VIII - O resgate

1.3K 309 138
                                    




E

stava ventando e chovendo bastante, o céu estava bastante nublado e relampejava muito. Bryan teve que diminuir a velocidade do carro pela pista porque ela estava escorregadia e devido às grandes poças d'água que se formaram e prenderiam as rodas se passasse mais rápido. Havia alguns transformados na chuva e tivemos receio de que nos atacassem, porém, eles ficaram apenas lá. Parados. Olhando o veículo passar sem dar importância. Confesso que achei aquilo muito estranho.

Será que só atacavam quando estavam com fome ou sede?

Pensava que zumbis atacassem qualquer um que aparecesse em seu caminho, famintos ou não. Na verdade, eu já não estava entendendo mais nada.

Estava tão distraída pensando nisso, que nem havia me dado conta de que estava passando pela rua onde ficava a "FORM", a faculdade onde cursava arquitetura. Enquanto nos aproximávamos cada vez mais da instituição, olhei com espanto ao passarmos em sua frente, perplexa com a aparência do edifício. O lugar estava quase irreconhecível. A entrada principal, que antes tinha um design impecável e decoração perfeita, se transformara num cenário de abandono e destruição, com portas quebradas, paredes sujas, plantas e flores murchas e quebradas.

O prédio todo estava horrível, apenas o outdoor no topo com o nome da faculdade gravado estava intacto. Ver o local que eu amava naquele estado, me deixou triste e me fez lembrar de como era minha vida antes do pior acontecer. Lembrei-me das maquetes e desenhos que eu virava noite elaborando, ficando totalmente exausta e cheia de olheiras devido ao sono acumulado. Mas eu amava quando era gratificada pela apresentação do meu trabalho; quando recebia elogios e dicas de melhorias; quando ouvia dos grossos lábios negros do instrutor Stevão Broe que eu tinha um talento imenso e que seria uma grande arquiteta no futuro. Essas coisas me faziam acreditar que todo meu esforço valia a pena.

Mas na situação que me encontrava naquele momento, nada disso tinha mais valor. Todo o sacrifício e dedicação que tive, foram desperdiçados. Talvez houvesse uma segunda oportunidade para nós; talvez tudo isso acabasse e poderíamos seguir com nossas vidas normais. Isso, se sobrevivêssemos. Despertei de meus pensamentos quando senti uma cutucada no braço, levando um breve susto e olhando para Bryan instantaneamente.

— Está distraída com o quê? — perguntou-me.

— Sabe aquele prédio que acabamos de passar?

— O da FORM? Sim, o que tem ele?

— Era lá que eu estudava arquitetura — murmurei com desânimo, encarando minhas próprias mãos enquanto entrelaçava os dedos.

De repente, Bryan repousou sua palma sobre o dorso de minha mão e a apertou um pouco, deixando-me surpresa com tal atitude. Jamais imaginei receber algum acalento de sua parte e não consegui olhar para seu rosto, apenas segurei seus dedos, levemente, em retribuição.

A chuva havia diminuído e já deveríamos estar na parte da tarde. Meu estômago roncou alto e me senti envergonhada devido ao som, então Bryan abriu o porta-luvas e me entregou uma sacola com alguns pacotes de bolinhos e minipães.

— Onde pegou isso? — o questionei, abrindo o pacote dos pães e dando uma grande mordida em um deles.

— Na padaria do prédio que eu morava. Peguei para deixar guardado como emergência. — Ele me olhou por um instante, entretanto, não sorriu.

INFESTAÇÃO: O princípio (Vol. 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora