Capítulo I: 10/04/1967 - 30/04/1967 - Três letras

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Le mie mani morbide tremavano.

Com meu coração acelerado... eu estava ofegante, meus cabelos negros e cacheados que chegavam ao meu pescoço balançavam a cada passo confuso que eu dava ao continuar correndo ao longe daquelas chamas que se distanciavam pouco a pouco. Gotas de lágrimas escapavam da pele, do nem branco, nem preto, mas do meu pardo corpo. Não estava quente, nem por fora, nem por dentro, mas eu ainda suava. Meus olhos estavam fechados, se negando a olhar o caminho que tomei. Cada passo era um estalar, o som de uma quebra, vinha do meu peito? Galhos das árvores que eu pisava com sapatos castanhos.

A noturna floresta que se aproximava me fez deixar o fogo e o agrupamento de respirações para trás. Ainda não abri os olhos. Enquanto fui engolido no breu, sentia os ramos, rochas, folhas... e eu... merecia... poderia simplesmente evitá-los, porém, tentei, e quis sentir. Sentir cada galho seco das árvores que atingiam meu rosto, marcando-o em uma dor ardida pelo impacto, assim se quebraria para que as farpas o perfurassem e incomodassem enquanto estivessem ali, quem sabe bater os joelhos em uma áspera rocha que rasgaria os fios de minhas calças, para que assim levassem consigo parte de minha pele, abrindo um ferimento até aonde conseguisse.

Porém eu não podia, estes somente se quebravam e esfarrapavam partes de minhas roupas, mal fazendo meu torso e rosto recuarem milímetros para trás. Talvez, se atingisse muitos, somando cada recuo que me faziam dar, as árvores me fariam voltar para perto das chamas e tomar uma decisão diferente.

Em minutos eu já ouvia os latidos de nossos três cães. Minha casa se aproximava, eu sabia bem disso, e não era as respirações de pessoas que passavam em seus carros na rua ou pelos meus lados na calçada que mudariam aquilo.

Eu tentava me estabilizar, eu precisava fazer isso. Finalmente parei de correr e levei a mão direita hesitante até a maçaneta oval de bronze e abri a porta de cor verde, aonde me foi entregue a ida até as escadas de madeira e cimento, junto do grito de questionamento vindo da voz firme e feminina, perguntando sobre quem havia entrado em sua residência. Subia com passos apressados aqueles degraus, levando as mãos aos cabelos, penetrando os dedos entre os fios das raízes dos lados de minha cabeça e os segurando, acolhi meu rosto que se abaixava entre meus braços cobertos pela camisa com mangas de cor branca. Por onde passei se fechava o pedaço de madeira que definia a entrada, com sua maçaneta amassada na parte de fora, com marca de meus dedos.

Passei pelo quarto de Icarus, que estava sentado em sua cama e de porta aberta, com suas palmas apoiadas nos joelhos, este que logo se levantou após me ver passar. Segui para meu cômodo que já estava sua porta aberta, entrando no mesmo, puxando a porta para trás com a perna esquerda e o fechando com minhas costas. Joguei meu corpo para frente e corri em direção à janela, levando a mão esquerda até sua abertura e abrindo-a... eu queria gritar, e gritei, muito alto e a ponto dos que passavam a rua paravam para me ver, mas o que me fez da um fim naquilo, foi o som de um trovão que surgiu e ecoou das nuvens de chuva que se formavam. Assustei-me e corri em direção ao banheiro de meu quarto.

"Não importa o quanto eu chore... ainda estarei sozinho nesse mundo" - foi o meu pensamento melancólico do momento.

Parei à frente do espelho apoiando ambas as mãos na pia acinzentada e de porcelana, ela estava fria. Lentamente, as pálpebras que guardavam meus olhos desde aquelas chamas se abriam...

...vazios...

...Meus olhos estavam completamente vazios e envolvidos por uma luz branca que irradiava com grande força de ambos. Até que novamente, desmaiei.

Pela manhã a luz do sol adentrava pelas frestas das janelas banhando o quarto com o tom matutino, a mesa coberta de pratos e copos sujos, revistas e livros jogados tanto acima quanto abaixo de sacos de salgadinhos e latas, assim como roupas espalhadas da cama ao chão. Recobrei a consciência, o sonho havia terminado e nem sequer recordo o que lá aconteceu: eu estava novamente à realidade, abrindo os olhos com as íris tão negras quanto os meus próprios cabelos. Posicionei as palmas no colchão, para que eu impulsionasse meu corpo para frente e me sentasse.

Mythology: A Guerra PrimordialOnde histórias criam vida. Descubra agora