Capítulo três: Black

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Por Leon:

Depois de entregar á Janis, esse era o nome da garota misteriosa, a flor que lhe comprei, consegui tirar a coragem das profundezas do meu estômago, que estava se contorcendo de tanto nervoso, para conversar como uma pessoa normal com a garota dos cabelos ruivos.
Ela era ainda mais bonita de perto... eu estava impressionado com sua leveza.
Após sorrisos tímidos, olhares baixos e mãos tremendo, consegui o telefone dela.
Vitória, meus amigos!
São nesses momentos que a vida nos dá a oportunidade de cantarmos 'We are the champions', assim como o Freddy Mercury.
Saí daquele teatro saltitando, estava nas nuvens.
Aquela garota era o meu anjo e eu um pobre mortal pronto para morrer em seus braços. Depois que saí do teatro, voltei para a praça, sentei no chafariz e peguei o meu amado violão. Enquanto afinava as cordas, pois gostava que o som estivesse perfeito, pensei em que música tocaria. Haviam muitas pessoas andando apressadas com suas obrigações pela praça,  eu precisava de uma música que fosse calma, que transmitisse tranquilidade, que criasse um ambiente harmônico... Então minha mente vagou e eu pensei naquela menina.
Ela parecia uma pintura, seu movimento era suave.
Decidi tocar 'Black', uma das minhas músicas favoritas do Pearl Jam.
Me posicionei próximo ao chafariz, com o violão enroscado ao pescoço, respirei e comecei os primeiros acordes.
De repente vi algumas pessoas que passavam apressadas pararem e se aproximarem, criando uma movimentação perto do chafariz.
Quando estou quase chegando ao refrão, vejo a minha "platéia"se abrindo, como num corredor, que revelou uma menina de cabelos ruivos parada á dois passos na minha frente.
Eu não acreditei que era ela.
Pisquei duas vezes, só para me certificar de que eu não estava dormindo, sonhando com aquele rosto perfeito de novo.
Algo me acordou. Um sorriso. Ela estava sorrindo ao me olhar e cantava baixinho o refrão.
- "And now my bitter hands
Cradle bronken glass
Of what as everything
All the pictures have
All been washed in black
Tattooed everything
All the love gone bad
Turn my world to black
Tattooed all I see
All that I am
All that I'll be..."
Eu sorri ao vê-la cantar.
A canção terminou, eu a olhei e agradeci.
Observei que seu semblante mudara, ela estava com os olhos marejados, abaixou o rosto e passou o dorso das mãos em seus olhos, olhou para o relógio de pulso que usava e simplesmente saiu correndo, me deixando estático.
Eu estava a perdendo novamente!
Não poderia deixar que isso acontecesse!
Eu só tinha que tentar falar com ela de novo.
Determinado a encontra-la, agradeci as pessoas que estavam ali me ouvindo tocar, me levantei e saí literalmente correndo atrás da minha musa de cabelos ruivos.
Enquanto corria, notei que um objeto, que mais parecia uma echarpe, havia caído de sua bolsa e ela não havia notado, pois estava correndo. Peguei o tecido, levei ao meu nariz, respirando seu cheiro, aquele cheiro inconfundível de cereja com limão.
Corri mais rápido e ela, de repente, parou no sinaleiro. Eu gritei:
- Janis, espere! Pare! Por favor!
Ela virou lentamente com os olhos arregalados, seus cabelos ruivos voavam com o movimento e traziam a sua imagem uma impressão de pintura a óleo.
Eu a olhei e estendi a mão em que carregava a echarpe, ela então veio na minha direção com um sorriso tímido.
- Ah, é você! Desculpe Leon, mas não percebi você se aproximar! Estava correndo...- Ela disse
- não se preocupe, eu entendo. Só vim te devolver isto, você parece atrasada, não quero incomodar... - respondi, lhe entregando a echarpe.
- Oh, obrigada! Desculpe o incômodo... - disse e se aproximando exclamou, erguendo as sobrancelhas:
- Você canta muito bem, Leon, sua voz é muito bonita! Essa música sempre mexeu comigo, fiquei um pouco emocionada quando você começou a cantar o refrão, não queria que você tivesse me visto chorar...
- Não há problema nenhum em chorar, a música faz isso mesmo conosco, libera todas as nossas emoções... Somos humanos, temos sentimentos que são aflorados através da música... - Respondi.
- Que bonito isso que você falou... por qual motivo será que nos encontramos somente agora? - ela disse, se aproximando e virando o corpo em direção ao meu. Olhei para seu rosto.
Ela estava chorando. Peguei em seu queixo, o levantando, para poder ver melhor seu rosto, e em seguida disse, retirando uma mecha de cabelo que caiu sobre seus olhos:
- Eu não sei, mas queria entender um pouco sobre o motivo suas lágrimas, se você não se importar, claro... você parece muito forte, muito inteligente, me chamou a atenção de imediato... uma moça tão bonita, por que chorou? A música certamente mexeu com você...
Ela olhou em meus olhos e por um momento a senti estremecer, em seguida desviou o olhar e continuei a olhando.
Ela disse baixo:
- Tem razão... A música mexeu comigo, muito mais do que eu esperava, acho que fiquei um pouco sensível, me desculpe pelo jeito como agi... não queria sair correndo daquele jeito, não queria fugir de você, ou passar a impressão errada, mas foi mais forte que eu...
Segurei em seu queixo com suavidade e o ergui, dizendo:
- Eu te deixei muito tímida, não é? Não foi minha intenção... Me desculpe. Olha, quero reparar o meu erro e me apresentar decentemente! Por isso, o que acha de me acompanhar em um café, para nos conhecermos melhor? Talvez você possa me contar mais coisas sobre você, e eu possa lhe contar mais coisas sobre mim...
- está me convidando para um encontro, ruivinho? - Ela disse, colocando as mãos na cintura e rindo.
Eu apenas ri da sua reação e disse, a olhando:
- É... estou... você aceita?
- Mas é claro que eu aceito! Podemos ir agora, o que você acha? Seria um prazer! - ela disse, sorrindo.
- Que maravilha! Vamos até a Laurents, então?- Perguntei
- Perfeito! - ela sorriu e simplesmente passou o braço esquerdo em torno da minha cintura e eu então coloquei meu braço sobre seus ombros.
Abraçado com ela, sentindo o cheiro de seus cabelos, a guiei para a cafeteria.

