Tudo bem, é muita informação.
Qual o problema dela ser bissexual?
Tudo bem, você fez muitas perguntas que não deveria ter feito. De onde tirou todas essas questões? Não é como se você nunca tivesse encontrado alguém que gostasse de ambos os sexos.
Meu Deus, o que está acontecendo aqui?
Está tudo bem Rafaella, é como ela disse ela não vai te atacar.
Ao menos que eu queira.
Por que raios eu fui falar isso? ao menos que eu queira. Agora essa frase fica girando em minha cabeça, tenho que me lembrar que sou uma mulher casada, meu Deus eu sou uma mulher casada com um filho na faculdade que nunca aproveitou nada da vida, e agora estou presa sabe-se lá por quanto tempo com uma mulher claramente linda demais, que faz eu pensar coisas que, raios, eu não deveria pensar!
Ao menos que eu queira. Eu quero?
Talvez eu queira.
Não, eu sou casada. Com um homem.
Mas e se eu quiser?
Droga!
É o que ela disse sobre a ex dela, uma mulher hétero que se apaixonou apenas por ela, talvez seja eu, né?
Senhor, me ajuda?
Agora está recorrendo ao Senhor?! Não posso fazer isso. Ou posso? Estou com um problema e Ele sempre me ajudou; Mas é um problema com outro sexo.
A menos que eu queira. Viu? Essa frase não para de me atormentar.
Gizelly está me olhando, seu rosto é neutro demais, suas mãos estão apoiadas em meu joelho, as vezes ela bebe da sua cerveja, as vezes me faz beber da minha.
"Acredite você vai precisar" talvez ela soubesse de algo, talvez soubesse da minha reação, mas será que ela sabe que minha reação é por eu estar atraída nela?
Eu assumi, meu Deus eu assumi. E eu assumo. Gizelly seja-lá-qual-for-seu-sobrenome eu estou loucamente atraída por você.
A menos que eu queira.
-Mas eu sou casada com um homem.
-Que?
Droga pensei alto. Gizelly sorriu para mim, seus olhos doces, me pegaram de surpresa.
-Olha Rafa. Aí está, o que me fez ficar abalada, Rafa. Não Rafaella, não mãe. Simplesmente Rafa. -Isso tudo o que você esta pensando, eu já pensei, já passei, inúmeras vezes. Ela respirou fundo novamente.
"Quando uma mulher descobre que eu sou bi, bom, elas enlouquecem, algumas se afastam com medo de que eu faça algo, com medo do que os outros vão pensar se nos verem juntas, outras acabam ficando atraídas, mas não por mim sabe? Pela possibilidade de eu me sentir atraída por elas, por se sentirem desejadas elas fazem jogos, se insinuam. E depois somem.
Tudo o que você está pensando, acredite, eu já passei. Mas temos que pensar que não temos para onde ir, os quartos estão cheios a tempestade lá fora continua e temos que visitar nossos filhos! Não deixe ficar estranho, pelos nossos filhos!"
Ah, Gizelly, não é o que está pensando, mas como? Como explicar para ela que esse jeito dela me conquistou logo depois? Como explicar para ela, que talvez, se estivéssemos em outras circunstâncias, isso tudo pudesse dar certo? Como explicar que, nesse furacão que ela é, eu queria voar.
-Já sei. Gi se assustou.
-Já sabe o que?
-Bom, vamos fingir que somos novas ainda! Vamos fazer o que uma pessoa da idade dos nossos filhos fariam nessa situação.
-Nós somos novas Rafa, mas eu tenho uma ideia.
-Qual?
-Eu tenho um aplicativo no celular, com brincadeiras envolvendo bebidas, poderíamos ficar bêbadas enquanto brincamos.
Talvez não fosse uma boa ideia, mas, o que mais faríamos? Concordei e Gi abriu o frigobar novamente, trazendo duas taças geladas e uma garrafa de vinho tinto. Não era dos melhores, mas dava para beber, ela sentou na minha frente de pernas cruzadas, me entregou as taças para encher, enquanto procurava o aplicativo no celular.
