Capítulo Quatro: Even Flow

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Por Janis

Encontrar com o Leon naquela tarde parecia, como ele diz, obra do destino, uma enorme coincidência. Ele não me ligou.
Não que eu estivesse esperando que um completo desconhecido, que tocou uma música perfeita olhando fixamente para mim, me ligasse... Claro que não... não esperei que o cara que povoou meus sonhos me ligasse.
Eu estava a ponto de ligar para ele, mas lembrei que não tinha o seu telefone. Que droga!
O que estou dizendo? O que é isso que estou sentindo?
Eu não podia estar tão melosa por alguém que acabei de conhecer.
Fico pensando se os outros rapazes por quais me interessei me deixavam tão aflita ou tão ansiosa assim...
Bem, com o Edward, o meu amor de adolescência eu ficava assim, mas na época eu nem sabia o que isso significava, pois tinha quinze anos. Quando ele foi morar em outro país, eu disse que não conseguiria ficar longe dele e namorar á distância, pois não sabia se poderia confiar tão bem em nós separados.
Ele foi compreensivo, mas sei que despedacei um coração inocente naquela noite. Nunca mais nos vimos.
O meu ex-namorado, aquele infeliz do Nathaniel, era um desgraçado. Me traiu com a minha prima no nosso aniversário de dois anos de namoro, há cinco anos. Peguei os dois juntos no meu sofá. Minha prima morava comigo na época e ele naquela ocasião tinha vindo me ver... eu estava super feliz, mas foi só eu sair e os deixar sozinhos por algumas horas que perdi o namorado.
Desde então nunca mais me interessei por ninguém... Não me lembrava mais como era a sensação...
Mas, quando converso com o Leon, parece que nos conhecemos de outras vidas...
Talvez eu precise falar com a minha mãe sobre Leon, porque sei que ela é esperta nessas coisas de namorados e poderia me explicar também  porque sinto que já conheço ele de outra vida.
Sonhei com ele esta noite. Seus cabelos castanhos, que ficavam loiros á luz do sol, voando contra o vento enquanto ele cantava, com sua voz forte, uma música que eu conhecia muito bem.
Saí dos meus devaneios e fui me arrumar, pois estava atrasada para a aula. Tenho ensaio hoje para a apresentação de sábado, estou muito focada, quero ir muito bem na apresentação.
Tomei um banho, vesti uma calça jeans rasgada, uma camiseta do Skid Row, meu coturno que não sai do pé,  coloquei uma camisa de flanela amarrada na cintura, fiz um coque no cabelo, que estava desbotado, clamando para que o pintasse novamente, pela falta de tempo com os ensaios eu não consegui fazer isso, e saí de casa.
Quando passei pela praça, meus olhos foram até o chafariz onde o Leon costumava ficar e a curiosidade me atiçou para que eu andasse até lá, afim de encontrá-lo. Talvez eu quisesse ouvi-lo tocar novamente, sentir o mesmo que senti outro dia, as borboletas em meu estômago.
De repente, tropecei sem querer em algo e percebi que cairia dentro do chafariz.
Foi quando fechei os olhos e senti uma presença diferente me segurando pela cintura e me rodando para longe do chafariz.
Quando abri os olhos, quase não acreditei no que estava vendo.
Era ele.
Com uma cara assustada, os olhos arregalados, ele parecia preocupado comigo, me segurava forte pela cintura e comprimia seu corpo ao meu.
Sorri tímida.
Ele, que olhava fixamente em meus olhos, também sorriu. Ficamos nos olhando por alguns segundos, que mais pareciam horas e então ele me colocou de pé com tamanha delicadeza que parecia que eu era uma boneca de porcelana super frágil, o que me deixou um pouco constrangida.
Ele me tirou do transe em que eu estava, dizendo:
- Você é doida, moça. Sabia disso?- ele deu uma risada.
Eu apenas arrumei as minhas roupas e sorri envergonhada, sentindo minhas bochechas corarem.
- você fica muito linda corada... - ele disse com um sorriso de canto - O que houve? Por que está correndo desse jeito, apressada?
Eu fiquei mais vermelha ainda, mas apenas respondi:
- obrigada pelo elogio e por me salvar de tomar um banho... Eu estou atrasada, preciso chegar até a UCL para ontem! O meu despertador atrasou meia hora! Eu sou muito desastrada mesmo...
Então ele acenou com a cabeça, ao mesmo tempo seus olhos se iluminaram e ele sorriu dizendo:
- ei, quer que eu te leve até lá? Eu tenho uma bicicleta, é bem mais rápido do que ir á pé...
Eu sorri e disse:
- não quero te atrapalhar, sei que você está trabalhando agora...
- imagina! Você não atrapalha em nada, será um prazer te dar uma carona!
- sério? Ah, obrigada Leon! Fico te devendo uma!- e num ímpeto de felicidade, por finalmente algo ter dado certo naquele dia catastrófico, eu passei meus braços em volta do seu pescoço e lhe dei um beijo na bochecha.
Ele se assustou, mas sorriu e me abraçou pela cintura, me dando um beijo na cabeça.
Algo naquele garoto me passava uma confiança indescritível, como se eu pudesse contar qualquer coisa a ele. Sei que é estranho, pois acabamos de nos conhecer, mas sinto que ele me transmite paz, algo que não tenho em minha vida há séculos. As vezes as pessoas entram nas nossas vidas para nos ajudar a olhar melhor para nós mesmos.
Ele pegou em minha mão, me dirigindo até sua bicicleta, me pegou no colo, alheio aos meus esforços de querer que ele me pusesse no chão, pois mesmo que eu me debatesse em seus braços, ele não me soltou, apenas me colocou sentada no guidão e sentou no banco atrás de mim.
Então disse próximo ao meu ouvido:
- apoie seu corpo no meu para você não cair, cuidado!
Eu fiz o que ele pediu e nossos corpos ficaram muito próximos, á ponto de ambos escutarem os corações um do outro. Ele colocou os braços no guidão, protegendo meu corpo caso caíssemos, sorriu e disse no meu ouvido:
- Apertem os cintos, e tenham uma boa viajem! É uma honra ter você como passageira!
A sua voz percorreu pelo meu corpo, causando leves arrepios por sua extensão. Foi um sentimento fantástico. Eu apenas comecei a rir.
Durante o caminho, León cantava baixinho ao pé do meu ouvido, logo reconheci a letra e comecei a cantarolar junto com ele:
"Even Flow
Thoughts arrive like butterflies
Oh he don't know, so he chases them away
Someday yet he'll begin his life again
Life again, life again"
Estar com o corpo dele tão próximo ao meu, sentir sua voz suave em meu ouvido, sentir seus braços ao redor dos meus, me causou um arrepio intenso. Minhas pernas pareciam gelatina de tão moles.
Como ele conseguia me desestruturar tanto apenas falando ao meu ouvido? Que poder era aquele que eu encontrava em sua voz?

Por Leon

Estar tão próximo ao corpo de Janis, sentir o cheiro doce de seus cabelos, seu perfume, me dava uma vontade enorme de simplesmente lhe beijar. Mas quem me garantia que o sentimento era recíproco?

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