Capítulo dois: Just Like Heaven

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Por Janis:

Cheguei atrasada ao teatro, por isso tive que me trocar as pressas.
Rodrigo, meu professor, me perguntou se me aconteceu algo, já que raramente me atrasava para algum espetáculo, aqueles que me conheciam bem costumavam dizer que pontualidade é meu segundo nome.
Eu disse a ele que perdi a hora, pois hoje vinha direto da faculdade, onde estudava Sociologia, a University College of London (UCL) para o teatro, que ficava á trinta minutos de distância.
Demorei vinte minutos para chegar ao teatro, pois perdi a hora e o metrô, por estar fazendo trabalhos na biblioteca da faculdade. 
Enquanto andava apressada até a Andrews, lembrei de um sonho que tive na noite passada.
Eu havia sonhado com um garoto.
Não conseguia me lembrar de onde conhecia aquele rosto que viajou pelos meus sonhos, mas ele não me era estranho ou desconhecido, não conseguia tirar seu semblante da cabeça.
Ao chegar ao teatro, meus pensamentos se voltaram para a apresentação para qual estava ensaiando há dois meses. Respirei fundo para tentar conter o nervosismo.
O auditório era imenso, então significava que eu me apresentaria na frente de milhares de desconhecidos, o que fazia minhas mãos tremerem.
Tentei me acalmar tomando uma água com açúcar, que achei no vestiário, o que melhorou bastante meu nervosismo, porém eu ainda me encontrava muito ansiosa, com medo de errar um passo que fosse, medo de não conseguir terminar.
Logo que terminei de me arrumar fui chamada juntamente com as meninas, já que o espetáculo contava com oito bailarinas, ao palco.
Assim que entrei, os holofotes se acenderam sobre mim e luzes coloridas começaram a rodar para todas as direções, o que me deixou mais tensa, a música começou a tocar.
Começamos a nos espalhar entre nossos devidos lugares, aos poucos meu nervosismo foi dando espaço a uma grande emoção por ver tanta gente ali para nos assistir.
Era como se ao ver todas aquelas pessoas eu me sentisse amada de verdade, como se fosse alguém importante.
Enquanto olhava sorrindo de emoção ao ver a plateia cheia e pessoas sorrindo maravilhadas com o espetáculo que começara, vi um rosto que me parecia familiar.
Pensei comigo que devia ser só a minha imaginação querendo que eu tivesse alguém da minha familia para me prestigiar naquele momento tão importante para mim, naquele sonho realizado. Mas ao mesmo tempo aquele rosto conhecido me intrigou demais.
Quem era?

Por Leon:

A tarde caía, então resolvi que tentaria encontrar a bailarina misteriosa que tanto tinha mexido comigo.
Pensei que talvez se seguisse os conselhos da gentil mulher que me ajudou, conseguisse encontra-la.
Então como em um estalo me lembrei que ela tinha um chaveiro na bolsa, no qual estava escrito UCL e pensei que se ela corria na direção do teatro, com certeza estava atrasada e se apresentaria lá.
Corri, passei por uma floricultura que encontrei no caminho. Eu tentaria falar com aquela garota a qualquer custo e precisava levar um presente.
Eu nem acreditei quando entrei na floricultura e encontrei uma única, porém, maravilhosa tulipa negra. Elegância e sofisticação.
Era isso que tinha visto nela, na bailarina. Elegância e sofisticação em suas sapatilhas cor de rosa.
As flores me custaram os olhos, rins e fígado, tudo o que faturei pelas músicas de hoje, mas ninguém disse que seria fácil de chamar atenção de um anjo, né?
E eu queria impressioná-la.
Comprado o meu presente, segui para o teatro.
Assisti a apresentação olhando somente para ela. Ela tinha algo que me fazia ir às nuvens sem sair do lugar, que me enfeitiçava.
Eu imaginava seu cheiro, pensava em como ela parecia ser delicada dançando daquela maneira. Estava me apaixonando por uma desconhecida, mas sabia que era um inconsequente mesmo, então decidi apenas aproveitar.
Assim que a apresentação terminou e as luzes se acenderam, levantei e tentei achá-la em meio à multidão de pessoas que se levantavam de seus assentos e se retiravam do teatro.
Foi como um movimento em câmera lenta, como um filme, um livro de romance clichê: Ela desceu do palco e me viu. Fez uma expressão surpresa, sorriu, e simplesmente veio falar comigo, andando na minha direção como um anjo, como se estivesse flutuando.
Então parou na minha frente e eu, completamente enfeitiçado não consegui pronunciar nenhuma palavra.
Então ela disse:
- ei, você não é o músico que estava tocando na praça hoje de manhã?
E eu me recuperando do transe disse:
- s-sou sim... Prazer, Leon. - então entreguei a flor a ela.
E de repente me deu um estalo e processei a informação que ouvira: Ela me vira tocar?
- muito prazer Leon! Meu nome é Janis. Como me encontrou aqui? Você trouxe flores! Elas são mesmo para mim? Assim fico até encabulada...
Ela abriu o sorriso mais bonito que eu já vi na minha vida miserável, eu devo ter feito uma cara de bobo babão.
- estava linda lá em cima... é... como é seu nome mesmo? - Sim, o idiota aqui perguntou de novo, porque estava compenetrado demais na beleza dela e não ouviu nada do que ela disse. Devo ser a pessoa mais ridícula da Terra.
- obrigada... -ela disse corando. - Meu nome é Janis... - Ela olhava para os pés.
Ela ficava ainda mais linda quando corava...
Tomei coragem e perguntei:
- quer ficar com o meu telefone para tentarmos nos falar ? Talvez, nos conhecermos melhor...
- claro!- ela disse e sorriu de um jeito fofo. Pegou uma caneta e um bloquinho no qual anotou o número.
- fiquei curiosa para saber mais sobre você, garoto misterioso! Até agora eu só sei três coisas: você é romântico, tímido e meio maluco. Talvez possamos marcar alguma coisa para nos conhecermos melhor... - ela deu uma risada gostosa.
- também fiquei muito curioso sobre você, ruiva. Talvez possamos nos encontrar mais vezes... eu te ligo! -Então me aproximei num gesto rápido lhe dei um beijo no rosto.
Ela corou mais ainda, ficando quase tão vermelha quanto seus cabelos, por fim disse:
- estarei esperando, cabeludo. - e deu uma piscadinha para mim.
Sorri em resposta.