-Temos duas opções, a primeira é eu nunca e a segunda é verdade ou desafio.
-Não estou preparada para o segundo ainda! Definitivamente não estava pronta para desafios.
-Então tá, sabe como funciona? Neguei. -Vai ter uma pergunta, se você já fez, você bebe, se não não precisa. Entendeu?
-Sim, fiz bebe, não fiz, não. Primeira.
Gi apertou o botão e varias perguntas começaram a surgir na tela, até que parou em uma.
-Eu nunca consegui nada de graça dando em cima de alguém.
Gizelly bebeu, eu não.
Ela me olhou dando de ombros.
-Eu era adolescente, normalmente era pra conseguir bebida! Próxima.
-Eu nunca enviei/recebi cartas românticas . Foi a minha vez de ler, e beber. Gi não bebeu. -Nunca?
-Não. Ninguém me mandou.
-Credo Gi, eu vou te mandar quando chegarmos.
-Eu nunca estive um relacionamento aberto.
Novamente, ela bebeu, eu não.
-Como funciona? Perguntei.
-Depende muito, conosco é simples, Ivo não sente necessidade, ele diz que para a parte dele não é, mas ele sabe que eu sou um espírito livre, mas para mim é, contanto que seja só mulheres, homem não. E quando começar o sentimento, tem que acabar.
-Ivo, o seu marido atual? Ela assentiu. -Você é tipo uma esperança sabia?
-Como assim?
-De dias melhores, sei lá. Próxima.
-Eu nunca me arrependi de ter namorado alguém.
Ela bebeu, eu fechei os olhos, era como se minha mão lutava contra mim, mas no fundo, bebi. Bebi todo o conteúdo da taça.
-Mas você só teve um namorado.
-Não é que eu tenha me arrependido dele. Mas tem dias que me arrependo de ter começado tão nova, hoje é um deles, se eu não estivesse casada no momento, isso tudo seria... diferente.
Gi me encarou, pensou a respeito e resolveu não dizer nada, resolveu ir para a próxima pergunta.
-Eu nunca quebrei um dente.
Eu bebi, ela também.
-Eu nunca questionei minha sexualidade. Ela bebeu.
-Você não apertou o botão do aplicativo
-Eu bebi, sua vez.
Sua voz era seria, seu olhar penetrante, era como se ela tivesse algo em mente, como se quisesse algo que só eu pudesse dar.
-Esse vinho é daqueles baratos né? Já estou um pouco alta.
-Eu bebi, sua vez Rafa.
-Está ficando calor.
-Rafaella. Eu nunca me questionei.
Não tinha mais o que fazer. Bebi. Ela sorriu, mordendo levemente os lábios.
-Hoje foi a primeira vez?
-Não.
-Me conte.
-Não, próxima pergunta.
-Eu nunca quis ficar com alguém deste grupo.
Droga.
Encontrei os olhos dela, que não desviou. No fundo o ruído da televisão, ela levantou a taça, sentiu o aroma do vinho e bebeu, bebeu enquanto olhava nos meus olhos, seu olhar penetrante me deixando com calor, me deixando quente e sensível. Seu olhar tinha verdade, desejo.
Então eu bebi.
E ela sorriu, me libertando de seus olhares.
Droga.
"A menos que você queira" a voz dela em minha mente, se tiver alguma possibilidade de qualquer coisa acontecer, precisa partir de mim. E precisa ser logo.
Meu Deus, estou cogitando uma possível traição ao meu marido?
Não, não, o que acontece no quarto 41. Fica no quarto 41.
Peguei o celular de sua mão e apertei o botão procurando por outra pergunta, mas ela tirou o celular da minha mão de volta colocando dentro do roupão, seu olhar e a forma como molhava os lábios com a língua me diziam uma coisa: Eu estava ferrada.
-Eu nunca tive sonhos eróticos... Ela bebeu. -Com uma mulher.