Na cafeteria:

- eu gosto muito desse lugar, me dá uma sensação aconchegante... uma sensação de que estou segura. -disse Janis, enquanto se sentava, retirando o casaco de tiras de couro que estava usando.
- verdade,  é um lugar muito tranquilo... - eu respondi, puxando minha cadeira, em uma mesinha no canto que escolhemos.
- Pois bem Leon, me conte um pouco sobre você... Eu queria saber sobre você antes de ficar aqui me lamentando sobre a minha vida desinteressante... - ela disse, cruzando as mãos e apoiando o queixo nelas. A primeira coisa que notei foi a quantidade de pulseiras que carregava.
- bem, já que você insiste, Janis... Fui nascido e criado na capital do Paraná, Curitiba, me mudei para Londres para fazer faculdade, tenho 21 anos, estou no quarto ano de Filosofia, moro sozinho desde os 17. - respondi.
- uau, um futuro filósofo! Que fantástico! Me conte mais! - ela exclamou com um sorriso.
Eu sorri tímido e disse:
- Ah... não sei... Tenho três gatos de estimação, gosto de rock desde que nasci praticamente, pois meus pais são músicos e moram em São Paulo, eles se mudaram quando eu terminei o ensino médio e comecei a trabalhar para pagar a faculdade em uma livraria.
- Uau! Menino esforçado este aqui... - disse Janis, levantando a sobrancelha e abrindo os braços. Eu dei risada.
- que risada fofa, Leon!- disse ela. Eu apenas sorri envergonhado e disse:
- Sua vez agora!
- Calma, apressadinho! Bem, eu me chamo Janis por conta da musa da minha mãe, a Janis Joplin. Meus pais eram hippies, então eu nasci na estrada, dentro de um trailer. Bem, eu não tenho irmãos, mas tenho amigos de infância que moram com a gente, em trailers próximos que praticamente me criaram. Gosto muito de rock também. A minha paixão por balé aconteceu porque uma vez por mês íamos, eu e minha família, ficar duas semanas na casa da minha tia para depois seguir viagem, geralmente nas férias. 
- Uau, mas sua vida é uma aventura, garota! - eu disse.
Ela riu tímida e disse:
- Mais ou menos isso mesmo... Minha tia era bailarina profissional, então ela acabou por me dar aulas todos esses anos e eu treinava na estrada. Até que um dia de tanto trabalhar com a minha mãe, vender pulseiras, cantar nas praças, fazer origami para enfeite, e muitas outras artes, consegui dinheiro suficiente para fazer um teste no Bolshoi e talvez realizar meu sonho de infância, ser uma bailarina.
E eu fui realizar o meu sonho... agora estou aqui. Sempre gostei de rock também, acho que é isso... - ela riu.
- desculpe perguntar, mas e o seus estudos?- questionei.
- ah, sim, eu ia para a escola. Na verdade minha família me ensinava em casa, então não me formei profissionalmente, mas sou bailarina por paixão. Consegui passar no Bolshoi e agora estudo lá. Sempre quis fazer as pessoas contemplarem devidamente o espirito da dança, e agora eu posso.  Sempre achei que o melhor é fazer algo que você goste, não importa como vai fazer, mas tem que fazer algo que goste. E eu amo dançar. Por isso o faço.
- Que bonito isso, Janis, você é mesmo como um anjo quando dança, parece que nasceu para isso, tamanha é a sua desenvoltura no palco. -eu disse.
- obrigada Leon! Ninguém nunca havia me dito palavras como estas... -Disse ela.
- mas é a plena verdade, Janis. Obrigada você pela companhia encantadora nessa tarde. -eu disse.
Depois disso nos despedimos e combinamos de nos telefonar para marcar mais tardes como esta.
Realmente, agora estava entendendo o que sentia por ela. Estava apaixonado. Completamente apaixonado por ela. Enfeitiçado.
Mas como?
Isso é loucura!
Mal nos conhecemos!
Como poderia eu me apaixonar por uma desconhecida bailarina?
O jeito dela de sorrir, de andar, de falar, o jeito tímido dela de rir, suas pequenas mãos cheias de anéis coloridos, sua voz, seu perfume, seus cabelos rebeldes... tudo nela me fascina.
Eu necessitava ver aquela garota novamente, custe o que custar, ela tornara meu mundo sem vida muito mais colorido.

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