Seis meses.
Muita coisa havia acontecido nesse tempo separadas, em um mês tudo já havia voltado ao normal e não foi preciso uma pandemia para que o escândalo das duas saísse das mídias, bastou que um jogador de futebol batesse no namorado da mãe, para que então ele ocupasse o lugar. Gizelly passou um mês no hotel escondida, mas também não é como se fosse monótono ou que não tivesse o que fazer naquele quarto/apartamento, estava com sua filha e sua melhor amiga, sentia falta de Rafaella, mas estava fazendo de tudo para que esse tempo fosse menor do que elas haviam planejado.
Um ano seria tempo demais e agora pensando nisso, ambas percebiam que seria muito duro ficar sem a outra, ambas pensavam a mesma coisa Rafaella lá e Gizelly aqui, mas era difícil demais conversar por telefone depois de tudo aquilo e nenhuma das duas correu atrás para pegar o número uma da outra.
Rafaella estava focada em alfabetizar as crianças das quais cuidava em sua ONG, vez ou outra confessava para sua irmã o quanto sentia falta de sua vida, de sua família e principalmente de Gi.
Sua mãe voltará a falar com ela em poucas doses, sentiu-se culpada quando viu a filha ser atacada nas mídias e pior ainda quando viu que foi preciso ela sair do país para descansar. Mas toda ligação com sua mãe terminava em gritaria, a mãe ainda não aceitava o fim do casamento, "vocês conversam todos os dias, que diferença faz manter o casamento?" a mãe dizia, ao que Rafaella sempre com a resposta na língua "Eu não serei feliz" ou "João é apenas um amigo, com quem dividi a vida" ou as vezes ainda quando não tinha paciência de responder, apenas desligava o telefone ou passava para a irmã. Rafaella merecia ser feliz e reconstruir a sua vida como ela tanto queria.
Junior as vezes ia visitar a mãe e todas as vezes Rafaella perguntava sobre Julia, sobre Gizelly. Ele respondia vagamente, não poderia dizer tudo o que estava acontecendo, mas mães sempre sabem e Rafaella sentiu que seu filho sabia mais do que dizia e estava escondendo algo.
Ela estaria machucada? Com outra? Havia voltado com Ivo? Não queria mais saber dela e de toda dor que havia causado. Eram todas as coisas que Rafaella pensava quando Junior não dizia tudo o que sabia.
Rafaella sentia falta de Gizelly, como se fosse um pedaço de si, que tivesse arrancado para fora de seu corpo e todas as noites chorava imaginando-a ali. Todas as noites dormia pensando em como ela estaria. Seu nome sempre escapando dos seus lábios, nas noites de sonhos mais atormentados.
Ivo havia recebido um cachê que permitira pagar um hotel para dormir à noite, ao perceber que Gizelly havia trocado as fechaduras, recebera uma ligação de Kevin naquela noite, dizendo que haviam sacos de lixo com o nome dele no restaurante, assustado Ivo correu pra ver todo o conteúdo de sua vida revirado e jogado como lixo na entrada.
No primeiro mês, o restaurante fez sucesso devido a propaganda gratuita em canal aberto que Ivo fizera na noite em que mudará a vida de todos de vez, mas ao decorrer do tempo o movimento foi caindo, as pessoas já não estavam mais interessadas em ouvir a história do pobre marido traído.
Ivo não tinha salário, não tinha família não tinha para onde ir, dormia no escritório de Kevin e tomava banho na academia ao lado, dormia no chão abraçado com seu saco de roupas sujas.
No terceiro mês Ivo não aguentava mais, sua amizade com Kevin havia despencado e sentia-se explorado trabalhando sem ver um centavo! Sentia-se um lixo por toda a sua vida, trabalhava mais do que nunca, não tinha uma casa e não tinha dinheiro nenhum. Pegou um segundo emprego na academia ao lado, achando que isso traria um pouco de estabilidade, mas Ivo dormia apenas três horas por dia. Estava um caos.
Certo dia, andando na rua esbarrou com uma mulher e quando olhou direito viu ser Gizelly.
-Você. Ela dissera semicerrando os olhos.
-Gizelly! Ele disse contente, pediria perdão e voltaria para casa. -Gizelly é um sinal, estive pensando em você esse tempo todo.
-Eu também Ivo. Aposto que não a mesma coisa.
-Gi eu fui um idiota, babaca o pior dos crápulas.
-Ao menos em uma coisa você tem razão.
-Foi tudo no auge do momento e eu não pensei, não pensei em tudo o que passamos juntos... Em tudo o que você me ajudou e significou para mim... Gi me perdoa.
-Te perdoar? Ela riu dando espaço na rua para uma familia passar. -Você quer que eu te perdoe por ter destruido a minha vida, destruido a vida da Rafa, nossas familias... Ivo você acha que o que fez merece perdão?
-Eu já não falei que foi no calor do momento?
-Sim Ivo, mas seu calor do momento quase fez eu perder meu emprego, tive que sair da minha casa por um tempo, Rafaella perdeu os contratos, teve que sair do pais. Você sabia que Julia e o Junior foram atacados na faculdade? Você viu o quão o seu calor do momento destruiu nossas vidas? Para que? Por alguns trocados, por propaganda grátis do seu restaurante?
-Julia foi atacada?
-Sim.
-Meu deus me desculpe Gi.
-Não Ivo, eu sinto muito, mas não irei te desculpar e acredito que Julia também não, você destruiu nossa familia e qualquer carinho que eu tivesse por você. Eu sinto muito Ivo, mas não quero mais você na minha vida, nunca mais.
Dito isso Gizelly se pôs a andar, virou a esquina sentindo as mãos tremendo. Ela havia preparado tantos discursos para dizer a ele, alguns terminavam com um tapa bem dado no meio da cara, mas nenhum deles seria tão pior quanto o que o destino havia preparado, naquela noite, enquanto Gizelly jantava com Julia e Junior que agora passava algumas noites para jantar com elas. Ivo atravessava uma esquina correndo apressado para o trabalho. Estava atrasado.
Gizelly ria na sala da sua casa, Junior havia dito algo para Julia e Gi ria sem se segurar, não havia dito sobre o encontro com Ivo para ninguém.
Enquanto Gizelly ria, Ivo corria.
Enquanto Ivo corria, sem olhar para os lados antes de atravessar, Gizelly contava mais uma das suas enormes aventuras quando nova.
E enquanto todos se impressionavam com a coragem de Gizelly, um carro corria na escuridão vazia da rua.
Gizelly terminou sua história, e do outro lado da cidade, Ivo jazia no chão soltando os seus ultimos suspiros de vida.
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One Day. (Girafa)
RomanceAo aceitar uma carona a pedido dos filhos, nenhuma das duas podem imaginar o que uma chuva pode mostrar; desejos; segredos; paixões que só podem ser vividas naquele quarto de motel, naquele único dia. Quando uma chuva encontra um furacão, é impos...