Contos de um escritor em treinamento

Pesadelo

A sombra mais uma vez bateu no quadro, o barulho ecoava pela sala obscura ocupada apenas por um garoto. Tudo em sua volta era completa escuridão, mas sabia que aquela era uma sala de aula, também sabia que aquilo era um pesadelo.

Aquele ser que estava no quadro fazia parte do ambiente, era uma sombra como as outras ao redor do garoto, mas ela era diferente, era maléfica. Obrigava o garoto a responder coisas que não sabia, caso contrário era agredido com ondas de medo, agonia, aflição, ansiedade, como se a mente daquele pobre garoto fosse explodir. A pressão que aquela sombra fazia era estrondosa.

- RESPONDA! Não me faça perguntar mais uma vez. – Era o que aquela criatura falava, ou pelo menos era isso que o menino escutava, pois nem boca aquele ser maligno tinha. Não tinha escapatória, para onde quer que olhasse no desespero via a escuridão se mover, cercando ainda mais.

- Por favor... Eu não sei... Por favor, para! – O coração palpitava descontroladamente. A pressão da sombra aumentava cada vez mais, e mais, e mais.

Uma respiração forte ao abrir os olhos

Leon acordou levantando bruscamente e olhando a sua volta, estava tudo normal no seu quarto, que recebia os primeiros raios solares daquela manhã. O ambiente tranquilo não condizia com o estado daquele garoto, respirando profundamente e ainda pensando naquele pesadelo ele levantou da cama e decidiu tomar um copo de água.

Enquanto andava para a cozinha, ficou feliz por aquilo ter sido apenas um pesadelo. Tudo o que precisava era respirar o ar puro da realidade, que por mais que não gostasse tanto, era bem melhor do que aquela sala de aula sombria. Sua mãe e avó estavam tomando café da manhã na mesa, decidiu então escovar os dentes para depois se juntar a elas. Era mais um dia normal.

Em seus 14 anos de vida sempre tentava se sair bem na escola, tirar notas altas era praticamente seu objetivo primordial, mesmo que ele soubesse que não precisava fazer isso, gostava da sensação de ser o melhor naquilo. Ainda assim, era um dos alunos mediano daquele colégio, mas nada que não tirasse o orgulho que sua mãe sentia por ele, o amor dela enchia-o de força todos os dias. Por outro lado, sua avó mantinha-se rígida quanto ao desempenho de Leon na escola, então sempre queria ver o garoto estudando, todos os dias, o que fazia a mãe ficar extremamente incomodada com a atitude dela. Os argumentos daquela senhora de 76 anos era que o estudo é muito importante para uma pessoa, e como ela não conseguiu completar o ensino médio, queria ver o neto crescendo na vida.

O dia estava acabando e a noite chegando, Leon se preparava para dormir, esperava por um bom sonho, gostava de sonhar sempre que podia, portanto sabia que em algum momento teria pesadelos, e pensava que aquele de ontem era como todos os outros. Então fechou os olhos.

Se soubesse, nunca teria feito isso.

Naquela noite, a escuridão se movia como nunca, e a sombra mais uma vez batia no quadro, e gritava, e pressionava, e torturava. Leon tentava se controlar, como se chorar não fosse uma escolha e tivesse mais punições caso assim fizesse.

- RESPONDA! – Falou a criatura enquanto sons guturais saiam ao redor do garoto e ecoavam por sua mente, agonia e medo comandavam-no. A intensidade das sensações naquele lugar era elevada ao extremo, um simples sussurro era como se fosse um grito estridente a poucos metros. Queria sair, queria muito sair, mas precisava responder as perguntas, era pressionado a isso.

Não conseguia de jeito nenhum

Aquela pressão mental fazia a mente do garoto clamar por um descanso, mas a sombra torturava-o ainda mais, se tivesse uma boca, com certeza teria um sorriso sádico nela enquanto via Leon ser espancado por ondas de sofrimento até querer que sua vida fosse tirada de si. Quando sua mente estava prestes a explodir, o menino acordou no meio da noite, as luzes ainda apagadas e apenas o som de grilos era escutado, além da sua respiração pesada, que ia se acalmando ainda mais. Piscou algumas vezes enquanto se aliviava, mas ao abrir novamente o olho para ver seu quarto ainda escuro, o impossível acontecia a sua frente. Leon via a escuridão se mexer, como ondas, assim como o pesadelo que ele havia saído, ou achava que tinha saído. Um medo irracional começou a invadir sua mente, como aquilo poderia acontecer se tinha acordado?