Os 4 Nascidos (POSTANDO)

Mérito (James Nungo)

  "E saiu outro, um cavalo vermelho; e ao que estava sentado nele foi concedido tirar da terra a paz, para que se matassem uns aos outros; e foi-lhe dada uma grande espada."

  Sempre foi assim, sonhos repetitivos que me faziam despertar ofegante, pesadelos reais e intensos. Num dos meus olhos, uma espada brilhante aparecia me passando, talvez, um sinal. As paralisias do sono eram frequentes, tudo começou quando era criança.

  Morando na minha terra, Moçambique tinha muitas ambições que as vezes me assustavam, pois eram mais que ambições, mas sim eram uma obsessão. Acho que a pobreza fosse um dos motivos e a amargura pelos meus pais, também.

  Nascido em um outro país fora de Moçambique, fui dado o nome "Bongani." Morei por lá por alguns 6 anos com minha mãe e meu padrasto. O país era África do Sul. E conheci o meu verdadeiro pai enquanto já não dava lhe apelidar dessa forma, pois era um termo muito delicado, porém muitos o fazem perder o seu verdadeiro valor. Quando me mudei para Moçambique, como não aceitavam nomes estrangeiros tiveram que trocar o meu nome para um que aparecia num catálogo e foi-me escolhido o nome "Mérito".

  A minha infância foi horrível quando minha mãe me abandonou. Não vou falar do meu pai, pois ele só me viu uma vez e nunca mais se interessou em me ver novamente. Na época as minhas feições não eram similares as dele, mas já denunciavam.

  Então morei em um orfanato em péssimas condições, mas depois fui adotado por um casal de idiotas que me tornou na horrível pessoa que sou hoje. Não vou deixar os meus horrendos detalhes agora, mas acho que farei isso quando me sentir a vontade, pois a história é minha e você só tem de escutar.

  Agora estou no meu enorme quarto que construí com o meu trabalho bem estranho, sim bem estranho, o trabalho do líquido vermelho, o jogo das almas, dos espíritos ou demônios se você preferir. Exatamente, sou um feiticeiro.

  Quando estava no orfanato conheci crianças excêntricas como eu que se interessavam por ocultismo, magia negra, essas coisas sombrias e sobrenaturais. Sempre fui vingativo e desde há muito, mesmo com uma mente ainda nova já planejava a morte de todos que me fizeram sofrer. Eu andava com a lista dos mesmos e depois que comecei a aprender a arte sombria resolvi usá-los como teste.

  A primeira morte foi horrionda, vendo alguém definhando até um grande número de gente sentir pena, exceto eu que estava fazendo aquilo com as minhas orações do além. A primeira vítima foi o meu pai idiota, meu pai biológico. Mesmo sem me lembrar muito do seu rosto, que depois de alguns anos se tornou muito idêntico ao meu, eu pude fazer a magia funcionar.

  Ele foi tomado por uma doença que ninguém soube identificar nem dar um nome, pois não era uma doença, mas apenas um feitiço para lhe fazer sofrer antes de morrer. Ele ficou tão corroído que a sua carne já não era suficiente para cobrir todo o esqueleto e as suas forças se perdiam feitos de um idoso doente e em estado terminal de uma doença pujante.

  Dancei quando tudo deu certo, porque não havia acreditado tanto na oração destruidora, no entanto quando vi os resultados dancei de felicidade e amei aquilo, pois ia passar a aplicar contra todos os meus inimigos.

  Quando criança eu já dava indícios que seria muito mau e cruento de um modo holístico.

  Os meus olhos eram de uma coruja que tempos em tempos ia ver o homem sofrendo e se contorcendo na cama por conta da intensa dor, que lhe agredia em cada segundo do tempo até ele gritar sem forças e desejando que a morte o levasse o mais rápido possível.

  Não levou mais de uma semana e num certo dia foi encontrado morto. Morreu sofrendo e chorando oceanos, coisa que me agradou imensamente.

  A segunda vítima foi minha mãe biológica que no caso dela não apliquei uma punição em forma de uma doença, mas sim um acidente que a fez perder os membros superiores e os membros inferiores. Foi um dos piores sofrimentos e também uma das mortes em que vi o quão eu sou muito mau, o quanto eu gosto de caos. No acidente em que ela ficou completamente inválida morreram aproximadamente 500 pessoas. Simplesmente pronunciei palavras fortes o suficiente para fazer um comboio tombar.

  Os meus pais adotivos, claramente que também tiveram o que mereceram tendo morrido um por suicídio e outro por homicídio. O casal começou a ter problemas graves no relacionamento depois que eu lencei um feitiço que fez os dois odiarem um ao outro, aí começou uma onda de traições, agressões psicológicas e físicas até que um dia o macho espancou a mulher até perder os sentidos e em seguida morrendo. As marcas das agressões eram de gelar a espinha. Ulteriormente ele se suicidou na sala da casa.

  Quando o meu trabalho deu certo, dancei novamente por ter a coisa que alegrou o meu coração. Amo gerar o caos e o sofrimento.

  O tempo foi andando e eu já me sentia um Deus, pois podia controlar boa parte da realidade, ou melhor eu criava a minha própria realidade. Muitos me procuravam para destruírem os seus irmãos e ganhar uma alegria momentânea que desaparecia do imo em menos tempo assim ficando o arrependimento. Eu não me importava e nem me importo com as escolhas das pessoas, eu sou quero o sucesso da minha arte.

  O meu coração está cheio de escuridão e você verificará isso que quero lhe mostrar neste espelho mágico. Está preparado?

  Mas espere mais um pouco. O meu tempo de sucesso durou pouco até que um dia fui preso pelas autoridades da minha zona pela minha prática exagerada do que tenho nas mãos, a minha magia que apenas causava caos diariamente. Eu expliquei que não era eu, mas sim os meus clientes que me exigiam exagerar nas minhas dosagens de truculência, se é que existe uma certa dosagem para cruentos atos do além.

  Todos pensaram que me prendendo acabariam com o caos, pois não sabiam que eu era e sou o próprio caos. Com a minha prisão as coisas apenas pioraram no distrito de Moamba, porque eu já não usava a razão para os meus atos, porém fazia apenas por diversão que colocava júbilo em meu âmago.