Por Janis:

O garoto misterioso desapareceu.
Ele era tímido, educado e muito bonito.
Tinha cabelos cor de fogo compridos, era bem alto, seus olhos eram castanhos claros.
Usava uma calça jeans, uma camiseta surrada de uma banda de Heavy Metal que não reconheci, uma jaqueta de couro e um coturno preto. Gostei do estilo dele, era parecido comigo. Pelo menos eu sabia que ele tinha o mesmo estilo musical que o meu...
Bom, eu sou muito tímida e até agora, com 21 anos não tive um relacionamento sério com ninguém. Talvez eu esteja esperando a pessoa certa.
Bom, mas do que eu estou falando?
Eu nem sei nada sobre esse rapaz, nunca conversei com ele, o encontrei apenas duas vezes... e se ele for um louco?
É melhor eu parar de pensar sobre ele até que ele me ligue...
O que é isso? Eu estou esperando um completo desconhecido me ligar?
Preciso de ajuda urgente mesmo...
Mas um detalhe sobre ele não sai da minha cabeça...  Gostaria de saber como ele me encontrou no teatro... Será que ele me seguiu? Ou será que foi apenas uma conhecidencia? Quem é este garoto? Será que ele só me achou bonita e simplesmente me seguiu? O que ele quer comigo? Por que eu dei meu telefone para um desconhecido? O que me fez pensar que ele é confiável?
Calma Janis... Assim você vai ficar louca!
Era melhor eu me acalmar, sabia disso.
Mas sabia também que ele mexeu muito comigo.
Cheia de interrogações e extremamente feliz, fui para a praça central que ficava perto do teatro. Comprei um caldo de cana e um pastel de carne numa barraquinha, pois estava faminta por conta dos meus esforços durante a apresentação.
Quando de repente o mundo parou e escutei uma voz conhecida, me virei e vi que perto do chafariz haviam muitas pessoas juntas ouvindo um músico, mas não dava para ver direito quem era, por conta da multidão, então me aproximei.
Cheguei mais perto para ver de onde conhecia aquela voz. Quando finalmente consegui passar por todas as pessoas nossos olhares se cruzaram e lembrei de onde conhecia a voz...
Ele então começou a tocar outra música, olhando para mim, uma música que eu conhecia muito bem. Meu coração estava a ponto de saltar pela boca.
Por que ele mexia tanto comigo assim?
Um completo desconhecido!
Eu só podia estar no meio de um sonho, mas não vou negar que aquilo estava muito bom para ser verdade, ele mexia muito comigo, e eu sabia que ele sentia algo por mim também...
Pensei: por que não arriscar, não é?
Que mal tem?
Eu tinha direito de viver os meus sonhos não é?

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