Beck é uma órfã que aos 16 anos é levada para Aye, um país escondido dos humanos habitado apenas por seres místicos que acreditamos não passarem de lendas. Lá, ela descobre suas origens e luta para cumprir o destino que lhe foi escrito logo ao nasce...
💔 Aviso: Este capítulo contém cenas de automutilação e pensamentos suicidas, se você não se sente confortável em ler sobre, peço que o pule ou leia com alguém de confiança.
Se você está passando ou conhece alguém que passa por isso disque 188 (Central de Valorização da Vida).
Você não está sozinhx! ✊✊🏻✊🏼✊🏽✊🏾✊🏿
Águas passadas manchadas de sangue.
Meus olhos se abriram ao perceber a luz que adentrava o quarto preguiçosa pela fina cortina.
Levantei.
Uau eu parecia nas nuvens!
Mas a noite passada, por mais incrível que tenha sido, foi apenas uma rápida calmaria durante a tempestade. Em menos de três meses eu descobrira que meus pais foram mortos fazendo um bebê inocente ser morto com eles, fui sequestrada, negociada como um objeto, presa, agredida e estuprada, quase matei várias pessoas, me transformei em alguém cego pelo poder, briguei com meu melhor amigo e perdi minha melhor amiga.
Sabia que Litaten precisava de mim, mas tudo que eu queria era sumir.
Desejei morrer.
Se eu morresse, não sentiria mais dores, não sentiria mais pressões. Não precisaria sofrer ao me olhar no espelho e ver alguém sujo, uma raça impura, alguém que deveria estar morto. Não precisaria ver em meu reflexo como meus pais foram os responsáveis pela morte de uma criança que não merecia seu destino. Eu roubei a vida de Coral! Eu estava destinada a morte, não ela.
Se eu morresse, não precisaria vomitar sempre ao lembrar da cena de Uzi invadindo meu corpo. Não precisaria sentir a dor de seu pau imundo me penetrando sempre que fecho os olhos. Não precisaria olhar para o meu corpo e ver uma aberração, como um pano de chão sujo e rasgado. Era assim que eu via o meu corpo. Depois que Uzi me adentrou a força, meu corpo se tornou algo sujo que eu não reconhecia, como se não fizesse parte de mim. Me sentia inútil. Afinal, como eu pude ficar paralisada? Como não tive forças para me desvencilhar daquele corpo repugnante? A mais poderosa de Aye não conseguiu impedir um homem de se satisfazer com sua dor. Eu realmente era uma inútil!
Se eu morresse, não precisaria lidar com a pressão que todos em Aye colocavam em cima de mim. Como que diabos eu libertaria todos os mystiks de um preconceito que existe desde o surgimento de Aye?
Olhei para a janela que dava visão a Caeli. Era larga e o chão parecia tão distante...
"Se eu me jogasse com certeza morreria..."
- Beck? Está tudo bem?
Gion tinha acordado. Claro que ele apareceria para "me salvar"!
Dei um sorriso amarelo.
- Estou bem.
Me aproximei para beijá-lo. Nosso beijo encaixava de um jeito maravilhoso. Parecia que estávamos conectados. Se eu acreditasse em almas gêmeas, com certeza Gion seria a minha.
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