Capítulo 19: O Grande Dia

52 4 2
                                    

One life ends, another begins.
(Uma vida acaba, outra começa)

Amara acabara por convencer Val de vir morar com ela em Asfales, e todos ficaram chocados, para se dizer o mínimo, quando Gion e eu aparecemos com a falecida Val por quem todos nós havíamos ficado de luto.

Mas depois de tudo explicado, a animação foi gigantesca, todos estavam eufóricos com a volta de Val.

Todos amaram Amara também, ela tinha uma personalidade doce e era praticamente impossível não simpatizar com ela.

Porém a volta de Val não foi a única coisa que chocou os moradores de Asfales...

- Isso é ótimo, Beck.

Mark fingia entusiasmo mas eu percebi uma pontada de mágoa em sua voz e no seu sorriso amarelo.

Estávamos eu, Gion e Mark na sala principal. Todos tentando inutilmente disfarçar o incômodo com aquele assunto.

- Eu não vou ter, Mark.

Sua expressão rapidamente mudou.

- O quê??? Você precisa ter, Rebecca! Essa criança no seu ventre é filha de mestiça e mais alguma raça. Isso nunca aconteceu! Ela pode ser ainda mais poderosa que você!

Gion se levantou irritado e com a voz explosiva disse:
- Mark, meu filho não é uma arma! É uma criança!

Os dois estavam se encarando com ódio ignorando totalmente minha presença.

- Também não é uma criança, Gion! Não é seu filho! É só um feto! Um feto que está no meu corpo! Então a decisão é apenas minha! Eu não vou ter! - gritei enfurecida e desabando em lágrimas.

Me senti repentinamente tonta e me deitei no chão tentando evitar a queda caso eu desmaiasse novamente. Nesse momento, Val adentrou a sala juntamente a Amara que rapidamente correu em minha direção me deitando em seu colo e secando meu suor.

Val parecia nervosa, mas mesmo assim falou com a voz fraca:
- Amara e eu conversamos. Beck, nós queremos filhos! Não achamos que seria tão cedo mas estamos preparadas. Ficaríamos muito felizes se pudéssemos adotar seu filho como nosso. Se você concordar, claro.

- Eu preciso pensar.

Foi o que eu disse, porém sabia exatamente o que queria. Iria aceitar a proposta de Val. Afinal, como recusar? Todos sairiam felizes. Val e Amara teriam um filho, Gion poderia conviver com a criança e Mark teria sua, como posso chamar isso? Mestiça da mestiça?

Todos menos eu...

Ou pelo menos era isso que eu achava...

Ou pelo menos era isso que eu achava

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.


- Gion, acho que são gêmeos!

Já haviam se passado quatro meses e a ideia de ter filhos já não era tão aterrorizante, aliás eu até estava gostando...

Gion levantou minha regata e colocou o ouvido na minha barriga.

- Está vendo? São mais de duas pernas chutando!

- Ou pode ser que filhos de mestiças tenham quatro pernas. - ele disse rindo.

Dei um soquinho em seu peito rindo também.

- Vamos pensar em nomes?

- Beck, você não pode se apegar agora... Nós prometemos doar para Val e Amara.

- Eu sei... Mas mesmo assim...

Meu olhar entristeceu. Agora com seis meses de gestação, não estava mais preparada para abrir mão de meus filhos, eu havia aprendido a amá-los mesmo antes de nascerem, mas Val e Amara provavelmente seriam melhores mães do que eu, e, naquela altura, só queria o melhor para essas crianças. Pelo menos eu poderia vê-las sempre que quisesse...

Gion percebendo minha feição triste disse:
- Tudo bem... Já que são gêmeos, cada um de nós escolhe um nome masculino e um feminino, já que não sabemos o sexo... Mas, Beck, Val e Amara devem estar fazendo a mesma coisa, e os filhos são delas, você sabe, acho pouco provável que os nomes escolhidos agora vão ser realmente os nomes das crianças...

Dei de ombros.

- Se for menino quero Andrew e se for menina, Fernanda.

- Nossa, Beck! São lindos!

- Sua vez!

Ele pensou um pouco e disse:
- Se for menino, Guilherme, era o nome do meu pai, e se for menina, Adira, que era... Bom, o nome da sua mãe...

Meus olhos se encheram de lágrimas.

- Adira... É lindo!

Ele enxugou minhas finas lágrimas que escorriam lentamente e pressionou seus lábios contra os meus. Foi um beijo carinhoso e repleto de amor e esperança, nós dois sabíamos que aquelas crianças não seriam nossas, mas não custava sonhar...

Mark entrou bem quando nosso beijo estava esquentando, me fazendo corar.

- Er... Desculpe! Não quis atrapalhar! Só... - ele limpou a garganta e continuou - Melhor vocês se arrumarem... Partiremos em meia hora.

- Estamos indo.

Era um dia importante. Importante demais para falar a verdade. O dia por qual todos estavam esperando desde que eu chegara em Aye.

Era o dia da nossa liberdade!

Litaten, Exspira, Infa, Caeli e Fluctus, todas as províncias aliadas já tinham seus exércitos montados e hiper preparados para aquele dia, para hoje! E liderando tudo estava eu!

Nossas chances de vitória eram grandes, tínhamos mais da metade das províncias ao nosso lado e Sanctus que quis permanecer neutro, então eram seis contra três, e claro, também tinha eu... Não vou mentir, a pressão sobre mim estava gigantesca, mas eu realmente estava preparada para aquilo. Mark e Val me treinaram incansavelmente 18 horas por dia, todos os dias durante sete meses para aquele momento, e finalmente havia chegado a hora!

- Passaremos por Iras, depois Solis e por último Furru. Não se esqueçam, é uma guerra, mas isso não significa que precisa haver inúmeras mortes, poupem o quanto puderem.

Eu estava na frente do exército aliado o comandando, do meu lado, Renan, Gion, Mark, Val, Jiwani, Cássia, Isaac e Itzal, alguns metros atrás várias carroças levando armamentos extras (mesmo que já estivéssemos fortemente armados) e logo atrás mais de 15000 pessoas prontas para lutar pela causa. Era algo realmente lindo, e meu rosto estava completamente iluminado pela emoção.

Fazia um tempo agradável, o que foi ótimo já que aqueles trajes eram tão quentes. Iríamos percorrer uma grande distância para passar por todas as províncias inimigas, mas a maioria lá tinha super velocidade ou conseguia voar, então aquilo não era um problema.

Todos também estavam enérgicos e eufóricos, além de ser um dia sonhado a vida inteira por todos, estavam bem alimentados. No dia anterior, foi Halloween no mundo dos humanos, e claro que todos aproveitaram a oportunidade para conseguir alimento sem levantar muitas suspeitas.

No começo era estranho, eles irem para meu antigo mundo, matarem pessoas! Por isso, eles nunca me levavam, mas eu sempre percebia porque no dia seguinte acordavam bem mais dispostos.

Ainda me incomodava um pouco aquela situação, mas hoje não me importei, até agradeci, todos estavam em sua melhor disposição, atentos e em forma.

Pois é... O grande dia chegou...

Rebecca Evelyn- A MestiçaOnde histórias criam vida. Descubra agora