Capítulo 8: O Dom

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Forever's ours today.
(Para sempre é nosso hoje)

Estava de volta a minha cela completamente nua e cambaleante, as lágrimas não paravam de descer.

Assim que me viu naquele estado, Gion correu ao meu encontro, tirou sua camisa e colocou em mim.

- O que aconteceu?

- Não. Não pergunte. - Renan interrompeu me deitando no canto da cela e me abraçando forte. Amava o jeito que ele me conhecia. Alguns anos atrás disse a ele que odiava quando as pessoas perguntavam o que tinha acontecido quando eu estava mal porque me fazia relembrar, então quando eu estivesse mal era para ele apenas me abraçar forte até eu esquecer tudo. Ele nunca se esqueceu disso. Sabia que Gion queria ajudar, mas também sabia que a melhor ajuda que ele poderia me dar no momento era ficando distante.

Depois de algum tempo, talvez pela exaustão de chorar, adormeci sem perceber no abraço do meu amigo.

Depois de algum tempo, talvez pela exaustão de chorar, adormeci sem perceber no abraço do meu amigo

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- Acordem!

Abri os olhos com dificuldade e avistei o mesmo guarda da noite passada e estremeci ao ver Uzi ao seu lado. Gion percebeu e segurou forte minha mão, sorri com a ideia de tê-lo sempre por perto para me acalmar com aquele gesto. Acontecesse o que acontecesse, não podia perdê-lo.

No exterior do castelo, havia uma tropa inteira de lucets para nos acompanhar.

Fomos colocados em uma espécie de carroça puxada por lobos, achei aquilo estranho, os lucets estavam no poder, mas mesmo dentro de Furru, alguns eram tratados como reis enquanto outros eram escravizados, me perguntei se em Litaten também era assim, não havia saído de Asfales mas sabia que era o único castelo lá, será que aquela mordomia não se expandia para todos em Litaten?

- Gion, ele sabe. Sabe quem eu sou de verdade.

- Desgraçado!

Ele estava com uma expressão de ódio que eu nunca vira, apenas no dia em que havia o chamado de monstro, mas essa era ainda mais assustadora, provavelmente porque tinha adivinhado o ocorrido na noite passada. De repente foi como se ele tivesse notado minha presença pela primeira vez e rapidamente suavizou a expressão e disse com uma voz triste:
- Desculpe, Beck. Isso é culpa minha. Nunca devia ter te arriscado desse jeito. Prometo nunca mais deixar ninguém te machucar.

Quando chegamos a Litaten, um exército inteiro de todas as raças estava a nossa espera, pronto para impedir a nossa execução, e quando me viram, todos se abaixaram em reverência, corei no mesmo instante

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Quando chegamos a Litaten, um exército inteiro de todas as raças estava a nossa espera, pronto para impedir a nossa execução, e quando me viram, todos se abaixaram em reverência, corei no mesmo instante.

Então vi Mark, ele estava ainda mais lindo do que de costume, mas tinha uma expressão preocupada, sabia o que significaria para ele se não conseguissem impedir a execução, ele perderia sua última esperança de salvar seu povo e o seu melhor amigo, praticamente um irmão, no mesmo dia.

Nossos olhares se cruzaram e percebi o choque em sua face ao ver meus ferimentos, vi também quando tentou disfarçar sua raiva ao dizer:
- Ninguém precisa se machucar! Enteguem-nos os prisioneiros e os deixaremos ir em paz.

Uzi deu um riso falso e escandaloso, me puxou pelo braço e disse:
- Todos vocês deveriam estar mortos por esconderem uma mestiça!

E olhando para mim ordenou:
- Vamos, mande-os se afastarem!

O medo que eu sentira se transformou em raiva. Depois de ver aquele exército inteiro disposto a dar a vida para me salvar, algo mudou em mim, eu queria ser a heroína que eles viam em mim, eu precisava ser essa heroína, esse era meu povo também, tinha que ser forte por eles.

Cuspi no olho de Uzi dizendo:
- Eu não recebo ordens de você! Ninguém aqui irá receber!

Amauri avançou contra mim mas Gion o impediu quebrando seu pescoço. Nunca tinha visto Gion matar alguém, e, até aquele momento, ainda achava algo difícil de acreditar. Olhei para os lados e percebi que ele não era o único. A guerra havia começado, por todos os lados pessoas caíam mortas ao solo. Fiquei paralisada com aquela cena. Lucets rasgavam pessoas inteiras, beltors hipnotizavam-as para que elas atirassem em si próprias, venes faziam jatos de água emergir dos solos criando ondas gigantescas, votus se locomoviam pelo ar atirando bolas de fogo ao solo, meunus pisoteavam dezenas de uma só vez, animos matavam pessoas até sem querer, parvus se teletransportavam e se multiplicavam se tornando praticamente invencíveis e a qualquer hora um cogi aparecia cortando a garganta de alguém e sumindo como se nada tivesse acontecido. O caos era tanto que eu não fazia ideia de quem estava com a vantagem.

- Beck, cuidado!

Um grito bem na minha frente me fez sair da transe. Era Val, ela tinha uma flecha cravada no coração, uma flecha que estava destinada a mim.

- Val!

Me ajoelhei ao seu lado tentando arrancar a flecha.

- Mark não te ensinou? Depois de atingir o alvo, não tem mais volta. Não há como tirá-la.

Sua voz estava cansada mas pude perceber que ela tentava não demonstrar para mim a dor que sentia.

- Por favor, não morra!

Eu estava chorando, lágrimas de ódio e desespero, segurei a mão dela com força e avistei Mark se aproximar com sua velocidade de lucet.

- Beck, venha comigo. Gion e Renan já estão seguros em Asfales, você precisa vir!

- Não vou deixá-la! Não vou deixar ninguém aqui! Não posso virar as costas para o meu povo. Não posso fugir e me esconder enquanto pessoas, pessoas boas, estão lutando até a morte. Não posso, Mark.

- Beck...

A voz era de Val. A flecha em seu peito estava se movendo, sozinha! Até o ferimento em seu peito fechou em questão de instantes. De repente a terra começou a tremer como se estivéssemos em meio a um terremoto, as árvores se agitavam arrastando até os mais fortes dos animos. Todos estavam olhando em nossa direção.

- Val, o que você está fazendo?

- Não é ela, Beck! É você!

Olhei para minhas mãos, algum tipo de luz branca estava entrando por elas e invadindo meu corpo. Senti uma energia gigantesca percorrer cada poro. Meu corpo involuntariamente se levantou, e depois passei a não sentir mais o chão. Eu estava voando!

Todos olhavam para mim boquiabertos, e eu senti que iria explodir se não libertasse toda aquela energia dentro de mim. Vi Uzi e metade do seu exército, estava prestes a matá-los quando vi Renan no telhado de Asfales tentando chamar minha atenção, ele estava longe demais para escutá-lo mas soube exatamente o que dizia, "você não é uma assassina".

- Vão embora!

Uzi rapidamente obedeceu levando com ele seu exército. Estava exausta e assim que os perdi de vista, voltei ao chão, caindo quase que desmaiada, minhas forças estavam esgotadas.

Rebecca Evelyn- A MestiçaOnde histórias criam vida. Descubra agora