₄.

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SINA DEINERT

Urrea me trouxe alguns biscoitos e um copo de café preto. Eu comia desesperada. Faziam umas doze horas que eu não comia nada. Por sorte, estava acostumada a ficar com fome por muito tempo.

ㅡ Pensei que iria reclamar pela comida fraca ㅡ Noah corta o silêncio

ㅡ Não reclamo pela comida. Em uma longa fase da minha vida eu tinha que dormir para inibir a minha fome. Meus pais se perguntavam todas as vezes se eu acordaria. Foram tempos difíceis. ㅡ digo bebendo o último gole de café

Jacob franziu os lábios. Sua expressão emanava pena.

ㅡ Não preciso da sua pena ㅡ digo empurrando o copo de plástico para longe

A expressão dele volta para algo sério e frio.

ㅡ É essa vida que quer dar para os seus filhos? ㅡ ele pergunta franzindo o cenho de leve

Inspiro um ar pesado para dentro dos pulmões e soltei devagar.

ㅡ Eu sei que não ㅡ seu tom soa compreensivo

Não respondo nada. Apenas volto a minha atenção para o corte na minha coxa, que ardia e coçava.

ㅡ Está ardendo? ㅡ ele pergunta

ㅡ E coçando

ㅡ É um bom sinal. Está cicatrizando
ㅡ Noah levanta a vista para a minha perna

ㅡ Aprendeu isso no Iraque? ㅡ pergunto brincando com a abertura da minha calça

ㅡ Sim. Sempre tinha alguém para cuidar ㅡ ele parecia lembrar

ㅡ O que você fazia lá? ㅡ coloco as minhas notas de salto sob a mesa

ㅡ Eu era do 1º Batalhão da 3ª Divisão da Infantaria, ou seja, eu ficava na linha de frente. Eu estava no comando da tropa na linha de frente. ㅡ ele faz uma pausa ㅡ Quando chegávamos ao Iraque, alguns dos iraquianos nos recebiam com tiros e granadas. Já outros com chás doces e flores em troca de proteção. Era como visitar a família, só que usando tanques.

ㅡ Por que procuraram proteção?

ㅡ Estavam com medo dos rebeldes. Nós éramos os únicos que poderiam protegê-los. ㅡ ele se inclina para frente e olho para o seu pescoço, onde haviam alguns colares, placas de identificação

ㅡ O que é isso? ㅡ pergunto apontando para o pescoço dele

Ele abaixa um pouco a cabeça e passa o cordão por ela. Me inclino para frente para poder ver de perto.

ㅡ São placas de identificação que recebemos duas assim que nos alistamos. Se morrermos em combate, uma delas fica conosco e a outra volta para a nossa família. ㅡ ele puxa uma das placas de metal ㅡ Essa é do meu pai e do meu avô. Juntei as deles em uma só ㅡ Depois ele puxa outra ㅡ Essa é do Tony, meu melhor amigo.

O do fogo amigável...

ㅡ E essas são as minhas ㅡ ele diz me mostrando as duas últimas

ㅡ Por que não está no Iraque? ㅡ pergunto franzindo a testa e tirando as botas de cima da mesa

ㅡ Saí da corporação quando surgiu a oportunidade de virar agente do FBI. Recebi a proposta poucos dias depois do fogo amigável ㅡ ele olha para as suas mãos entrelaçadas sob a mesa de madeira

ㅡ Quem mais sabe do fogo amigável? ㅡ pergunto olhando para as mãos dele

ㅡ Apenas duas pessoas do meu pelotão, o meu superior e você ㅡ Urrea volta os seus olhos para mim

𝕯𝖆𝖓𝖌𝖊𝖗𝖔𝖚𝖘 𝖜𝖔𝖒𝖆𝖓 • 𝕹𝖔𝖆𝖗𝖙 (interrompida)Onde histórias criam vida. Descubra agora