Turbulência

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☁️☁️☁️

Theo deixou um suspiro trêmulo escapar. Suas pernas pareciam feitas de chumbo, incapazes de suportar o peso do próprio corpo. De modo que teve de se apoiar o no corrimão da escada para não cair. O enjoo em seu estômago parecia um redemoinho fazendo pressão para cima. Um buraco negro que o sugaria de dentro para fora.

Estava um pouco tonto e desesperado. A música alta bagunçava seus sentidos com as batidas incessantes e repetitivas. Ou talvez tenha sido a bebida que ingerira no gargalo, com o intuito de encontrar um pouquinho de coragem. Parecia lava nas suas entranhas. Quente e borbulhante.

O Raeken deveria ter imaginado. Não tinha sorte não tinha. Estava tudo indo muito bem para ser real: estava namorando oficialmente. Seu pai já não pegava tanto no seu pé por ter adiado a faculdade, após arrumar um emprego em uma sorveteria no centro. E seus sogros o adoravam.

Mas, claro, não podia esperar que tudo fosse as mil maravilhas e sua sorte durasse por tanto tempo. Tampouco se sentir tão bem e feliz. Era de se estranhar.

Deveria ter imaginado também que tentar resolver as coisas, no calor do momento, sozinho não daria muito certo.

Alguém esbarrou em seu ombro. Gritando, correndo os degraus abaixo e por pouco não o levando junto. O encontrão foi o suficiente para trazê-lo de volta a si.

Ele olhou em volta. Estava a dois degraus do segundo andar. O celular vibrou em seu bolso, pelo que pensou ser a quinta vez, e mais uma vez o ignorou. Tomou fôlego e apressou o passo escada acima. A casa de Tracy Stewart por vedes o confundia. Mas lera a mensagem vezes suficiente para saber onde deveria ir.

Terceira porta a direita. Terceira porta a direita. Ele ignorou as pessoas, contando.

Quando sua mão envolveu a maçaneta, o metal gelado lançou um arrepio sisudo braço acima. Theo sentia-se ligado no automático quando abriu a porta, entrou e fechou-a.

Tudo para vê-lo bem, tudo. Repetia mentalmente.

Theo espremeu os olhos. O quarto era mal iluminado por um abajur. Ele não ligou para o cômodo desarrumado. Viu-o ali, sentando em uma cadeira, de forma despreocupada. Quem tanto havia lhe aborrecido nas últimas semanas, o atormentado.

— Pensei que você não fosse vir.

Douglas Garrett se aprumou e levantou-se. Os dentes grandes e brancos arreganhados em satisfação. Os olhos fixos em Theo, olhando-o dos pés a cabeça, dissecando-o.

— Tenho escolha?

Theo rosnou. Os punhos cerrados. Encarando-o enraivecido. Jamais tinha sentido tanta raiva como sentia por aquele sorriso presunçoso e seu dono.

— Claro que tem. O mundo gira em torno das escolhas, não?! Agora se a escolha é boa ou ruim, só o tempo dirá. — o loiro falou calmamente. E como a voz de seda sobressaia o som da música prosseguiu: — mas sabe, por alguns segundos, antes de você entrar por essa porta, meu dedo estava tremendo tentadoramente sobre o botão “enviar”...

Douglas se levantou usando da mesma calma que abusava para falar. E se aproximou com alguns passos vacilantes. Theo desejou que ele não o fizesse, que não pudesse olhar aqueles olhos maliciosos tão de perto. Algo que tentava evitar até então.

Há quase um mês Garrett o Chantageava. Havia conseguido enrola-lo até então, ele demonstrou ser muito paciente, embora tivesse chegado ao limite. Ele já não queria mais o dinheiro, ou os sorvetes de graça e o seu desejo era uma incógnita.

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