Enquanto eu segurava meu violão no final duma tarde sem cor,
dedilhei as cordas buscando uma melodia que se assemelhasse ao amor,
deixei o violão de lado no fim da noite, sem música, sem letra, com dúvidas,
o tempo esvaiu pelas frestas antes que as lamúrias pudessem ser ouvidas,
e assim como nas despedidas, lamentei a falta de uma lembrança.
Eu devia estar lendo as palavras de quem já morreu, para repeti-las num papel,
que definirá meu papel nesta peça, que se desfaz na chuva, amarga como fel,
ou talvez o mel que apetece os sentidos de quem se embriaga não me seja doce,
viver esta vida ignorando a gravidade que nos puxa pra baixo, antes fosse,
eu sinto cada átomo adicionado na bagagem do destino a cada dia.
E sei que não sou a mais inteligente das criaturas que aqui pisam,
e que algumas almas amaldiçoadas como a minha aparecem e nem sempre ficam,
se movem como pássaros em formação no céu, enquanto permaneço inerte,
e vejo que esta minha cabeça de chumbo me leva ao chão sem que eu desperte,
não posso dizer se é sonho ou pesadelo, pois não conheço a realidade.
Pois cheguei a idade em que vejo a morte e tudo o que ela representa para a vida,
como sua participação na eterna valsa das paixões humanas, abrindo a ferida,
fechando um ciclo e uma dor, assim como o amor que busco nas canções,
nos lábios entreabertos, nos olhos que me encaram, na batida dos corações,
talvez isto se volte mais ao pessimismo do que o romantismo, quem poderá saber,
se não eu...