Hora 18

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  As palavras sairam da minha boca sem que eu tivesse tempo para pensar, sem que eu pudesse entender o peso que elas tinham para Rafa e minhas palavras tinham muito peso, mas também tinham verdade.
Não tinha mais como negar tanto para mim quanto para ela, eu quero tudo o que ela quer uma familia, viagens, feriados, quero mostrar para todo mundo que ela não precisa mais se esconder, quero mostrar para todos que eu sou a mulher que a faz feliz, eu quero faze-la feliz e não me importa com o que vão falar.
-Já pensou em mais quantas leitoras você vai conseguir por ser uma mãe assumida lésbica?
-Não havia pensado nisso. Ela me olhou sorrindo, não precisava olhar para ela para saber que sorria. -Mas também vou perder bastante dos meus leitores religiosos.
-Sinto muito por isso. Falei com sinceridade. -Mas acredite, seus próximos livros eu vou comprar várias caixas e destribuir para minhas clientes.
Ela riu, queria olhar para ela rindo, queria ver seus olhos ficando pequenos enquanto o sorriso se abria, mas se eu virasse agora não iria conseguir tirar meus olhos e precisava manter focada na estrada, em algum momento uma neblina se aconchegou e nos pegou de surpresa, até meia hora atrás estava um lindo dia de sol e então do nada essa neblina. Talvez nosso relacionamento esteja fadado a climas perfeitos para não sairmos do quarto.
Nosso relacionamento, estranho como já fazia sentido.
Meu celular tocou e Rafaella o pegou seu rosto fechou no mesmo instante e senti a dor em sua voz quando disse ser Ivo, fiquei em duvida se atendia, mas ele deveria estar preocupado, poderia ter acontecido alguma coisa, pedi que atendesse e colocasse no viva-voz.
-Ivo?
-Você não vai acreditar Gi. Sua voz fez meu coração apertar. -Lembra do Kevin?
-Sm... Mas podemos conversar quando eu chegar? Estou dirigindo no meio de uma neblina.
-Ah tudo bem depois conversamos dirija com cuidado.
Ele desligou e Rafa guardou o telefone novamente, a ligação terminou deixando um clima pesado no carro que eu fingi não perceber e me focar na estrada, porém o silêncio era cortante estiquei a mão e liguei o rádio, estava em uma rádio de música religiosa que Rafa mudou imediatamente para uma que tocava as musicas do momento.
-Você vai falar com ele?
-Preciso né, não posso simplesmente sair de casa, mesmo porque é minha casa.
-Como acha que ele vai reagir?
-Na verdade não sei. Suspirei sentindo todo o estresse querendo sair. -Somos amigos, mas acho que isso vai ser muito para ele.
-Eu achei que seria muito para João e ele aceitou tranquilo.
-Mas é algo que ele não poderia mudar, não é como se ele soubesse desde o inicio e vocês tivessem um acordo sabe? Não é como se eu tivesse traido ele, mas eu trai a confiança dele entende? Dei minha palavra de que não iria me apaixonar e aqui estou, com suas mãos em meu cabelo dirigindo para casa depois de me declarar no meio da estrada aos berros e prantos.
Rafa tirou a mão devagar e pousou em seu próprio colo.
-Não, não me leve a mal. Peguei em sua mão desviando os olhos um segundo para olhá-la. -Mas você entende que são situações completamente diferentes e que... não sei mas eu sinto pior do que se de fato tivesse traído ele?
-Eu não entendo...
-Acontece que eu me apaixonei Rafa, quando a única coisa que ele pedia era pra que eu não fizesse, mas você entende que não tenho como comandar isso, não é como se eu tivesse saído hoje e pensando "tá aí um bom dia pra me apaixonar". Ri imaginando como seria fácil se fosse assim.
-Eu também não queria isso, mas aqui estamos.
-Exato... aqui estamos.
-Eu poderia deixá-lo morar no meu apartamento, eu uso ele para escrever as vezes, é pequeno mas confortável.
-É muito adorável, mas acredito que ele não se sentiria bem com isso.
-Eu só quero estar com você.
-Eu também Rafa.
-Mas, eu entendo. Ela suspirou olhei para ela e ela encarava o anel que eu havia feito. -Eu entendo toda a situação e para mim não vai ser fácil também.
-Mas você é uma mulher livre Rafaella.
-Mas eu sou uma filha. Suas mãos voltaram para meu cabelo. -E minha mãe não vai aceitar tudo isso, não vai aceitar meu divórcio e principalmente nos aceitar tão fácil, quando tudo o que eu queria era estar ao seu lado.
-Você acha que sua mãe não vai aceitar?
-Você acha que se ela fosse aceitar eu teria me casado e me assumido só agora?
-Belo ponto. Puxei suas mãos para meus lábios beijando-a.
Percebi que ela havia tirado a aliança e trocado o anel de mão. Beijei-lhe o dedo com meu anel.
-Isso é uma promessa, um pedido para que lembre-se de mim se não sair como planejamos, mas uma promessa que se for o certo iremos nos encontrar.
-Você quem o fez?
-Sim, Júlia minha filha, quem ensinou quando era pequena.
-Eu não disse nada, com medo de que você não quisesse que eu dissesse, mas eu amei Gi. Ela olhou para o anel e eu senti seu sorriso iluminar o carro. -É o presente mais lindo que eu já ganhei.
-Foi feito às pressas com o arame do vinho que tomamos, não dou uma semana para enferrujar, sinto muito.
-Eu não me importo, é ainda mais especial por ter sido do nosso vinho.
-Eu não estou mais conseguindo ver nada e sinceramente, estou ficando nervosa demais para continuar. Reclamei jogando o carro para o acostamento, no radio havia dito que a neblina iria passar.
-Nós podemos continuar mais tarde. Rafa sorriu tirando o cinto de segurança. -Nós podemos nos ocupar enquanto isso.
-Ah, é? Perguntei compreendendo suas intenções e tirando meu cinto também.
-Você já tinha andando nesse modelo de carro antes?
-Não. Respondi. Claramente algo havia se perdido e eu não havia de fato entendido suas intenções.
-Se você apertar esse botão aqui ao lado o banco deita virando uma cama. Ela sorriu maliciosamente apertando o botão dela.
É, definitivamente havia entendido suas intenções. apertei meu botão deitando o banco e ela sorriu, sorriu enquanto vinha para cima de mim, sentou em meu colo e beijou meu pescoço, seu lábios quentes como todo o resto de seu corpo.

One Day. (Girafa)Onde histórias criam vida. Descubra agora