considerar que eu só servia para o matrimônio, não que  achasse que o casamento fosse uma projeto falido,  entretanto minha relevância estava em muitos outros aspectos além de casar e reproduzir.
E como aquela função era cansativa para as mulheres, serem vistas apenas como objetos dos desejos masculinos, em uma sociedade como aquela, não havia direitos e obrigações igualadas. Pude acompanhar de perto as ofensas que minha mãe ouvira por não conseguir gerar um menino, já havia presenciado inúmeras vezes seu rosto avermelhado pelo choro, e para mim não existia mulher mais forte do que ela, a bela rainha Zurie. Ela mostrou que o fato de ser mulher não a fazia menos, porém  ao lado do homem certo sempre somava, meus pais eram o referencial de um casamento fortalecido em amor e respeito.

Não me demoro para ficar pronta, pois sabia que Nabor e seu filho já deveriam ter chegado, e eu certamente iria ter que inventar uma boa desculpa.
- Bom dia a todos, perdoem-me pelo meu atraso. - Senti o olhar da minha mãe me perfurar quando sentei.
- Minha querida filha deve ter se preocupado muito em ficar bela e perdeu a hora. - A rainha sorriu para mim, cúmplice.
- Certamente mamãe. - Em um sorriso doce confirmei a desculpa recém formulada.
- Não se preocupe alteza, eu tenho uma filha também, entendo completamente essas preocupações femininas. - O velho Nabor, ardilosamente fingiu compreensão.
- A princesa não precisa se arrumar muito, já possui uma beleza incrível. - O rapaz de pouca estatura sentado à minha frente sorria sedutoramente.
- Fico lisonjeada. - Não suportava aquele tipo de conversa, mas era esperta o suficiente para entender que precisava agir daquela forma e fazer com que todos pensassem que eu não passava de uma garotinha fútil e manipulável, eu sabia esperar pacientemente o momento exato para atacar minha presa.
- Nabor, sei que veio até mim trazendo notícias, espero que sejam boas. - O rei pigarriou trazendo a atenção de todos para si.
- Exatamente, majestade. Encontrei corpos no limites da fronteira. - Sua expressão tornou-se sombria. - Todos os corpos estavam sem nenhuma gota de sangue.
- Sem sangue? Isso é muito incomum! Que animal faria isso? - Tentei vasculhar em minha mente alguma solução para aquela charada.
- Não há animais em nossas terras que possam fazer aquela matança, foi algo que não conhecemos, os chefes tribais estão temerosos. - Havia um leve tom de pavor na voz de Nabor, algo surpreendente para um guerreiro como ele.
- Precisamos enviar rastreadores para investigar essas mortes, eles irão lhe acompanhar na sua volta para casa.
- Muito obrigada meu rei, mas creio que ainda irá demorar o meu regresso, em menos de três meses acontecerá o Grande Duelo, e como sabe meu filho tem se preparado há muito tempo, é um excelente guerreiro. - Pude ver o rapaz estufar o peito convencido. - E tenho certeza que será uma honra para ele lutar em seu nome, como genro. - O balançar de cabeça convicto do jovem guerreiro inflou o ego de Nabor.
- Uma proposta de casamento então, é o que me trouxe além das notícias.
- Uma proposta vantajosa meu rei, a melhor de todas.

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E aí? Será que tem algo por trás desse acordo ou é só conversa fiada?

Que bicho foi esse que matou essas pessoas?

Vamos descobrir nos próximos capítulos de Acsa.
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Pandora - A Ruína Da Meia Noite.Onde histórias criam vida. Descubra agora