3° Camila

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Apesar de às vezes parecer mãe das meninas, não me vejo sem a emoção que elas me trazem. Sou vista como exemplo a ser seguido pelas duas, mas sinto que fui forjada à maneira do meu pai, isso me deixa puta da vida.

Mudar de país, mesmo sem o Rodrigo (o que seria bem difícil pra mim), provavelmente ia ser uma aventura sensacional pra gente, consigo imaginar em quantas loucuras essas duas iam me enfiar.

-

Saímos do quarto e perguntamos ao meu pai se ele estaria disposto a se mudar pra Califórnia. Ele pareceu interessado, mas quem dita as coisas aqui em casa é minha mãe (que estava no trabalho), então tínhamos que esperar pra saber.

Enquanto Laura ligava pro tio Renato pra saber se meu pai podia ser contratado no polo novo, fui com a Fer escolher uma roupa pra festa de mais tarde.

-Carai, só roupa brega Camila. - falou a vagabunda analisando minhas peças dentro do armário.

-Cala a boca e escolhe uma roupa pra mim aí. - retruquei.

*Notificação do WhatsApp*

Rodrigo ❤️

"Linda, não tô querendo ir no Caio hoje não, vai você com as meninas, te amo." 13h58 ✔️

-O planta não vai? Finalmente um momento de paz. - exclamou Fernanda fuxicando minhas mensagens.

Revirei os olhos bloqueando o celular e procurando algo pra vestir, já que a criatura não escolhia nada.

-Falei com meu pai. - disse Laura entrando no quarto. - Ele falou que tem que ver disponibilidade e bla bla bla. Mas acho que pode rolar sim. Agora...- parou por um minuto e pegou o celular no bolso, colocando uma música.

Antes que eu percebesse já estávamos dançando Dua Lipa procurando produtinhos pra fazer skincare.

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19h53

-Parece que estamos prontas. - disse Fernanda se admirando na frente do espelho.

Sorri e olhei de relance pra Lau, que estava sentada na beira da cama e não parecia nem um pouco feliz.

-Tá tudo bem? - perguntei me abaixando.

-Me sinto horrorosa, não consigo gostar de nada que eu use ou faça em mim. Parece que nada me deixa bonita. - respondeu com lágrimas nos olhos.

-Achei que tinha superado esse lance da autoestima.

-Nunca superei Camila. - respondeu revoltada.

-Sabe o que vejo? - perguntei. - Vejo uma garota incompreendida e linda, que é tão superior que nenhum garoto até hoje conseguiu fazer feliz. Você é perfeita.

Sentei ao seu lado abraçando minha amiga apertado enquanto enxugava seu rosto.

-Abraço? Vou querer também. - surgiu Fernanda pulando na cama nos fazendo gargalhar feito doidas.

Como hoje minha mãe teria uma reunião depois do trabalho pedimos um Uber pra ir pra casa do Caio. Mas antes quis dar uma passada no Rodrigo pra dar um beijo. Mesmo as meninas tendo um rancinho dele, acabaram concordando desde que eu não demorasse.

Entramos no carro e fomos até a casa dele. Chegando lá, vi um carro diferente estacionado na frente, mas provavelmente algum vizinho comprou um novo.

Toquei a campainha.

-Deve ser a pizza, já volt.. A-amor? - Rodrigo abriu a porta e ficou pálido ao me ver. Estava só de cueca, coisa que ele não costumava fazer normalmente.

-Seus pais voltaram? - perguntei confusa, já que eles estavam viajando.

-É.. N-não, eu tô...

-É a pizza? - perguntou uma garota ruiva de blusão descendo as escadas.

Gelei. QUE PORRA É ESSA? QUEM É ESSA PUTA?

-QUE PORRA É ESSA? QUEM É ESSA PUTA? - perguntei gritando.

-Amor, calma. - disse tentando pegar em minhas mãos.

-NÃO VEM COM AMOR, RESPONDE CARALHO. - gritei novamente.

Nesse momento senti as meninas se aproximarem sem entenderem bem o que estava acontecendo.

-Qual foi planta, quem é aquela? - Fernanda perguntou confusa.

-Quem é você vagabunda? - Laura perguntou impaciente.

-É assim que você trata quem tá fodendo com o namorado da sua amiga? - respondeu com um tom de vadia de posto de gasolina.

E foi aí que meu sangue ferveu. Dei um pulo enfurecido em direção ao pescoço do Rodrigo, só queria arrancar o pau dele com um machado.

Antes que pudesse chegar perto, as meninas me seguraram uma em cada braço tentando me fazer parar. Sei que na real elas queriam deixar, mas isso acabaria me encrencando e provavelmente dando polícia. Fui arrastada pelos braços até o carro enquanto xingava os dois com tudo que vinha na cabeça.

Lembro de falar muito "filho da puta", coitada da mãe dele que não tem nada a ver com isso.

Entramos no carro e ouvi as meninas pedindo ao motorista pra voltarmos pra casa.

-NÃO! - gritei tentando me acalmar e secando o rosto. Lágrimas de tanta coisa misturada que nem sei descrever. - Se eu for pra casa vou ficar mal e vocês vão perder a festa do Caio.

-Tá louca Mila? Não tem nenhum clima pra festa hoje, você acabou de descobrir que o Rodr..

-Eu sei o que descobri tá legal? - interrompi Laura rapidamente. - Ainda assim quero esquecer isso com álcool.

-Desde quando você bebe? - Fernanda indagou ainda sem entender o que tinha acontecido.

-Desde hoje amiga. - respondi ajeitando a postura e colocando o cinto no banco de trás.

-E seus pais? - Laura perguntou preocupada. Quem diria que um dia os papéis se inverteriam assim.

-Hoje eu tenho desculpa. Eduardo, pode ir pra Rua Dias Ferreira, mesmo, decidido. - falei determinada.

Todos concordaram, por mais que estivessem estranhando meu comportamento. Sinceramente, como eu pude confiar num garoto desse, que aparentemente era tão santo que devia estar no Vaticano? QUE ÓDIO.

No caminho pra festa só consegui pensar no quanto eu passei a querer ir embora pra Califórnia, nunca mais quero olhar na cara daquela besta de novo. Respirei fundo e me concentrei no hoje, hoje é mais importante. Hoje vai ser épico.

Hoje tem que ser épico.

Holy ShitOnde histórias criam vida. Descubra agora