Ela sorriu vendo minha reação, taça no meio do caminho.
-Lembre-se que você está sobre julgamento e não pode mentir.
-Ah, agora virou a advogados?
-Sempre fui. Eu bebi, sua vez.
Eu bebi.
De que adianta tentar esconder agora?
-Eu nunca, quis escapar do meu casamento e ver o que poderia acontecer fora de tudo isso?
Eu bebi, ela não.
-Eu nunca...
-Não, minha vez! Interrompi. -Eu nunca fiz perguntas constrangedoras ao invés de perguntar exatamente o que quer saber.
Ela bebeu rindo.
-Acho que já me constrangi demais, está na hora de você também ficar né?
-Não acho que tenha sido constrangimento, Rafa. Acho que é você se soltando e sendo você mesma, mas se quiser podemos jogar verdade ou desafio.
Talvez não fosse uma boa ideia, mas o que mais poderíamos fazer? Gi mudou o jogo em seu celular, escrevendo nossos nomes, mas guardando o celular em seguida.
-Vamos fazer isso da forma antiga, você começa.
-Verdade ou desafio? Perguntei, sem saber o que falaria.
-Verdade, vamos começar leve.
-Hum... Verdade que você já me conhecia antes de hoje?
-Sim, verdade. Mas isso eu já te falei...
-Eu sei, mas não tinha muito o que pensar.
-Okay, verdade ou desafio?
-Verdade.
-Verdade que você sentiu atração por uma mulher?
Respirei fundo.
-Você também já sabia disso.
-Eu sei, mas eu quero a verdade.
-Como assim?
-Quero saber quem é ela, que te fez se questionar.
-Não é nada demais. Ela me encarou. -Foi muito tempo atrás...
Gi não precisa falar nada, seu olhar me fazia respirar fundo, me fazia procurar por ar, então foi o que fiz, respirei o mais fundo que consegui soltando o ar devagar, enquanto buscava no fundo da minha mente.
-O nome dela era Marianne. Para todos Mari. Mas para mim, Anne.
"Era uma amiga, na verdade ela era mais do que uma simples amiga, confiávamos muito uma na outra, confidentes, a conheci quando vim para cá. Ela era... simplesmente linda. Ruiva, sardas por todos os cantos, tinha olhos verdes e tantas sardas ao redor que parecia que seus olhos eram vermelhos, como se estivesse sempre chorando, mesmo quando seu sorriso era o mais amplo de todos .
Tínhamos inúmeras festas do pijama só nós duas, onde deitávamos na cama, abraçadas ouvindo música vendo o céu da janela do meu quarto. Ela era tudo o que eu queria quando me sentia triste, quando me sentia feliz, quando sozinha, escrevi inúmeras cartas para ela, e todas terminavam iguais, no fundo do lixo picotada em milhares de pedaços, não sabia porque elas começavam com Querida amiga... e terminava com um complexo, eu te amo, para toda vida.
Era confuso, era horrível, então ela disse que havia conhecido alguém e começou a passar muito tempo com ele, mas continuava as noites se deitando comigo, recebendo meu carinho, respirando em meu peito.
Até que ela não apareceu mais.
Foram inúmeras noites que esperei ela aparecer, mas ela não vinha.
Até que uma noite ela veio, e disse que conheceu uma nova amiga, mais velha, legal, descoladas.
Ela se deitou comigo, disse que essa garota era experiente e ela contou sobre ele, para a garota, que riu quando descobriu que ela não havia beijado ninguém e quando Anne disse que não saberia o que fazer, a garota lhe beijou, não apenas uma vez, mas varias, até que ela soubesse o que fazer.
Aquela noite eu mal dormi, mas quando acordei ela havia ido embora, no mesmo dia assinei para ir embora, fazer minha viagem missionária. E eu nunca mais a vi.
Senti tanto ciúmes quando Anne me contou, como ela pode fazer isso comigo? Porque minha Anne não veio a mim? Poderíamos aprender juntas..."
Senti os olhos amargos.
-Mas minha Anne nunca foi minha.
Ela não disse nada, apenas apertou minha mão delicada, mas firme. E sorriu, sorriu envergonhada, sorriu tranquila.
-Verdade ou desafio? Sua voz era suave.
-É a minha vez!
-Então escolho verdade.
-Me conte seu maior caso de amor com uma mulher.
Ela riu, tímida.
-Mas eu já lhe disse. Julia foi meu maior caso de amor, digno de um romance escrito por Nicholas Sparks ou John Green.
-Julia? Puxei toda história que ela havia contado. -Júlia em, Ju? A pessoa do fusca?
-Sim.
-Meu Deus! Eu... Eu achei que fosse um homem.
-Não.
-Você colocou o nome da sua filha em homenagem a ela?
-Sim.
-Uau.
-Eu sei.
Tudo fazia sentindo agora. E por algum motivo, quis ser a Ju. Ter tido um romance maravilhoso como aquele. Ter tido um romance tão perfeito tirado dos livros. Ter tido um romance com ela.
-Verdade ou desafio? Ela disse.
-Desafio. Ela piscou, não acreditando na minha escolha.
-Desafio você a entrar na hidromassagem. Comigo.
Ela se levantou, mudou a televisão para o canal de música e andou até a hidromassagem, me olhando por cima do ombro enquanto deixava o roupão deslizar por todo seu corpo, subiu os 3 degraus que levavam ao topo da hidromassagem e ligou a água quente, entrando logo em seguida.
Seu corpo era simplesmente...
Andei até ela, apenas a fraca luz da televisão vinda do quarto iluminava o recinto, olhei fundo em seus olhos, sentada com os cabelos e algumas bolhas restantes cobrindo-lhe os seios, sem tirar os olhos dos seus, deixei que o roupão caísse lentamente pelo meu corpo, agora nú, sentindo um calor vindo debaixo, sentindo um nó na garganta. Sentindo o maior desejo que já senti antes.
Fiquei parada, nua, esperando por algo.
A menos que você queira. Ela jamais faria o primeiro contato.
Entrei na hidromassagem, a água estava quente, sentei do outro lado dela, olhando em seus olhos, suas pernas esbarrando na minha. Seus pés subindo por dentro da minha coxa, fechei os olhos.
A menos que você queira.
E eu quero. Droga Gizelly. Eu quero.
-Verdade. Ou. Desafio.
As palavras mal saíram com minha respiração entrecortada, seus olhos não haviam perdido os meus, e quando ela falou as palavras que eu queria ouvir, baixo o suficiente para me fazer questionar se realmente ouvi, meu coração parou. Parou por mais tempo que deveria.
-Eu desafio você a me beijar. Sem pausa, sem tirar os olhos, sem respirar. Sem o coração bater.
Não ouve resposta, eu não fechei meus olhos em vergonha. E tudo parecia em câmera lenta.
A água se movimentando ao redor dela, enquanto se curvava para me alcançar, as mãos percorrendo minhas coxas, subindo na barriga, seios, pescoço pousando gentilmente no rosto, os olhos presos nos meus, me hipnotizando. Minha respiração ficou alta, e meu coração parado, agora latejava em todo meu corpo, Gi estava perto demais agora, conseguia ver cada poro de seu rosto perfeito. Seus lábios roçaram os meus, me fazendo tremer antes de eu fechar os olhos e sentir seu beijo penetrante.
Era como um dia perfeito, era como a sensação do sol na sua pele, era como... era como respirar pela primeira vez.
Era doce como gizelly.
Era Gizelly.
Esse tempo todo era Gizelly.

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One Day. (Girafa)
RomanceAo aceitar uma carona a pedido dos filhos, nenhuma das duas podem imaginar o que uma chuva pode mostrar; desejos; segredos; paixões que só podem ser vividas naquele quarto de motel, naquele único dia. Quando uma chuva encontra um furacão, é impos...